Rafael Vera Cruz de Carvalho, Assistente editorial, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Bandeira e colegas, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, encontraram associação do uso de antidepressivo e a síndrome da fragilidade, especialmente nos componentes: velocidade da marcha, fadiga e perda de peso não intencional. Participaram da pesquisa 201 idosos cadastrados nas 12 unidades de Estratégia Saúde da Família da área urbana de um município da região Sul do Brasil. A contribuição deste trabalho é fazer esta análise de associação em uma amostra brasileira e utilizando todos os componentes da síndrome da fragilidade.
A síndrome da fragilidade é multidimensional, envolve fatores biopsicossociais, e se caracteriza por alterações nos sistemas muscoloesquelético, neuroendócrino e imunológico que refletem na perda de massa muscular, alteração de apetite e estado inflamatório crônico. Envolve cinco componentes: perda de peso não intencional, fadiga, diminuição da força de preensão manual, lentidão da marcha e baixo nível de atividade física. Dentre os riscos aumentados, está o de desenvolver sintomas indicativos de depressão e, por isso, antidepressivos são usados com frequência na população idosa (FRIED et al. 2001).
Os autores perceberam que os idosos do grupo de usuários de antidepressivos apresentaram duas vezes mais chance de ter fragilidade quando comparados aos não usuários. Além disso, observaram que o grupo que utilizava antidepressivos têm três vezes mais chance de perda de peso e duas vezes mais chance para a fadiga e para baixa velocidade de marcha, na comparação com os que não utilizavam esses medicamentos. Quanto ao tipo de antidepressivo, aqueles idosos faziam uso de antidepressivos tricíclicos, apresentam maior chance de fragilidade, comparados aos não usuários.
Os pesquisadores sugerem a avaliação da síndrome de fragilidade e o seu acompanhamento na prática clínica, principalmente quando houver uso de antidepressivos, para identificação de possíveis alterações e a realização de intervenções necessárias para a promoção do cuidado.
O segundo artigo destacado analisa as dimensões atribuídas por gestores e profissionais às Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI). Barcelos e demais autores da PUC Minas, UFMG e The College of New Jersey propõem que é necessário pensar em uma política de cuidados de longa duração que inclua a intersetorialidade, cofinanciamento, credibilidade pelo Estado, pela sociedade e pelos profissionais. Os autores ressaltam a importância de se considerar o direito básico à saúde, na equidade e integralidade dos idosos em instituições de longa permanência, assim como de refletir sobre como os idosos habitam esse espaço, para que seja um local de inclusão e resgate sociofamiliar.
Para estas reflexões, os pesquisadores realizaram um estudo qualitativo, na região metropolitana de Belo Horizonte, entrevistando 51 gestores públicos municipais e estaduais e 62 profissionais de 52 ILPIs. O objetivo foi conhecer a visão desses funcionários sobre a promoção de saúde do idosos institucionalizado e as ações desenvolvidas. Através da análise, estabeleceram as ideias centrais que emergiram nas entrevistas e buscaram apreender a prática relatada dos participantes da pesquisa. Encontraram três dimensões: 1) ILPI e a perpetuação do espaço asilar; 2) ILPI como espaço de tratamento; 3) Um domicílio: convergências e divergências na ILPI. A categoria 1 englobou as falas dos participantes no sentido do reconhecimento da ILPI como uma alternativa para o cuidado de longo prazo, permitindo reflexões sobre as práticas de cuidado, de significado do espaço, tanto pela legislação quanto pelos profissionais, familiares, idosos e a comunidade em geral. Na categoria 2, ficaram as menções sobre a hospitalização do cuidado. Para os participantes, as ILPIs são ligadas ao estabelecimento de saúde, apesar da proibição da PNI quanto à permanência de pessoas com doenças que necessitem de assistência médica ou de enfermagem em ILPI (CAMARANO; BARBOSA, 2016). Agrupados na categoria 3, estão os relatos com a visão de instituição como uma casa, onde são criados laços e vínculos entre residentes e profissionais. Os participantes do estudo fazem também crítica à rotina imposta pela instituição, que anula a individualidade do idoso na escolha de suas atividades diárias, mas há o esforço para a construção de um espaço semelhante a um lar.
Esperamos que a leitura destes e dos demais artigos do número 1 de 2018 seja muito proveitosa e suscite reflexões sobre a prática e o funcionamento das instituições de cuidado.
Referências
FRIED, L. et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol Ser A Biol Sci Med Sci., v. 46, n. 3, p. M146-156, 2001. ISSN:1079-5006 [reviewed 12 February 2018]. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11253156
CAMARANO, A. A., and BARBOSA, P. Instituições de longa permanência para idosos no Brasil: do que se está falando? In: ALCÂNTARA, A. O.; CAMARANO, A. A.; GIACOMIN, K. C. (Orgs.). Política nacional do idoso: velhas e novas questões. Rio de Janeiro: IPEA, 2016. p. 479-514.
Para ler o artigo, acesse
BANDEIRA, V. A. C., BERLEZI, E. M., GROSS, C. B. and COLET, C. F. Antidepressant use and the components of the frailty syndrome. Rev. bras. geriatr. gerontol. [online]. 2018, vol.21, n.1, pp.7-15. ISSN 1981-2256. [viewed 3 May 2018]. DOI: 10.1590/1981-22562018021.170141. Available from: http://ref.scielo.org/yq6jjs
BARCELOS, B. J. et al. Dimensions assigned to Long Term Care Facilities by managers and health professionals: interfaces and contradictions. Rev. bras. geriatr. gerontol. [online]. 2018, vol.21, n.1, pp.16-23. ISSN 1981-2256. [viewed 3 May 2018]. DOI: 10.1590/1981-22562018021.170082. Available from: http://ref.scielo.org/9wpg2d
Link externo
Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia – RBGG: www.scielo.br/rbgg
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