Margarida Oliveira, Doutoranda em Educação, Especialização Didática das Ciências do Instituto de Educação, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal
Pedro Reis, Professor, subdiretor do Instituto de Educação, Universidade de Lisboa, onde coordena o Programa de Doutoramento em Didática das Ciências, Lisboa, Portugal
Luís Tinoca, Professor do Instituto de Educação, Universidade de Lisboa, onde coordena o Programa de Doutoramento em Formação de Professores, Lisboa, Portugal
O artigo com o título “A influência do gênero nas salas de aulas de ciências: um estudo com docentes e estudantes de 9.º ano” (OLIVEIRA, REIS, TINOCA, 2018), publicado no periódico Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação (v. 26, n. 99), apresenta um estudo que pretende dar a conhecer, considerando o gênero, quais as estratégias de aprendizagem preferidas por estudantes e quais as estratégias de ensino desenvolvidas por docentes de ciências.
Embora moços e moças refiram gostar de se empenhar para ter o melhor trabalho, elas parecem preferir um ambiente de trabalho colaborativo, enquanto eles se aproximam da preferência por um ambiente mais competitivo. Simultaneamente, elas procuram, mais do que eles, corresponder ao que é esperado pelas(os) docentes em relação ao papel da(o) estudante. Estas diferenças poderão não resultar de diferenças biológicas entre os sexos, mas dos papéis tradicionais de gênero em que somos socializadas(os). No entanto, tendo em conta que as(os) docentes procuram promover, com frequência, o trabalho colaborativo e ser pouco frequente atribuírem recompensas pela conclusão de uma tarefa, poderemos encontrar uma vantagem para as moças já que elas manifestam preferência por um ambiente mais colaborativo e menos competitivo.
Contudo, os resultados sugerem que não existem muitas diferenças entre gêneros, não se podendo afirmar que as práticas docentes favorecem mais claramente um gênero do que o outro. Assim, na maioria das situações analisadas, registra-se um distanciamento entre as práticas docentes e as preferências manifestadas por moças e moços, aproximando-se as opções docentes de um ensino onde a(o) aluna(o) tem um papel mais passivo e as de estudantes de um ensino onde têm um papel mais ativo.
Tendo em conta os resultados, os autores concluem que se afigura fundamental olhar para as práticas docentes que, continuando distantes das práticas defendidas pela pesquisa em didática das ciências, poderão estar a interferir de forma negativa na aprendizagem, prejudicando quer moços quer moças, afastando-os de percursos nas ciências. Consideram que as(os) docentes são uma peça essencial para, com a sua ação, ajudar a promover, nas(os) estudantes, o interesse por um conteúdo ou o gosto pela aprendizagem em geral (Hidi; Renninger; Krapp, 2004). “As(Os) docentes são os primeiros agentes de mudança na escola, mas têm de contar não só com os condicionalismos exteriores que vão encontrando, mas também com a sua própria história como alunas(os), a maioria produto de um ensino transmissivo”. A sua história condiciona de forma poderosa a prática pedagógica, e esses modelos tornam-se mais significativos na planificação das suas lições do que os modelos das atuais teorias instrucionais (Windschitl, 2002).
Os dados do estudo foram recolhidos numa amostra de 523 estudantes, 289 alunas e 234 alunos, que frequentavam o 9.º ano de escolaridade, e 77 docentes de ciências que lecionavam o mesmo ano de escolaridade, 63 professoras e 14 professores. Para o efeito construíram-se dois questionários, um para docentes e outro para estudantes, com uma estrutura similar para que pudessem ser posteriormente analisados em conjunto.
O estudo apresentado integra uma investigação mais vasta realizada no âmbito de um Doutorado em Educação (da autoria da primeira autora deste artigo), integrado no Programa Doutoral em Didática das Ciências do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, onde se pretende construir conhecimento sobre os estereótipos que docentes e estudantes possuem acerca da influência do gênero na aprendizagem das ciências e sobre o eventual impacto que estes podem ter, para ambos os gêneros, no processo de ensino, no processo de aprendizagem, e na opção por carreiras científicas.
Referências
HIDI, S., RENNINGER, K. and KRAPP, A. Interest, a motivational variable that combines affective and cognitive functioning. In: DAY, D.; STERNBERG, R. (Eds.). Motivation, emotion, and cognition: Integrative perspectives on intellectual functioning and development. New Jersey, Lawrence Erlbaum Associates Inc. Publishers, 2004.
Windschitl, M. Framing constructivism in practice as the negotiation of dilemmas: An analysis of the conceptual, pedagogical, cultural, and political challenges facing teachers. Review of Educational Research, v. 72, n. 2, p. 131-175, 2002. eISSN: 1935-1046 [viewed 15 June 2018]. Available from: http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.3102/00346543072002131?journalCode=rera
Para ler o artigo, acesse
OLIVEIRA, M., REIS, P, and TINOCA, L. A influência do género nas salas de aulas de ciências: um estudo com docentes e estudantes de 9º ano. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. [online]. 2018, vol.26, n.99, pp.257-277. ISSN 0104-4036. [viewed 20 August 2018]. DOI: 10.1590/s0104-40362017002500969. Available from: http://ref.scielo.org/6d9gmq
Link externo
Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação – ENSAIO: www.scielo.br/ensaio
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