Letramento no currículo de educação infantil de seis países: ler, compreender e produzir textos desde cedo

Artur Gomes de Morais. Professor Titular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, Pernambuco, Brasil.

Alexsandro da Silva. Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Caruaru, Pernambuco, Brasil.

O artigo Leitura, compreensão e produção de textos na Educação Infantil: o que prescrevem os currículos de seis países?, publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (vol. 103, no 264), apresenta uma pesquisa, de natureza documental, sobre o que os currículos de seis países (Brasil, Portugal, Canadá – Quebec, França, México e Espanha) de línguas românicas (português, francês e espanhol) prescrevem, atualmente, sobre o ensino de leitura, compreensão e produção de textos escritos durante a etapa de educação infantil.

Os autores do artigo evidenciam que, já há quatro décadas, quando o termo “letramento” e o seu conceito ainda não estavam em voga, descobríamos que a participação das crianças em situações nas quais compartilhavam com adultos a leitura e a escrita de textos que circulam socialmente contribuía para a imersão delas no mundo da cultura escrita, antes mesmo de saberem ler e escrever convencionalmente (SCOLLON; SCOLLON, 1981; HEATH, 1982; WELLS, 1986; REGO, 1985; MAYRINK-SABINSON, 1998). Além disso, após situarem sua compreensão sobre currículos, examinam o que documentos brasileiros nacionais e locais, anteriores à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), instituíram para o tratamento das práticas letradas na etapa de educação infantil.

A partir da pesquisa documental e da análise de conteúdo, o artigo demonstra que os seis currículos examinados se comprometiam com a ampliação do letramento das crianças daquela etapa da educação básica, apesar das enormes diferenças que apresentavam quanto ao maior ou menor investimento que faziam nessa direção. O que os currículos analisados propunham, então, em termos de situações de leitura, compreensão e produção de textos?

Duas crianças sentadas em frente a uma mesa com livros cobrindo parte do nariz e da boca

Imagem: Shutterstock.

De modo geral, além da participação em situações como a escuta da leitura de textos (literários ou não) feita pela docente da turma e o manuseio de diferentes gêneros e suportes textuais, os autores perceberam também que aqueles currículos tendiam a assumir que as crianças menores de seis anos são capazes de produzir textos, seja tendo a professora como escriba, seja por meio da escrita espontânea. Não havia, porém, nos currículos, um investimento na exploração de estratégias de compreensão leitora e de produção de textos.

O artigo discute, por fim, as convergências e as singularidades dos currículos investigados e aponta que, no contexto brasileiro, a instituição da “Política Nacional de Alfabetização” (PNA) pelo Ministério da Educação (MEC), em 2019, representa um retrocesso ante as descobertas que têm sido incorporadas pelo campo educacional quanto ao tratamento da língua escrita na primeira etapa da educação básica. Nessa linha, as reflexões propostas pelos autores contribuem para o debate sobre os direitos de aprendizagem das crianças menores de seis anos, sobretudo aquelas das camadas populares, no que se refere à ampliação de seus conhecimentos e experiências letrados.

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

DE MORAIS, A.G. and DA SILVA, A. Letramento no currículo de educação infantil de seis países: ler, compreender e produzir textos desde cedo [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2022 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2022/12/01/letramento-no-curriculo-de-educacao-infantil-de-seis-paises-ler-compreender-e-produzir-textos-desde-cedo/

 

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