Daniel Leal, jornalista e doutorando em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brasil.
Cecília Almeida Rodrigues Lima, professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brasil.
Brasileiros e brasileiras estão acostumados a receber notícias sobre futebol diariamente. A cada quatro anos, o tempo dedicado ao tema se intensifica: os olhares do mercado e dos principais veículos de comunicação se voltam para a Copa do Mundo. No entanto, todo o frisson midiático em torno do mundial de futebol masculino no país não é acompanhado pelo seu equivalente feminino. Ainda que a seleção canarinha tenha contado com grandes talentos, como Marta e Cristiane, faz pouco tempo que o futebol de mulheres passou a ter mais valor na grande mídia nacional: em 2019, a Copa do Mundo de Futebol Feminino foi transmitida pela primeira vez na Rede Globo, sendo um importante marco de visibilidade.
No entanto, antes de receber a atenção da maior emissora do país, o futebol de mulheres já contava com uma audiência engajada na construção de um mercado para a modalidade. Este é o caso do Dibradoras, um portal essencialmente feminista na propagação do futebol de mulheres, que foi analisado no artigo “Dibrando” a mídia hegemônica: a imprensa alternativa na propagação do futebol de mulheres, publicado na Revista Brasileira de Ciências da Comunicação (vol. 45).
Escrito pelos pesquisadores Lima, Januário e Leal (2022), integrantes do Observatório de Mídia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o estudo foca na cobertura da Copa do Mundo Feminina realizada pelo Dibradoras, em 2019. Além do crescimento de 533% no número de notícias em relação à competição de 2015 (JANUÁRIO; LIMA; LEAL, 2020), é possível observar como uma mídia alternativa especializada na temática se articula com as mídias hegemônicas e agrega novos produtos, novas formas de produção e consumo de conteúdo que podem auxiliar na mercantilização do futebol de mulheres. Independente, o Dibradoras foi um dos pioneiros a trazer informação de um universo que, para os meios de comunicação tradicionais e parte da audiência, “ninguém queria saber”.
Para chegar a essas conclusões, foram analisadas 696 postagens do perfil do Dibradoras no Twitter, entre 7 de junho e 7 de julho de 2019 – o que permitiu visualizar o fenômeno a partir de mulheres que desempenham um duplo papel. Ou seja, de um lado torcedoras e fanáticas por futebol, de outro comunicadoras que buscam construir seu público. Neste mesmo período, foram publicados 48 textos sobre a Copa no site, sendo frequente a presença de reportagens que alertam para as assimetrias de gênero, como a escassez de mulheres nas comissões técnicas e a disparidade salarial entre homens e mulheres no futebol.
No Twitter, além da divulgação desses textos, foram observadas outras estratégias que evidenciam o viés ativista do projeto: a torcida pela seleção brasileira foi efusiva; as iniciativas de fortalecimento do futebol de mulheres foram valorizadas; os posicionamentos de jogadoras sobre questões de gênero foram destacados; a cobertura da mídia internacional foi avaliada de forma vigilante.
Ainda que, no dia 23 de junho de 2019, tenha ocorrido a derrota da Seleção Brasileira para a França, é preciso comemorar o fato de que este jogo foi assistido por 35 milhões de brasileiros divididos entre a Globo, a Band e o SporTV (BARRETO JANUÁRIO, LIMA, LEAL, 2020). Portanto, não resta dúvida que o Mundial de 2019 foi responsável por recordes de audiência no país e no mundo.
Mas, nas lentes de uma mídia alternativa e ativista, comprometida com a cobertura da modalidade mesmo fora do calendário das grandes competições, o debate manteve a visibilidade e ganhou profundidade a partir da perspectiva de gênero, denunciando assimetrias e abrindo portas para um tratamento diferenciado da grande imprensa. A partir dessas perspectivas, é importante lembrar que, em 2023, teremos novos caminhos para o futebol de mulheres percorrer, bem como a necessidade de novos estudos que registrem e analisem se esta tendência se consolidará.
Referencias
JANUÁRIO, S.B., LIMA, C.A.R. and LEAL, D. Futebol de mulheres na agenda da mídia: uma análise temática da cobertura da Copa do Mundo de 2019 em sites jornalísticos brasileiros. Observatorio (OBS*) [online]. 2020, vol. 14, no. 4, pp. 42-62 [viewed 16 December 2022]. https://doi.org/10.15847/obsOBS14420201590. Available from: https://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/1590
Para ler o artigo, acesse
LIMA, C.A.R, JANUÁRIO, S.B. and LEAL, D.F.O. “Dibrando” a mídia hegemônica: a imprensa alternativa na propagação do futebol de mulheres. Intercom, Rev. Bras. Ciênc. Comun. [online]. 2022, vol. 45, e2022116 [viewed 15 December 2022]. https://doi.org/10.1590/1809-58442022116pt. Available from: https://www.scielo.br/j/interc/a/gjdwvr4tjnsM6F85p8SMk3k/
Links externos
Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação – INTERC: https://www.scielo.br/interc
Observatório de Mídia – Gênero, Democracia e Direitos Humanos (OBMÍDIA): https://www.obmidia.org
Dibradoras: www.dibradoras.com.br
Dibradoras – Twitter: https://twitter.com/dibradoras
Daniel Leal: www.twitter.com/lealdaniel
Cecília Almeida: www.twitter.com/pinotando
Intercom – Facebook: https://www.facebook.com/revistaintercom
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários