Um memorial para Brumadinho

Jimena Felipe Beltrão, jornalista, editora do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, PA, Brasil.

Logo. Texto em vermelho e fundo branco: Boletim Museu Paranaense Emílio Goeldi Ciências HumanasEm 25 de janeiro completam-se quatro anos desde que a cidade de Brumadinho foi vítima do rompimento da barragem da companhia Vale S.A. Em artigo intitulado De Minas às ruínas: o refazer da memória e da paisagem no pós-desastre de Brumadinho, os pesquisadores Leonardo Dupin e Edilson Pereira, analisam o contexto da construção do “Memorial Brumadinho” e discutem as variáveis relativas à “memória pública que está sendo proposta em meio à catástrofe e como ela se conecta à paisagem e aos patrimônios locais”.

Um “composto de dejetos resultantes da extração de minério de ferro, que eram estocados na barragem” soterrou parte do município e destrui o rio Paraopeba, matando 272 pessoas e deixando 4 desaparecidos, além de deixar muita dor e danos materiais e imateriais, que catástrofes dessa natureza impõem num rastro de destruição indelével. O desastre, por muito considerado crime, tem caráter socioambiental e consequências contínuas, sentidas ainda hoje na região.

Composição. Foto de uma estátua apontando para o céu. Um pouco atrás, o telhado de uma casa e, ao fundo, colinas cobertas por vegetação. Na parte de baixo da imagem, um quadro com os textos: "ARTIGO", "De Minas às ruínas: o refazer da memória e da paisagem no pós-desastre de Brumadinho", o mesmo texto em inglês, "Leonardo Vilaça Dupin | Edilson Pereira", "Formato Bilíngue - Inglês e Português". Canto inferior direito, logo do Boletim Museu Paranaense Emílio Goeldi Ciências Humanas e logo do Museu Goeldi.

Imagem: Sandoval de Souza, 2020.

Figura 1. Desastres ambientais nos caminhos da histórica Minas Gerais.

A proposta dos autores do artigo publicado, em versão bilíngue, na mais recente edição do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas é identificar quais são as especificidades do reconhecimento desse ”sítio de memória sensível”, ora em construção, onde o sofrimento é a tônica da narrativa atual. De acordo com eles, “a região onde será construído o memorial é historicamente conhecida pela sua longa trajetória de atividade mineira” cuja “memória em torno da atividade sendo patrimonializada no início do século XX e valorizada desde então”.

No contraponto que indicam, os autores, eles levam em consideração “questões levantadas por outros pesquisadores do tema. Dupin e Pereira (2022) buscam “analisar como as mineradoras também intervêm na paisagem, por meio da instituição de marcos visando (re)orientar a memória coletiva local”. Segundo eles, “trata-se de uma política institucional de reparação, que encontra pontos de resistência, sendo absorvida pelas populações vinculadas em um espaço cultural, em que pesa a existência de afetos e éticas que transcendem o planejamento das mineradoras, gerando novos sentidos para a vida e para a morte”.

Um conjunto de forças se articula à volta de ações de reparação e de construção memórias. Assim, movimentos sociais e populares também se apresentam para “narrar uma longa e complexa história que interliga de modo vital seus integrantes, de ontem e de hoje”. E os autores concluem que, para efetivar bases materiais de reparação e evitar novas tragédias, é necessário “lutar por uma política de reparação que inscreva sua própria memória”.

Um outro artigo de Silva e Faulhaber, que data de 2020 – Bento Rodrigues e a memória que a lama não apagou: o despertar para o patrimônio na (re)construção da identidade no contexto pós-desastre, e publicado no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, trata dos “usos e as apropriações do patrimônio pelas comunidades atingidas” pelo desastre da Samarco, em 2015, no município de Mariana, também em Minas Gerais.

Referências

SILVA, A.F. and FAULHABER, P. Bento Rodrigues e a memória que a lama não apagou: o despertar para o patrimônio na (re)construção da identidade no contexto pós-desastre. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum. [online]. 2020, vol. 15, no. 1, e20200126 [viewed 24 January 2023]. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2019-0126. Available from: https://www.scielo.br/j/bgoeldi/a/gDHGy3dDQz7qfFfLxgZbNSP/

Para ler o artigo, acesse

DUPIN, L.V. and PEREIRA, E. De Minas às ruínas: o refazer da memória e da paisagem no pós-desastre de Brumadinho. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum. [online]. 2022, vol. 17, no. 3, e20210104 [viewed 24 January 2023]. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2021-0104. Available from: https://www.scielo.br/j/bgoeldi/a/zzyPqnfjyYvKSdnZx6C3YCK/

Links externos

Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas – BGOELDI: https://www.scielo.br/j/bgoeldi/

Ver a edição completa em: https://www.scielo.br/j/bgoeldi/i/2022.v17n3/

O PDF completo pode ser obtido em http://editora.museu-goeldi.br/humanas/

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

BELTRÃO, J.F. Um memorial para Brumadinho [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/01/24/um-memorial-para-brumadinho/

 

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