Redirecionar a educação para a esfera existencial pode ser a chave para a verdadeira democracia

Rosa Emilia Moraes, jornalista científica da Linceu Editorial, São José dos Campos, SP, Brasil.

Logo do periódico Educação & Sociedade

A alteridade é a condição de reconhecimento do que se distingue de nós mesmos; é o ato de perceber as diferenças entre as várias subjetividades e culturas, e ser capaz de exercer a empatia, colocando-se lado a lado com a multiplicidade de vivências humanas para enxergar a comunidade deste universo.

Nesse sentido, o trabalho do filósofo e economista indiano Amartya Sen (2011) aproxima-se deste conceito de alteridade ao defender a fundamentação plural como princípio basilar da democracia, já que esta engloba, além de suas instituições específicas, um espaço de argumentação pública e um pressuposto de transparência que permite a expressão e o conhecimento das diferentes vozes que compõem a sociedade.

No entanto, o que se observa no mundo atual é uma crescente instrumentalização do ser humano, o qual acaba por direcionar seus propósitos pessoais na busca de eficiência e capacidades produtivas, a fim de obter melhores posições no contexto econômico. Tal determinação muitas vezes resulta em um comportamento autointeressado, levando ao afastamento da busca pelas virtudes éticas e morais.

No artigo Educação Democrática e Alteridade: Respostas Política e Ética à Metafísica da Economia, publicado no periódico Educação & Sociedade (vol. 45, 2024), o professor Maurício João Farinon, da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), apresenta o resultado de uma pesquisa bibliográfica baseada na obra de Amartya Sen. O artigo está vinculado ao projeto de pesquisa intitulado “Educação, Justiça e Desenvolvimento Humano: a Democracia em Crítica e em Perspectiva”.

O objetivo do estudo é defender a educação como condição política e ética necessária para o enfrentamento do capitalismo predatório e da chamada “metafísica da economia”, os quais tendem a comprometer o sentido de desenvolvimento proposto por Amartya Sen no conjunto de sua obra. O capitalismo predatório e a metafísica da economia tendem, também, a destituir a educação de suas bases éticas fundamentais aos processos formativos com vistas ao desenvolvimento humano.

Neste trabalho, o autor aponta como a atual sobreposição dos valores econômicos e de mercado aos aspectos éticos na construção das relações sociais tem afetado o cultivo da razão humanista, obstando o exercício de uma democracia verdadeira.

Considerando a educação como parte do conceito de liberdade instrumental proposto pela matriz teórica seniana, o artigo propõe que a reação adequada a essa questão pode estar nas ações pedagógicas desenvolvidas nas escolas e universidades, uma vez que, mediante os processos formativos e de ensino e aprendizagem, tais instituições desempenham importante papel na arquitetura social promotora do desenvolvimento humano.

Esse estudo aponta a urgente necessidade de um redirecionamento da educação para a esfera existencial, sem comercializar as relações nem se voltar ao paternalismo, no sentido de proporcionar aos estudantes uma formação mais humanizada. Essa abordagem permite que eles estejam abertos a conhecer diferentes culturas e a estabelecer contato com outros modelos de vivência, desenvolvendo a empatia. Além disso, encoraja-os a ampliar os diálogos sociais, de modo a tornarem-se mais aptos a fazerem suas próprias escolhas, em vez de tender a seguir um modelo social imposto (Sen; Kliksberg, 2010).

Referências

SEN, A. and KLIKSBERG, B. As pessoas em primeiro lugar: a ética do desenvolvimento e os problemas do mundo globalizado. Tradução de Bernardo Ajzemberg e Carlos Eduardo Lins da Silva. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

SEN, A. A ideia de justiça. Tradução de Denise Bottman e Ricardo Doninelli Mendes. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

Para ler o artigo, acesse

FARINON, M.J. Educação democrática e alteridade: respostas política e ética à metafísica da economia. Educação & Sociedade [online]. 2024, vol. 45, e272354 [viewed 25 April 2024]. https://doi.org/10.1590/ES.272354. Available from: https://www.scielo.br/j/es/a/jyQLYXpZhSznfw8Hg9Kb97D/ 

Links externos

Educação & Sociedade – ES: www.scielo.br/es

Educação & Sociedade – Redes sociais: Facebook | Twitter | LinkedIn | Instagram

Edição completa da Educação & Sociedade (vol. 45, 2024): https://www.scielo.br/j/es/i/2024.v45/

Universidade do Oeste de Santa Catarina – Site: https://www.unoesc.edu.br/ 

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MORAES, R.E. Redirecionar a educação para a esfera existencial pode ser a chave para a verdadeira democracia [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/04/25/redirecionar-a-educacao-para-a-esfera-existencial/

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Post Navigation