Antonio Jorge Gonçalves Soares, Professor, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Kalyla Maroun, Professora, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
David Gonçalves Soares, Professor, Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil.
A participação da antropologia, e das ciências sociais como um todo, no universo escolar dos quilombos se daria por meio da tradução e da reapropriação de seus principais conceitos – cultura, etnicidade, etnogênese, identidade e territorialidade – pela pedagogia escolar.
É nesse sentido que o artigo Produção da diferença: Educação escolar quilombola e as ciências sociais, publicado no periódico Cadernos de Pesquisa (vol. 54, 2024), investiga como as políticas curriculares para a educação escolar quilombola estão ancoradas nas reflexões da antropologia brasileira.
Para isso, a análise chama a atenção primeiramente para o papel destacado do saber antropológico na produção das formulações públicas sobre os quilombolas, contribuindo para a instituição de seus direitos na Constituição Federal de 1988, e impactando as formulações das Diretrizes Nacionais Curriculares para a Educação Escolar Quilombola.
Amparados em um estudo de caso, destacam-se ainda os desafios estabelecidos para professores e profissionais escolares nesse processo de tradução de conceitos e imagens originados no campo antropológico quando confrontados às suas práticas no “chão da escola”.
No ano de 2017, os três pesquisadores, autores do artigo, partiram para uma pesquisa de campo junto à Escola Quilombola Dona Rosa Geralda, no Quilombo Caveira, em São Pedro da Aldeia, RJ, Brasil. Em 2019, acompanharam o primeiro curso de formação de professores de educação quilombola, realizado pela Secretaria de Educação do município.
Imagem: Arquivo Pessoal
No decorrer do curso, pelos conteúdos repassados aos docentes, foi possível perceber alguns direcionamentos no sentido da promoção da etnicidade e da construção da diferença comunitária a ser realizada pelo trabalho pedagógico da escola.
O ideal de escola ali desenhado a colocava como uma instância de mobilização étnica, de produção e reafirmação de sua identidade quilombola diferenciada. Na ausência de elementos culturais mais visíveis – como festas, danças e outras práticas –, os professores deveriam focar-se nos laços comunitários originados nas lutas pela terra que a comunidade enfrentou durante o século XX.
Etnicidade e territorialidade, diferença e luta pela terra, imbricados, tornaram-se conceitos centrais a serem reconstruídos pelo trabalho escolar, denotando como elementos do debate antropológico originados em outros contextos de produção do saber, são transformados, traduzidos ou recontextualizados (no sentido conferido por Basil Bernstein) em práticas pedagógicas, evidenciando a escola como espaço de construção de identidade e memória coletiva.
A análise apresenta um estudo de caso que, em suas particularidades, permite-nos verificar como a gramática antropológica influenciou e influencia a formulação de currículos, destacando, contudo, os desafios e as potencialidades dessa influência para a escola.
Para ler o artigo, acesse
SOARES, G.J.A., MAROUN, K. and SOARES, G.D. Produção da Diferença: Educação Escolar Quilombola e as Ciências Sociais. Cadernos de Pesquisa [online]. 2024, vol. 54, e11128, ISSN: 1980-5314 [viewed 10 March 2025]. https://doi.org/10.1590/1980531411128. Available fom: https://www.scielo.br/j/cp/a/ftbwjLrWGRpM3MS9d4ZThbQ
Referências
BERNSTEIN, B. A Estruturação do Discurso Pedagógico: Classe, Código, Controle. São Paulo: Vozes, 1996
SOARES, G.D., MAROUN, K. and SOARES, G.J.A. A construção social de uma escola quilombola: a experiência da Comunidade Caveira, RJ. Revista Brasileira de Educação [online]. 2022, vol. 27, e270011 [viewed 10 March 2025]. https://doi.org/10.1590/S1413-24782022270011. Available from: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/xtjRSWz5dKcRp8ZzFLc4k9B/
Links Externos
Cadernos de Pesquisa – Página Institucional
Posts relacionados:
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários