Guiando pequenas empresas de vestuário à implementação de circularidade em suas operações

Thomás Czrnhak, Pesquisador, Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS, Brasil. 

A pesquisa Uma análise compreensiva sobre moda circular em pequenas empresas publicada na Revista de Administração Contemporânea (vol. 29, no. 3, 2025) analisa como pequenas empresas de vestuário, radicadas em áreas de elevada concentração industrial do Rio Grande do Sul (RS). As análises ocorreram no segundo semestre de 2024, verificando múltiplos “erres” de circularidade nas firmas. Embora os casos demonstrem compromisso com a sustentabilidade, eles não operam de modo avançado em uma lógica circular, deixando lacunas importantes como logística reversa, design para desmontagem e zero waste. Isso evidenciou que nem tudo que é sustentável é, de fato, circular.

Esta pesquisa emergiu da convergência entre acadêmicos orientados pela necessidade de convergir a gestão com ambientalismo na segunda indústria mais poluente do planeta. No entanto, a literatura é de predominância europeia e asiática, as quais dispõem de ambientes empíricos e influências institucionais que frequentemente divergem da realidade brasileira, justificando uma investigação geograficamente restrita e regionalizada. Os casos foram estudados triangulando entrevistas com proprietários e funcionários, observação não participante e análise documental.

O tempo de atuação iluminou a importância do desenvolvimento e da maturação organizacional para progredir na circularidade dos empreendimentos. Enquanto todas as empresas reciclam ou descartam adequadamente seus resíduos têxteis, a organização mais experiente oferece reparos vitalícios, insumos majoritariamente reciclados, além de possuir protótipos zero waste e de upcycle. O caso mais novo demonstra ser o mais afetado por barreiras de custo e acesso a recursos e parceiros logísticos. Nenhum caso projeta logística reversa para peças usadas, ou faz designs capazes de serem desmontados para reaproveitamento.

Imagem: Acervo pessoal dos autores

As oportunidades aproveitadas e lacunadas são organizadas em um esquema gráfico que ilumina, em uma lógica colaborativa, oportunidades de circularidade na produção, na logística e na adequação documental e legislativa. Pequenas firmas de moda podem se apropriar de elementos deste guia para implementarem paulatinamente a circularidade em seu modelo de negócio.

Ademais, o estudo se junta ao restrito grupo daqueles que analisaram a circularidade em organizações de vestuário no Brasil, oferecendo novos insights qualitativos. A convergência entre ciência e mercado aduz que a moda circular exige investimento em gestão, conhecimento ad hoc, inovação e colaborações com clientes — omissos nos casos — e fornecedores com objetivos congruentes.

O artigo demonstra criticamente o empecilho da falta de conhecimento sobre logística reversa, múltiplas barreiras e a ausência de inovações tecnológicas produtivas e gerenciais. Novas pesquisas nacionais podem se apropriar desses elementos, aprofundando-os individualmente, compreendendo fatores de maior impacto e estratégias de remediação. Estudos comparativos com países divergentes poderão indicar se o problema é geográfico ou generalizado em firmas de moda que, alinhando colaboração e bom desempenho organizacional em prol da circularidade, poderão enfrentar os cenários ambientalmente adversos, sendo parte da solução, e não do problema.

Para ler o artigo, acesse

CZRNHAK, T., SCHREIBER, D., and MAZZOTTI, K.G. Uma Análise Compreensiva sobre Moda Circular em Pequenas Empresas. Revista de Administração Contemporânea [online]. 2025, vol. 29, no. 3, e240239, [viewed 2 October 2025]. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2025240239.en. Available from: https://www.scielo.br/j/rac/a/SzyGSzKMN7VXjWNWjshz6Rr/

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