Anna Thallita de Araujo, Psicologia: Ciência e Profissão, Estagiária, Thayse Dantas, Analista técnica e Lislly Telles de Barros, Gerente II, Gerência Técnica do Conselho Federal de Psicologia, Brasília, DF, Brasil
Daniela Ribeiro Schneider, Ana Paula Dias Pereira, Joselaine Ida Cruz, Milene Strelow, Gail Chan, Anja Kurki e Zila M. Sanchez apresentam o relato de pesquisa “Evaluation of the implementation of a preventive program for children in Brazilian schools”, destacado no periódico Psicologia: Ciência e Profissão, edição 36.3 de 2016, do Conselho Federal de Psicologia. O estudo avalia a implementação de um jogo chamado GBG (Good Behavior Game), inserido como programa piloto em escolas públicas de Santa Catarina e São Paulo.
O GBG foi desenvolvido nos EUA, em 1967, por Muriel Saunders, Montrose Wolf e Harriet Barrish, com o objetivo de reduzir comportamentos disruptivos, de agressividade, timidez e isolamento em crianças (Barrish, Saunders & Wolf, 1969). O método auxilia na prevenção de riscos de futuros comportamentos antissociais, promove relacionamentos positivos ao utilizar atividades coletivas e colaborativas, promove a saúde mental, reforça os comportamentos apropriados em sala de aula e aborda fatores de risco, como o abuso de drogas (Kellam et al., 2014; Tingstrom, Sterling-Turner, & Wilczynski, 2006; Sloboda & Petras, 2014).
Em função dos resultados encontrados em outros países, a coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde, em parceria com a United Nations Office for Drugs and Crimes (UNODC), sugeriram que o GBG fosse testado e avaliado no Brasil. (Bayer et al., 2009; Kellam et al., 2011; Tingstrom, Sterling-Turner, & Wilczynski, 2006).
No ano de 2013, o programa foi implantado como projeto piloto em seis escolas públicas de São Paulo e de Santa Catarina, em 37 turmas, totalizando 736 alunos. No início, o American Institute for Research (AIR), fornecedor do GBG, preparou os técnicos brasileiros com suporte contínuo. Ao ser adaptado no Brasil, o GBG foi renomeado como “Jogo Elos”.
Com o uso dessa estratégia, que se apropria de mecanismos de reforço positivo e insere consequências caso alguma regra seja quebrada, houve aumento da sociabilidade, melhora nos relacionamentos e autorregulação de seus comportamentos. Para avaliação e acompanhamento da implantação, foram aplicados questionário sobre as rotinas da escola e sobre a experiência que os profissionais tiveram com o GBG, bem como entrevistas semiestruturadas. Participaram da coleta de dados 28 professores, 9 diretores e 6 técnicos. Tratou-se de um estudo quantitativo e qualitativo, para análise por meio da triangulação de dados.
Como pontos positivos, destacam-se: a fácil inclusão do GBG em sala de aula; comportamentos positivos dos alunos; melhora do trabalho em equipe, do autocontrole e inclusão, em especial nas equipes heterogêneas.
Por outro lado, houve questionamentos sobre a necessidade de uma adaptação à realidade cultural dos estudantes brasileiros; de reformulação das regras, com mudança nos folhetos dos estudantes e sugestões de recompensas a serem incluídas no manual do professor. Outro ponto negativo tratou do excesso de documentos a serem preenchidos, a falta de tempo dos profissionais para se dedicar na implementação e compartilhar com os colegas. Observou-se ainda que os ganhos em relação ao comportamento dos alunos não estavam sendo generalizados, ou seja, mantidos em outros períodos de aula ou em espaços extraclasse, e outros contextos pedagógicos.
Por fim, os autores concluem que GBG foi aceitável como programa piloto e que também foi considerado uma estratégia simples e eficaz para o manejo em sala de aula, com o efetivo impacto no comportamento dos alunos.
Referências
Barrish, H. H., Saunders, M., & Wolf, M. M. (1969). Good behavior game: effects of individual contingencies for group consequences on disruptive behavior in a classroom. Appl Behav Anal, 2(2), 119-124. Retrieved February 13, 2015, from www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1311049
Bayer, J., Hiscock, H., Scalzo, K., Mathers, M., McDonald, M., Morris, A., Birdseye, J., & Wake, M. (2009). Systematic review of preventive interventions for children’s mental health: what would work in Australian contexts? Aust N Z J Psychiatry, 43(8):695-710. doi: 10.1080/00048670903001893. Retrieved February 20, 2015, from http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19629791
Kellam, S. G., Mackenzie, A. C., Brown, C. H., Poduska, J. M., Wang, W., Petras, H., & Wilcox, H. C. (2011). The good behavior game and the future of prevention and treatment. Addict Sci Clin Pract, 6(1), 73-84. Retrieved February 13, 2015, from http://www.ascpjournal.org/content/6/1/73
Kellam, S. G., Wang, W., Mackenzie, A. C., Brown, C. H., Ompad, D. C., Or, F., & Windham, A. (2014). The impact of the Good Behavior Game, a universal classroom-based preventive intervention in first and second grades, on high-risk sexual behaviors and drug abuse and dependence disorders into young adulthood. Prevention Science, 15(1), 6-18. doi: 10,1007 / s11121-012-0296-z. Retrieved October 10, 2015, from http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23070695
Sloboda, Z., & Petras, H (2014). Defining Prevention Science. New York: Springer
Tingstrom, D. H., Sterling-Turner, H. E., & Wilczynski, S. M. (2006). The good behavior game: 1969-2002. Behav Modif (Vol. 30, pp. 225-253). Retrieved October 18, 2015, from http://bmo.sagepub.com/content/30/2/225.long
Para ler o artigo, acesse
CHNEIDER, D. R. Evaluation of the Implementation of a Preventive Program for Children in Brazilian Schools. Psicol. cienc. prof. [online]. 2016, vol.36, n.3, pp.508-519. [viewed 3rd November 2016]. ISSN 1414-9893. DOI: 10.1590/1982-3703000592016. Available from: http://ref.scielo.org/d8gy53
Link externo
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