Saúde mental da população geral e dos profissionais da saúde durante a pandemia de COVID-19

Beatriz Schmidt, Professora no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, RS, Brasil.

Maria Aparecida Crepaldi, Professora no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

Lucas Neiva-Silva, Professor no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, RS, Brasil.

Seis meses após o novo coronavírus ter sido identificado na China, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar a América do Sul e, especificamente, o Brasil, o novo epicentro da pandemia. A COVID-19 é a maior emergência de saúde pública que a comunidade internacional enfrenta em décadas. Além das preocupações quanto à saúde física, traz também preocupações quanto ao sofrimento psicológico que pode ser experienciado pela população geral e pelos profissionais da saúde. Com o objetivo de sistematizar conhecimentos sobre implicações na saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realizaram uma revisão narrativa da literatura, modalidade que permite a sumarização de estudos baseados em diferentes abordagens metodológicas sobre uma mesma temática.

O artigo “Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19)”, publicado no periódico Estudos de Psicologia (Campinas, vol. 37), traz achados científicos ligados à saúde mental no contexto da COVID-19. Em particular, considera a experiência de outros países já atingidos pela pandemia, tais como China e Itália, discutindo possíveis aplicações dessas experiências no contexto nacional, dadas as especificidades da população brasileira. Os resultados revelaram que o medo de ser infectado por um vírus potencialmente fatal, de rápida disseminação, cujas origens, natureza e curso ainda são pouco conhecidos, afeta o bem-estar psicológico de muitas pessoas. Sintomas de depressão, ansiedade e estresse diante da pandemia têm sido identificados na população geral e, especialmente, nos profissionais da saúde.

Na população geral, a pandemia pode impactar a saúde mental e o bem-estar psicológico também devido a mudanças nas rotinas e nas relações familiares. Para mães, pais e demais cuidadores, o fato de estarem trabalhando remotamente ou mesmo impossibilitados de trabalhar, sem previsão sobre o tempo de duração dessa situação, tende a gerar estresse e medo, inclusive quanto às condições para a subsistência da família, reduzindo a capacidade de tolerância e aumentando o risco de violência contra crianças e adolescentes. Nota-se também o maior risco de violência contra mulheres nesse período, em que elas costumam ficar confinadas junto aos autores da violência e, muitas vezes, não conseguem denunciar as agressões sofridas.

A saúde mental e o bem-estar psicológico dos profissionais da saúde podem ser afetados pela exposição aos seguintes estressores: risco aumentado de ser infectado, adoecer e morrer; possibilidade de inadvertidamente infectar outras pessoas; sobrecarga e fadiga; exposição a mortes em larga escala; frustração por não conseguir salvar vidas, apesar dos esforços; ameaças e agressões propriamente ditas perpetradas por pessoas que buscam atendimento e não podem ser acolhidas pela limitação de recursos; e, sentimento de isolamento, pelo afastamento da família e amigos.

Intervenções psicológicas voltadas tanto à população geral quanto aos profissionais da saúde desempenham um papel central para lidar com as implicações na saúde mental em decorrência da pandemia de COVID-19. Visto que atualmente intervenções psicológicas face a face devem estar restritas ao mínimo possível, para prevenir a propagação do vírus, recomenda-se a realização de atendimentos remotos (ex., via internet ou telefone). Embora na vigência de pandemias a saúde física das pessoas e o combate ao agente patogênico consistam em focos primários de atenção de gestores e profissionais da saúde, as implicações sobre a saúde mental não podem ser negligenciadas ou subestimadas. Se isso ocorre, geram-se lacunas importantes no enfrentamento dos desdobramentos negativos associados à doença, o que não é desejável, sobretudo porque as implicações psicológicas podem ser mais duradouras e prevalentes que o próprio acometimento pela COVID-19, com ressonância em diferentes setores da sociedade.

A seguir, assista ao vídeo com comentários da professora Beatriz Schmidt sobre esse estudo:

Para ler o artigo, acesse

SCHMIDT, B., et al. Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2020, vol. 37, e200063. ISSN: 1982-0275 [viewed 16 june 2020]. DOI: 10.1590/1982-0275202037e200063. Avaliable from: http://ref.scielo.org/mdtcqm

Link externo

Estudos de Psicologia (Campinas) – ESTPSI: www.scielo.br/estpsi

Sobre a autora

Beatriz Schmidt é professora nos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande. Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com doutorado sanduíche na Ohio State University – EUA. Recebeu o Prêmio CAPES de Tese, na área de Psicologia, e o Grande Prêmio CAPES de Tese, na área de Humanidades, em 2019. Psicóloga, Especialista em Saúde da Família e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina.
E-mail: beatriz@furg.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4017757404017421
………………………………ResearchGate: https://www.researchgate.net/profile/Beatriz_Schmidt2
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Como citar este post [ISO 690/2010]:

SCHMIDT, B.; CREPALDI, M. A. and NEIVA-SILVA, L. Saúde mental da população geral e dos profissionais da saúde durante a pandemia de COVID-19 [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/07/09/saude-mental-da-populacao-geral-e-dos-profissionais-da-saude-durante-a-pandemia-de-covid-19/

 

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