Machado de Assis como editor de suas obras

Tiago Seminatti, Assistente editorial da Machado de Assis em Linha – revista eletrônica de estudos machadianos, São Paulo, SP, Brasil.

No artigo “Machado de Assis editor e as suas Páginas recolhidas“, publicado no periódico Machado de Assis em Linha (vol. 13, no. 29), Thiago Mio Salla e Lara Cammarota Salgado, ambos pesquisadores da Universidade de São Paulo, traçam a história da primeira edição da miscelânea Páginas recolhidas (1899) e refletem acerca da “faceta” editorial de Machado de Assis. O estudo propõe que a atuação de Machado não se restringe à criação artística, pois revela “um desejo de participar de todas as etapas de produção de seus livros” (p. 16).

Thiago Salla e Lara Salgado partem da ideia de que a formação profissional de Machado em tipografias e casas impressoras, no início de sua carreira, propiciou que o escritor pensasse a edição de suas obras também do ponto de vista material. Isso porque, na correção de provas, o mesmo rigor que Machado apresentava em relação ao texto se manifestava em relação à composição tipográfica, ao papel empregado, à divisão de capítulos e à produção de paratextos. Impressiona, por exemplo, o detalhamento presente na análise que Machado faz, em carta ao editor Hippolyte Garnier, de elementos referentes ao aspecto material da segunda edição de Várias histórias (1895), o que lhe motiva a sugerir mudanças no volume.

Nesse sentido, por meio de uma seleção documental que trata do envolvimento de Machado na edição ou reedição de suas obras, os pesquisadores mostram que o escritor foi uma figura consciente não só da textualidade, mas também da materialidade de sua obra. Na reconstrução dos bastidores da primeira edição de Páginas recolhidas, eles revelam que a escolha dos textos que compõem a miscelânea coube ao próprio Machado e analisam alguns fatores que teriam influenciado na elaboração do livro: a política editorial de Garnier; a preocupação de Machado em adotar critérios e conferir unidade temática ao livro; o cansaço do autor em razão da idade; e seu possível desejo de ver publicada uma compilação de trabalhos seus em diferentes gêneros.

Amparados pela teoria de Chartier (2014) sobre a prática editorial, Salla e Salgado observam que Machado manifesta preocupações e realiza intervenções em Páginas recolhidas que não se restringem ao manuscrito submetido à editora, aproximando-o da figura do editor. Assim, a discussão proposta no estudo revela o acurado olhar editorial de Machado de Assis, que mostrava ser um agente ativo também em relação aos elementos materiais e extratextuais de suas obras, apresentando preocupações de editor.

Referências

ASSIS, M. de. Páginas recolhidas. Rio de Janeiro: Garnier, 1899. Available from: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4785

CHARTIER, R. A mão do autor e a mente do editor. São Paulo: Editora da Unesp, 2014.

Para ler o artigo, acesse

SALLA, T. M. and SALGADO, L. C. Machado de Assis editor e as suas Páginas recolhidas. Machado Assis Linha [online]. 2020, vol. 13, no. 29, pp. 13-32, ISSN: 1983-6821 [viewed 29 June 2020]. DOI: 10.1590/1983-6821202013292. Available from: http://ref.scielo.org/bxwr2j

Links externos

Machado de Assis em Linha – MAEL: www.scielo.br/mael

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

SEMINATTI, T. Machado de Assis como editor de suas obras [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/08/04/machado-de-assis-como-editor-de-suas-obras/

 

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