Por Nelson Sanjad
O Brasil é um dos países com a maior diversidade de línguas do mundo. Mais de 120 línguas são ou foram faladas em território brasileiro, o que significa uma enorme diversidade étnica e social. Muitas dessas línguas foram extintas e outras contam com poucos falantes, razão pela qual os linguistas se impõem um grande desafio: documentar o maior número possível de línguas antes que elas desapareçam. Outro desafio é valorizá-las por meio de cartilhas, produtos audiovisuais e atividades educativas, como oficinas e exposições, para reavivar o interesse da comunidade em preservar a sua língua nativa.
Uma das redes de pesquisadores dedicados ao tema, que se reúne com frequência e desenvolve projetos em parceria, publicou recentemente o dossiê “Línguas Indígenas” no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. Organizado por Gessiane Picanço, Hein van der Voort e Marília Ferreira, o dossiê reúne oito artigos de 12 autores, filiados à Universidade de Brasília, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade de São Paulo e ao Museu Paraense Emílio Goeldi. Ao todo, são analisadas nove línguas (Arara, Wayoro, Asuriní do Xingu, Wayampí, Mundurukú, Aikanã, Gavião de Rondônia, Latundê, Tapirapé), em diferentes aspectos (morfológico, fonético e fonológico), além de serem apresentados dados comparativos de várias outras línguas.
O Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi é um dos poucos periódicos brasileiros especializados na publicação de artigos de linguística indígena. Esta subárea tem estreitas relações com a etnologia, a arqueologia e a história indígena, razão pela qual sempre esteve presente no escopo editorial do periódico. Desde que foi reformulado, em 2006, este é o terceiro dossiê publicado sobre o assunto, o que denota a vitalidade dos grupos de pesquisa envolvidos. Segundo Nelson Sanjad, editor científico, “do ponto de vista editorial, é sempre um desafio publicar trabalhos nessa área de conhecimento, por várias razões: a pequena comunidade de cientistas dedicados às línguas indígenas no Brasil, o que dificulta a seleção de bons avaliadores; o uso de duas fontes tipográficas, sendo a família Dejavu utilizada para grafar sinais diacríticos, palavras e expressões nas várias línguas indígenas; o uso de vários estilos e efeitos tipográficos em um mesmo texto, como negrito, itálico, versalete, subscrito e caixa alta; o uso especial da mancha gráfica, motivo pelo qual os artigos em linguística indígena são formatados em apenas uma coluna; e a enorme quantidade de detalhes a serem observados pelos autores, editores, revisores e designers envolvidos com a produção editorial”. Segundo Sanjad, essas condições são fundamentais para dar qualidade editorial e gráfica aos artigos, complementar ao processo de avaliação e aperfeiçoamento científico dos textos.
Para ler os artigos, acesse:
PICANCO, Gessiane e VAN DER VOORT, Hein. Línguas indígenas. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum. [online]. 2013, vol.8, n.2 [citado 2013-10-18], pp. 263-264 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-81222013000200002&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1981-8122. http://dx.doi.org/10.1590/S1981-81222013000200002.
ALVES, Ana Carolina Ferreira. Aspectos do sistema fonológico de Arara (Karib). Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum. [online]. 2013, vol.8, n.2 [citado 2013-10-18], pp. 265-277 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-81222013000200003&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1981-8122. http://dx.doi.org/10.1590/S1981-81222013000200003.
PICANCO, Gessiane; BARAUNA, Fabíola Azevedo e BRITO, Alessandra Janaú de. Similaridades fonéticas e fonológicas: exemplos de três línguas Tupí. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum. [online]. 2013, vol.8, n.2 [citado 2013-10-18], pp. 279-289 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-81222013000200004&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1981-8122. http://dx.doi.org/10.1590/S1981-81222013000200004.
TELLES, Stella. Traços laringais em Latundê (Nambikwára do Norte). Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum. [online]. 2013, vol.8, n.2 [citado 2013-10-18], pp. 291-306 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-81222013000200005&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1981-8122. http://dx.doi.org/10.1590/S1981-81222013000200005.
MEYER, Julien e MOORE, Denny. Arte verbal e música na língua Gavião de Rondônia: metodologia para estudar e documentar a fala tocada com instrumentos musicais. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum. [online]. 2013, vol.8, n.2 [citado 2013-10-18], pp. 307-324 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-81222013000200006&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1981-8122. http://dx.doi.org/10.1590/S1981-81222013000200006.
NOGUEIRA, Antonia Fernanda de Souza. Descrição e análise do prefixo {e-} intr da língua Wayoro (Ayuru, tronco Tupí). Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum. [online]. 2013, vol.8, n.2 [citado 2013-10-18], pp. 325-341 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-81222013000200007&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1981-8122. http://dx.doi.org/10.1590/S1981-81222013000200007.
PRACA, Walkíria Neiva. Aspectos da modalidade epistêmica em Tapirapé. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum. [online]. 2013, vol.8, n.2 [citado 2013-10-18], pp. 343-357 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-81222013000200008&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1981-8122. http://dx.doi.org/10.1590/S1981-81222013000200008.
VAN DER VOORT, Hein. Fala fictícia fossilizada: o tempo futuro em Aikanã. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum. [online]. 2013, vol.8, n.2 [citado 2013-10-18], pp. 359-377 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-81222013000200009&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1981-8122. http://dx.doi.org/10.1590/S1981-81222013000200009.
Link relacionado:
Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas: http://www.scielo.br/bgoeldi
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Que coisa bacana essa notícia. Realmente devemos reconhecer que os portugueses fizeram um trabalho impressionante na unificação das línguas. Mas isso nos custou o empobrecimento linguistico. Acho importante, sim, valorizar essas ricas heranças.