Revista de Administração de Empresas (RAE) discute visibilidade e qualidade no cenário internacional

Por Eduardo Diniz, Editor chefe da RAE, Revista de Administração de Empresas, São Paulo, SP, Brasil

Pre_Rel_RAE_Revista AdministraçãoEmpresas discute visibilidade qualidade cenário internacionalEntre os temas discutidos na IV Reunião Anual do SciELO, muito se debateu sobre como aumentar a visibilidade dos periódicos brasileiros. Alguns têm insistido que a solução é tornarmos nossos periódicos 100% anglófonos, abandonando de vez o português, língua praticamente ignorada no mundo científico. Segundo este raciocínio, ao publicarmos em inglês, aumentaríamos nossa visibilidade e passaríamos a ser mais lidos por pesquisadores de outras partes do planeta.

Sem entrar no mérito de uma série de questões complexas que envolvem o abandono de nossa língua pátria, custos, relevância local, etc., vale uma reflexão sobre o tipo de visibilidade que procuramos. O ranking SCImago de países nos permite fazer uma análise comparativa interessante. Embora seja uma informação dos artigos publicados na base Scopus, e não dos nossos periódicos nacionais, vale o raciocínio para discutir a visibilidade que queremos.

A comparação entre o que Brasil, Espanha, México e África do Sul publicaram entre 1996 e 2013 na área de Business, Management & Accounting é reveladora. Nesse período, o Brasil teve desempenho considerável, aumentando o número de artigos publicados em 442%, tendo evoluído mais do que Espanha (345%), México (291%) e África do Sul (144%). Por esses números, poderíamos dizer que a visibilidade dos pesquisadores brasileiros está num ritmo acelerado. Ainda que estejamos num patamar equivalente a apenas 60% do que a Espanha publicou, em 2013, publicamos 2,4 vezes mais do que o México e 4,3 vezes mais do que África do Sul em nossa área.

Entretanto, quando analisamos o índice de citações das publicações de cada país a situação é bem diferente. Se, em 1996, dividíamos com a Espanha a liderança de citações neste grupo (31% cada), bem acima de México e África do Sul (19% cada), em 2013, caímos para o quarto lugar com apenas 18% das citações, enquanto Espanha (35%), África do Sul (27%) e México (20%) passaram a nossa frente. Mais triste é saber que México e África do Sul, publicando menos artigos do que nós, conseguiram ser mais citados. Ou seja, enquanto a nossa presença (ou visibilidade) aumentou no cenário científico internacional, nossa relevância proporcional diminuiu no período.

Uma possível explicação para esse nosso baixo índice de citações comparativo diante desses países pode ser encontrada na evolução dos índices de colaboração internacional em nossos artigos. Em 1996, Brasil, Espanha e México estavam empatados, com 27% de seus artigos sendo fruto de colaboração internacional. A África do Sul, recém-saída do apartheid, tinha apenas 19% de artigos resultantes de colaboração internacional. Quase duas décadas depois, em 2013, Espanha e África do Sul possuíam 42% de seus artigos frutos de colaboração internacional, com o México logo atrás, totalizando 38%. E o Brasil estacionado: 28% de colaboração internacional.

A lição que esses números nos ensinam é que não basta ter visibilidade para ter sucesso no universo acadêmico. A busca por qualidade parece ter relação direta com a colaboração internacional. Visibilidade sem relevância não nos levará a lugar algum. Temos que investir em colaboração internacional para alcançarmos a visibilidade que importa.

Se traduzirmos esta análise para o mundo dos periódicos, o foco exclusivo na publicação em inglês pode não ser o alvo correto a ser perseguido. Seguindo esse caminho, podemos ter apenas brasileiros publicando em inglês para outros brasileiros lerem.

A língua deveria ser o meio, não o objetivo final, se quisermos visibilidade com qualidade. Entre as alternativas, poderemos trabalhar para construir parcerias internacionais consistentes, seja com chamadas de artigos coordenadas por editores convidados de outros países, seja na construção de comitês científicos realmente ativos e com membros atuantes de instituições estrangeiras. É bem provável que estes comitês e chamadas de artigos devam optar pelo inglês como língua de trabalho, mas isso é bem diferente do que acreditar na anglofonização dos periódicos nativos como solução para aumentar a visibilidade de nossas pesquisas.

Para ler o editorial, acesse:

DINIZ, E. Editorial. Rev. adm. empres. [online]. 2015, vol.55, n.1, pp. 03-03. [viewed March 9th 2015]. ISSN 0034-7590. DOI: 10.1590/S0034-759020150101. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75902015000100003&lng=en&nrm=iso

Links externos:

Revista de Administração de Empresas – http://www.scielo.br/rae/

SCImago Journal & Country Rank – http://www.scimagojr.com/countryrank.php/

[Revisado em 09/03/2015]

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

Revista de Administração de Empresas (RAE) discute visibilidade e qualidade no cenário internacional [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2015 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2015/02/03/revista-de-administracao-de-empresas-rae-discute-visibilidade-e-qualidade-no-cenario-internacional/

 

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