Roberto Leiser Baronas e Samuel Ponsoni, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP, Brasil
Tatiana Bubnova (Universidad Nacional Autônoma do México — UNAM), pesquisadora russa que vive no México desde 1972, retoma a obra de Bakhtin e de Benjamin, buscando encontrar insumos conceituais e empíricos que nos permitam corroborar concepções e/ou refutá-las, fornecendo trilhas iluminadas de sentidos com as quais podemos compreender nossas situações atuais.
Segundo ela, as “afinidades eletivas” entre Bakhtin e Benjamin não são dadas enquanto um a priori transparente. Elas existem, mas são da ordem das relações dialógicas visíveis diante de pesquisadores interessados, uma vez que as vidas de ambos tiveram destinos em certa medida análogos, mas sem verdadeiramente (co)incidirem. Há questões intelectuais de partida que se coadunam, ambientes e temas de interesses, além de fontes teóricas comuns — Marx, Goethe — que parcialmente se entrecruzam, porém, às vezes, são pouco compatíveis, e outras vezes, diametralmente opostas. Admitem-se, contudo, as semelhanças na recepção de suas ideias. A se ter como exemplo a América Latina, onde Bakhtin e Benjamin são grandes mananciais heurísticos e amiúde interpretados pelos sentidos do discurso político, fundamento para se refletir sobre acontecimentos históricos e fatos filosóficos, sociais e culturais de nossa contemporaneidade.
Na realidade, a pesquisadora busca analisar como o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe serviu de base comum para as iluminações particulares desses dois pensadores, feitas e interpretadas, evidentemente, com vozes, tons e afinações das quais se serviram cada qual a seu modo. Ao tomar Goethe como figura central de comparação entre Benjamin e Bakhtin, tem-se que pontos de vista de ambos os pensadores se conluiem num sentido eufórico, deixando de lado recortes culturais e teóricos da ordem de preconceitos e incompreensão, dadas muitas vezes pela lente ideológica.
Além disso, pela perspectiva do artigo, Bakhtin e Benjamin são vistos como “vasos comunicantes”, que irrigam epistemologicamente as mais diferentes pesquisas em humanidades na América-Latina, apesar das distintas concepções e abordagens sobre linguagem. Como se propõe à interpretação de correlações e diferenças entre esses pensadores, Bubnova chama-nos a atenção para a questão da concepção materialista de linguagem de Bakhtin, do signo enquanto arena de lutas, que se opõe frontalmente ao misticismo messiânico de Benjamin. E ainda aborda muitas outras questões importantes.
Enfim, Tatiana Bubnova, com seu trabalho, motiva-nos e interpela-nos a empreender a comparação entre esses dois intelectuais contemporâneos não somente para ressaltar aspectos convergentes e divergentes entre eles — sobretudo por meio da concepção de linguagem, temas e objetos de estudos e fontes de inspiração, cuja influência já é bastante presente nos centros de pesquisas e acadêmicos —, mas sim para evocar uma crítica bastante particular a uma parcela dessa mesma academia, a saber, a de que se deveria refletir o próprio papel da crítica acadêmica, que logo se apressa em destronar ou edulcorar pensadores sobre os quais ainda há muito que se desvendar. Ademais, retomando parte de uma das epígrafes (bakhtiniana) mobilizadas no artigo: “não existe nada morto: cada sentido terá sua festa de renovação”, é justamente a renovação do debate sobre o papel das nossas heranças intelectuais para a construção de uma América-Latina não só para os mesmos, mas também para os diferentes, que polifonicamente Bubnova nos conclama em seu heurístico artigo publicado no primeiro número de 2016 da Bakhtiniana.
Para ler o artigo, acesse
BUBNOVA, T. Bakhtin and Benjamin: On Goethe and Other Matters. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso[online]. 2016, vol.11, n.1, pp.145-172. [viewed 31th March 2016]. ISSN 2176-4573. DOI: 10.1590/2176-457324664. Available from: http://ref.scielo.org/8xshtm
Link externo
Bakhtiniana – BAK: www.scielo.br/bak
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