Alessandro Teixeira Rezende, Mestrando, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil
Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba divulgaram um estudo inédito avaliando os significados atribuídos pelos estudantes universitários as teorias da conspiração. A pesquisa intitulada “Teorias da conspiração: significados em contexto brasileiro” foi publicada no periódico Estudos de Psicologia (Campinas, v. 36), por meio de uma entrevista qualitativa, foi possível apresentar um enfoque diferenciado de trabalho, tendo como referencial teórico a psicologia.
Participaram do estudo 383 estudantes universitários de uma instituição pública da cidade de João Pessoa, sendo a maioria do sexo feminino (54,6%) e com uma média de idade de 21 anos. Estes indivíduos responderam a duas perguntas abertas (o que você entende por teorias da conspiração? O que lhe vem à cabeça quando você pensa em teorias da conspiração?).
A partir da análise qualitativa das respostas, um dos resultados destacados pelos pesquisadores foi o entendimento das teorias da conspiração como forma de explicar a realidade social. Neste estudo, a análise dos entrevistados reuniu palavras como “acontecer”, “pensar”, “conspirar” e “influenciar”, suscitando a ideia de que as teorias conspiratórias constituem recursos cognitivos que atendem à necessidade de se explicarem eventos complexos e perturbadores, como a disseminação de doenças contagiosas e a morte repentina de celebridades. Ademais, Van Prooijen, Krouwel e Pollet (2015) sugerem que as teorias da conspiração fazem parte de um sistema de crenças que permite aos indivíduos compreender fenômenos ocorridos na realidade social, e indicam o porquê de eventos significativos ou impactantes serem frequentemente acompanhados de explicações leigas e especulativas.
Outro resultado encontrado pelos autores foi a ideia de que as teorias da conspiração atuam como uma forma de contestação de fatos sociais. Nesse sentido, as teorias da conspiração são frequentemente endossadas e aceitas quando não há uma explicação definitiva para um evento, ou quando a versão oficial de um acontecimento não é considerada verídica. Na mesma linha de pensamento, é possível elencar que a aprovação de tais teorias como forma de contestação de fatos sociais faz com que os indivíduos criem argumentos divergentes da versão considerada “politicamente correta”.
De maneira geral, os resultados observados reforçam os obtidos em pesquisas internacionais realizadas na Psicologia. Essencialmente, sugerem que as teorias da conspiração podem ser compreendidas como tendo uma função explicativa e estando associadas a processos mentais que visam considerar o mundo como ordenado, compreensível e previsível. Portanto, tais teorias são concebidas como um conjunto de pressupostos para explicar a existência de um “inimigo” e evidenciam a necessidade intrínseca que os indivíduos têm de explicar eventos sociais complexos.
Em essência, os autores concluem que a necessidade de manter controle sobre o meio social pode explicar a razão de as teorias da conspiração ganharem impulso particularmente após eventos sociais impactantes, que provavelmente são experimentados como ameaças de controle por parte dos cidadãos (ataque terrorista, guerra, desastre natural). Nesse cenário, Sapountzis e Condor (2013) pontuam que a Psicologia tem como papel analítico enfatizar o motivo pelo qual as pessoas acreditam em certas ideias conspiratórias para explicar a realidade social, ao invés de classificar as teorias da conspiração como provavelmente “verdadeiras” ou “falsas”.
Referências
SAPOUNTZIS, A. and CONDOR, S. Conspiracy accounts as intergroup theories: Challenging dominant understandings of social power and political legitimacy. Political Psychology, v. 34, n. 5, p. 731-752, 2013. e-ISSN: 1467-9221 [viewed 30 April 2019]. DOI: 10.1111/pops.12015. Avaliable from: https://www.jstor.org/stable/43783733?seq=1#page_scan_tab_contents
VAN PROOIJEN, J. W., KROUWEL, A. P. M. and POLLET, T. V. Political extremism predicts belief in conspiracy theories. Social Psychological and Personality Science, v. 6, n. 5, p. 570-578, 2015. e-ISSN: 1948-5514 [viewed 30 April 2019]. DOI: 10.1177/1948550614567356. Avaliable from: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1948550614567356
Para ler o artigo, acesse
REZENDE, A. T. et al. Teorias da conspiração: significados em contexto brasileiro. Estud. psicol. (Campinas), v. 36, e180010, 2019. ISSN: 0103-166X [viewed 30 April 2019]. DOI: 10.1590/1982-0275201936e180010. Avaliable from: http://ref.scielo.org/rps376
Link externo
Estudos de Psicologia (Campinas) – ESTPSI: www.scielo.br/estpsi
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