A construção social do mercado da soja

Valdemar João Wesz Junior, Professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Foz do Iguaçu, PR, Brasil

Pesquisador da Universidade Federal da Integração Latino-Americana investigou o mercado da soja, em especial a relação entre produtor rural e empresa, de acordo com artigo “O mercado da soja no sudeste de Mato Grosso (Brasil): uma análise das relações entre produtores rurais e empresas a partir da sociologia econômica” publicado no periódico Dados (v. 62, n. 1), conclui que o preço e as condições do contrato são fatores importantes no momento de “fechar negócio”, mas o que efetivamente determina a escolha é um conjunto de outros elementos sociais.

No imaginário nacional, inflamado por propagandas recentes, a palavra “agronegócio” remete a grandes máquinas que avançam sobre lavouras planas e uniformes, em que as pessoas estão ausentes ou, quando há algum indivíduo, ele está só e em posse de um smartphone, tablet ou notebook. E quando se fala em mercados agrícolas, com destaque à soja, vem em mente a bolsas de valores e seus gráficos. É como se o “agronegócio” e seus mercados fossem desprovidos de convívio e relações sociais.

As próprias pesquisas sobre o mercado de commodities priorizam os temas administrativos, tecnológicos, comerciais e produtivos, que ao estarem focadas no âmbito técnico, gerencial e econômico deixam de perceber a presença de outros elementos que são centrais nesse mercado (FERNÁNDEZ, 2007; WESZ JUNIOR, 2014). O estudo desmistifica os pressupostos de que este mercado está calcado em espaços impessoais de troca e pautados exclusivamente em uma racionalidade econômica para obter lucratividade, em que os aspectos sociais, culturais, políticos e históricos são externalidades que não interferem na relação e não possuem poder explicativo.

Apesar da soja se caracterizar como uma atividade padronizada, com preço estabelecido internacionalmente, pautada em um comércio global, dominada por empresas transnacionais e com expressiva participação dos grandes proprietários rurais, isso não significa que esse mercado esteja imune à influência e interferência de outras questões (HEREDIA, PALMEIRA; LEITE, 2010). Ao contrário. O fato de ser uma commodity, ter um preço padronizado, não apresentar muita diferenciação nos produtos e predominar firmas com estratégias muito semelhantes potencializa o uso de outros aspectos que fogem a uma relação moderada exclusivamente por arranjos institucionais formais (jurídicos e econômicos).

Apesar do preço do produto, das condições de pagamento, dos prazos, etc. serem fatores condicionantes da transação mercantil, na maioria das situações eles não são os elementos determinantes dessas relações, que perpassa o histórico de relacionamento, confiança, amizade, vínculos familiares, reciprocidade, valores morais e reputações. Segundo entrevistas com produtores rurais e empresas, é unânime que “não se negocia com quem não se conhece”. E entre os motivos da escolha de com quem “fazer negócio” aparecem diferentes variáveis: “faz muitos anos que já briquiemo”, “no Sul eu já vendia minha safra para eles e continuamo negociando aqui”, “o gerente é boa gente”, “eles sempre foram honestos comigo”, “o atendimento é bom”, “eles me ajudaram quando eu precisava”, “nós somos amigos, não posso deixar de comprar os insumos dele”, “meu sobrinho trabalha lá” etc.

Em suma, o artigo evidencia que as negociações entre produtores e empresas no mercado da soja estão alicerçadas em um processo de interação socialmente construído, que envolve a intermediação de mercadorias, mas extrapola os meios propriamente econômicos. Por trás das planícies de soja existe um conjunto amplo, diverso e complexo de atores e relações que fazem esse mercado funcionar.

Os resultados apresentados baseiam-se no caso do mercado da soja no Sudeste Mato-Grossense (Brasil), valendo-se da sociologia econômica como principal abordagem teórico-metodológica e de conjunto de técnicas de pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa, com destaque aos trabalhos de campo.

Referências

FERNÁNDEZ, A. J. C. Do Cerrado à Amazônia: as estruturas sociais da economia da soja em Mato Grosso. 254 f. 2007. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Rural) — Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.

HEREDIA, B., PALMEIRA, M. and LEITE, S. P. Sociedade e Economia do “Agronegócio” no Brasil. Rev. bras. Ci. Soc., v. 25, n. 74 p. 159-176, 2010. ISSN: 0102-6909 [viewed 7 June 2019]. DOI: 10.1590/S0102-69092010000300010. Available from: http://ref.scielo.org/r2cm5q

WESZ JR., V. J. O mercado da soja e as relações de troca entre produtores rurais e empresas no sudeste de Mato Grosso (Brasil). 220 f. 2014. Tese (Doutorado em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade) — Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

Para ler o artigo, acesse

WESZ JUNIOR, V. J. O Mercado da Soja no Sudeste de Mato Grosso (Brasil): uma Análise das Relações entre Produtores Rurais e Empresas a partir da Sociologia Econômica. Dados, v. 62, n. 1, e20160004, 2019. ISSN: 0011-5258 [viewed 5 June 2019].  DOI: 10.1590/001152582019170. Available from: http://ref.scielo.org/wsdt7f

Link externo

Dados – Revista de Ciências Sociais – DADOS: www.scielo.br/dados

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

WESZ JUNIOR, V. J. A construção social do mercado da soja [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/07/19/a-construcao-social-do-mercado-da-soja/

 

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