Suzane Carvalho da Vitória Barros, Doutora em Psicologia, Universidade Salgado de Oliveira (Universo), Niterói, RJ, Brasil.
Luciana Mourão, Doutora em Psicologia, Universidade Salgado de Oliveira (Universo), Niterói, RJ, Brasil.
A ciência brasileira ainda mantém os traços de sexismo que marcou o início de sua história? O artigo “Gênero e ciência: uma análise na Pós-Graduação brasileira”, publicado no periódico Estudos de Psicologia (Campinas, vol. 37), busca responder a essa pergunta. O estudo compara a produção científica por gênero e a distribuição de mulheres e homens nas diferentes áreas da ciência e nos níveis de bolsa produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A pesquisa correspondente ao período de 2013 a 2016, e envolveu todos os docentes permanentes de programas de Pós-Graduação no Brasil, que são brasileiros e que se titularam nos últimos 30 anos. Assim, foram analisados 50.533 currículos, dos quais 57% são homens. O recorte de análise compreendeu os Colégios e as Grandes Áreas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), bem como a segmentação por Bolsa Produtividade em Pesquisa do CNPq.
Os resultados não evidenciaram diferenças significativas nas produções científicas de mulheres e homens ao considerarem as divisões por Colégios e Grandes Áreas. Entretanto, na divisão dos grupos entre os que são ou não contemplados pela bolsa produtividade, as diferenças tornaram-se mais evidentes, com os homens chegando a 63% dos bolsistas PQ. Além disso, a disparidade entre os sexos aumenta ao elevar o nível da bolsa, chegando a haver apenas 23% de mulheres no nível mais elevado da carreira (bolsista PQ 1A). Os resultados também mostraram predominância masculina nos Colégios Ciências da Vida (59%) e Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar (75%), bem como predomínio em todos os níveis de bolsa PQ nesses Colégios. Já no Colégio Humanidades, a distribuição de mulheres e homens mostrou-se mais equilibrada, com ligeira predominância feminina (51%) no total de pesquisadores, mas a sub-representatividade feminina na distribuição por níveis de bolsa se manteve, embora mais discreta.
As pesquisadoras concluem que os estereótipos de gênero podem explicar, em parte, o modo como mulheres e homens se distribuem nas diferentes áreas, especialmente sob dois aspectos. O primeiro em relação à menor identificação feminina com carreiras em que prevalece a crença de que o bom desempenho está associado a talentos inatos, frequentemente atribuídos aos homens (LESLIE et al., 2015). O segundo em relação à falta de modelos femininos nessas áreas para promover autoconfiança e interesse das mulheres.
Em relação às diferenças na distribuição de docentes mulheres e homens nos diferentes níveis da Bolsa Produtividade do CNPq, as autoras ressaltam que os resultados podem estar associados ao fato de haver maior número de docentes brasileiros do sexo masculino. Entretanto, sinalizam que, mesmo considerando tal diferença, a desproporção entre mulheres e homens sinaliza para outras causas, como o ingresso tardio das mulheres no mundo acadêmico já que são necessários, em média, três décadas para chegar ao topo da carreira de bolsista produtividade (PRADO; FLEITH, 2012). Por fim, as pesquisadoras consideram que elementos da vida pessoal e familiar (como casamento e a presença de filhos ou familiares idosos) podem influenciar a carreira das mulheres na ciência, uma vez que o período entre os 25 e 35 anos de idade é crucial, tanto para a decisão sobre a maternidade, quanto para a consolidação e o estabelecimento de boa reputação na área em que atua (WARRIOR, 1997).
A seguir assista ao vídeo de Suzane Carvalho da Vitória Barros para saber mais sobre este estudo.
Referências
LESLIE, S.-J., et al. Expectations of brilliance underlie gender distributions across academic disciplines. Science [online]. 2015, vol. 387, no. 6219, pp. 262-265, ISSN: 1095-9203. [viewed 8 April 2020]. DOI: DOI: 10.1126/science.1261375. Avaliable from: https://science.sciencemag.org/content/347/6219/262.abstract
PRADO, R. M.; FLEITH, D. S. Pesquisadoras brasileiras: conciliando talento, ciência e família. Arq. bras. psicol. [online]. 2012, vol. 64, no. 2, pp. 19-34, ISSN: 1809-5267[viewed 8 April 2020]. Avaliable from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672012000200003&lng=pt&nrm=iso
WARRIOR, J. Cracking it: helping women to succeed in science, engeneering and technology. Waltford: Training Publications, 1997.
Para ler o artigo, acesse
BARROS, S. C. da V. and MOURAO, L. Gender and science: An analysis of brazilian postgraduation. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2020, vol. 37, e180108, ISSN 0103-166X [viewed 28 April 2020]. DOI: 10.1590/1982-0275202037e180108. Available from: http://ref.scielo.org/464sng
Links externos
Estudos de Psicologia (Campinas) – ESTPSI: www.scielo.br/estpsi
http://v3.universo.edu.br/mestrados/psicologia/corpo_docente.asp
Sobre as autoras
Suzane Carvalho da Vitória Barros, psicóloga, analista em Ciência e Tecnologia do Instituto Nacional de Câncer (INCA), doutora em Psicologia Social pela Universidade Salgado de Oliveira (2018). Investiga, principalmente, a temática do Desenvolvimento Profissional com especial atenção às questões ligadas aos papeis sociais e estereótipos de gênero.
E-mail: suzanecarv@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8545590053201096
Luciana Mourão, comunicóloga e administradora, docente, doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília (2004), pós-doutorado pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL, 2013), bolsista produtividade do CNPq e Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. Atua principalmente na área de desenvolvimento profissional e avaliação de programas sociais.
E-mail:mourao.luciana@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2558400549506524
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