O que as crianças têm a dizer à antropologia?

Cristiane Miglioranza, jornalista, assistente editorial de Horizontes Antropológicos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.

O artigo de abertura de nosso número 60A antropologia e as crianças: da consolidação de um campo de estudos aos seus desdobramentos contemporâneos”, apresenta reflexões e proposições sobre a configuração contemporânea de um campo alimentado não só por temáticas múltiplas, mas também com contribuições de diferentes disciplinas. Para as organizadoras Clarice Cohn (UFSCar), Fernanda Bittencourt Ribeiro (PUCRS), Fernanda Cruz Rifiotis (UFRGS) e Patrice Schuch (UFRGS) ainda se faz necessário ampliar interlocuções e entrecruzamentos. “Necessitamos ganhar maior abrangência tanto no debate antropológico quanto na intervenção e na atuação pública. As pesquisas com e sobre crianças têm podido revelar o que nem sempre é visibilizado pelos demais estudos”, apontam (RIFIOTIS et al., 2021, p. 9).

A proposta de criação de uma antropologia da criança surgiu de modo explícito apenas em 1973, a partir da publicação do artigo “Can there be na Anthropology of Children?” (HARDMAN [1973], 2001). “A partir desse momento, somaram-se ao interesse científico pela infância questões de ordem política em âmbito nacional e internacional, de maneira que começa a proliferar o aparecimento de diferentes organizações não governamentais e movimentos sociais voltados à proteção da infância. No Brasil, ainda que a consolidação desse campo tenha se dado mais recentemente, as crianças estiveram presentes, mesmo que de forma espectral, nos estudos sobre organização social e parentesco, família, rituais, etc. Aqui, a exploração do trabalho infantil e o aumento da chamada “delinquência infantil” não só mobilizaram as atenções como também acabaram por transformar as “questões da infância pobre em problema da alçada jurídica”, explicam. Elas destacam que, entretanto, será somente no decorrer dos anos 1990 que a nascente Antropologia da Criança assistirá a emergência de um novo paradigma. “É importante ressaltar o fato de a infância ser entendida como construção social, não sendo, portanto, uma característica natural nem universal, como variável de análise social, assim como as crianças são merecedoras de estudos em si mesmas e devem ser vistas como ativas na construção da sua própria vida social”, acrescentam.

Capa de HA60: arte sobre desenho de aldeia vista a partir da perspectiva das crianças Xikrin do Bacajá. Acervo de Clarice Cohn.

Os artigos que compõem o número 60, Antropologia da Criança, reforçam a potência deste campo de estudos para o debate antropológico, a intervenção e a atuação pública. “A diversidade das temáticas abordadas nos textos permite problematizar as diferentes concepções de “infâncias” e “crianças”, além de contribuir para uma inovação teórica, conceitual e metodológica da própria antropologia. Este número nos inspira a pensar nas contribuições não para o “ser” da antropologia, ou seja, para os contornos e o que constituiu e constitui a “substância” da antropologia, mas para o seu “vir a ser”, para o que pode a antropologia, a sua potência transformadora (DE OLIVEIRA, 2018; MONTERO, 2004)”.

Referências

COHN, C. Concepções de infância e infâncias: um estado da arte da Antropologia da Criança no Brasil. Civitas [online]. 2013, vol.13, no.02 [viewed 19 August 2021]. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2013.2.15478. Available from: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/civitas/article/view/15478

DE OLIVEIRA, R. C. O que é isso que chamamos de Antropologia brasileira? Anuário Antropológico [online]. 2018, vol.10, no.01, p.227-246 [viewed 19 August 2021]. Available from: https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6365

HARDMAN, C. Can there be an anthropology of children? Journal of the Anthropological Society of Oxford [online]. 1973, vol.04, no.02, pp.85-99 [viewed 19 August 2021]. https://doi.org/10.1177%2F0907568201008004006. Available from: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0907568201008004006

MONTERO, P. Antropologia no Brasil: tendências e debates. In: TRAJANO FILHO, W. and RIBEIRO, G. L. O Campo da Antropologia no Brasil. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / Associação Brasileira de Antropologia, 2004.

Para ler o artigo, acesse

RIFIOTIS, F. C., et al. A antropologia e as crianças: da consolidação de um campo de estudos aos seus desdobramentos contemporâneos. Horizontes Antropológicos [online]. 2021, vol.27, no.60, pp.7-30. https://doi.org/10.1590/S0104-71832021000200001. Available from: http://ref.scielo.org/w3rdmj

Links Externos

Clarice Cohn: http://lattes.cnpq.br/1714080901123094

Fernanda Bittencourt Ribeiro: http://lattes.cnpq.br/3196024835975835

Fernanda Cruz Rifiotis: http://lattes.cnpq.br/4787773002683297

Patrice Schuch: http://lattes.cnpq.br/1747539632586169

Horizontes Antropológicos – HA: https://www.scielo.br/ha/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MIGLIORANZA, C. O que as crianças têm a dizer à antropologia? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/08/26/o-que-as-criancas-tem-a-dizer-a-antropologia/

 

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