A Revista Almanack no Bicentenário das independências: Brasil e América Ibérica

Cláudia Chaves, Editora-chefe da Revista Almanack, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, Brasil.

Logo especial do periódico Almanack em homenagem ao bicentenário da independência A Revista Almanack, que completou 10 anos no ano passado, é um periódico dedicado a publicar artigos relacionadas às múltiplas problemáticas da História da formação do Estado Nacional entre os séculos XVIII e XIX, particularmente no Brasil e na América Ibérica. Neste sentido, as independências políticas são consideradas os marcos fundadores para a constituição dos Estados nacionais e também de suas nacionalidades. Desta forma, neste ano de 2022, quando o Brasil comemora seus duzentos anos de Independência, nos pareceu uma excelente oportunidade para apresentarmos na Semana Especial do Blog de Humanidades SciELO nossa produção em torno desta temática.

Desde 2019, temos nos preparado para o bicentenário através de múltiplas atividades: publicação de artigos livres e em dossiês, fóruns e lives para as quais criamos nosso próprio Selo “Almanack no Bicentenários – 200 anos”.

Não apenas abordamos o processo de independência do Brasil, mas também dos diversos processos ocorridos nos países vizinhos e que também estão comemorando seus bicentenários nesta década como Equador, México, Peru, Bolívia e Uruguai.

Comemorar, na verdade, não é o verbo mais adequado, mas, sim, refletir, analisar e esquadrinhar nosso passado para que possamos em nosso presente ressignificar nossos projetos de futuro. Neste sentido, a Revista lançou em 2019 o Fórum: Às vésperas dos 200 anos da Independência do Brasil, o quê e como discutir? O tom provocativo de nossa chamada para os participantes tinha exatamente a dimensão da difícil tarefa: não apenas refletir sobre o passado, mas lançar luzes no presente sobre os usos políticos daquele passado em nosso presente. Entendemos que as efemérides trazem consigo um terreno fértil nos estudos sobre o passado. Elas nos conectam com as memórias e as suas reiterações em nosso cotidiano. O resultado do debate foi publicado em formato de artigos em nosso no. 25 em 2020.

No mesmo ano demos início ao Fórum Independências, Guerras e Geografias do Estado na América. Este Fórum se estendeu até o final de 2021 e também resultou na publicação de textos em nossa seção especial de Fóruns que saiu no último número de agosto, no. 31/2022. Como o próprio título sugere, as independências ibero-americanas estiveram em pauta e este foi um debate aberto para pesquisadores de diversas universidades brasileiras e ibero-americanas para discutir a temática das independências e seus desdobramentos na América Ibérica. O fecundo debate e os textos dele derivados aparecerão ao longo desta Semana Especial e, particularmente, no texto de encerramento de nossa vice-editora, Valentina Ayrolo.

Além dos fóruns e artigos, a Almanack também se dedicou a apresentação de lives e à divulgação científica em uma parceria com a Sociedade Brasileira de Estudos do Oitocentos (SEO) e com a Associação Nacional de História (ANPUH). Assim como diversos periódicos, a Almanack não se compreende apenas como um repositório de artigos acadêmicos, mas como espaço promotor e incentivador de debates e estudos. Este é o princípio norteador de nossos fóruns. Também compreendemos a necessidade de ampliar o diálogo com a comunidade e produzir material de divulgação científica.

Os canais de acesso facilitados com as redes sociais nos têm conectado com um público amplo que, por sua vez, tem demonstrado uma forte demanda por conteúdos de História. Em nossa área a chamada História Pública é aquela que define as práticas e metodologias que os historiadores empregam fora do mundo acadêmico e aquela que propicia aberturas epistemológicas e interações entre historiadores e seus públicos múltiplos e diversos ávidos por conhecimento e pela prática de se fazer história.

Assim, compreendemos que momentos como o que estamos vivendo, em que disputas no campo epistemológico e da necessária conexão dos historiadores entre os mais distintos públicos estão no centro dos debates sobre o bicentenário e as independências do Brasil. Neste ano de 2022, consideramos necessária a discussão sobre o marco fundador do Estado brasileiro, dos Estados latino-americanos, de seus territórios e de suas nacionalidades a partir das independências.

O debate público e urgente sobre os caminhos da independência correlacionada à violência, à guerra, à escravidão e à cidadania estão na pauta do dia. Afinal de contas, tudo isso nos diz muito sobre as atuais democracias e instituições americanas.

Como dissemos acima lançamos nosso Selo do Bicentenário e temos atuado em duas frentes neste campo da História pública: a primeira é realização de uma série de lives com a participação de pesquisadores que estudaram distintas abordagens sobre o período da Independência do Brasil. Elas são abertas ao público em geral e há um espaço para que o público faça perguntas e interaja com nossos convidados. A segunda frente que mencionamos acima é fruto de uma parceria com a Sociedade Brasileira de Estudos do Oitocentos  e com a Associação Nacional de História , na qual são produzidos pequenos textos de divulgação científica para o blog Brasil: Bicentenários das independências, de acesso aberto para o público em geral.

Por fim, convidamos à leitura de nosso último editorial no número 31 (Com os ossos e o coração: comemorando as independências?), escrito por Lúcia Maria Bastos Pereira das neves.

O ato de comemoração propicia o aprofundamento sobre o conhecimento sobre a separação do Brasil da metrópole lusitana? Acreditamos que sim. Acabamos por retomar muitas questões com as quais os contemporâneos se debruçaram como, por exemplo, como o sete de setembro era celebrado? Foi uma data marcante dentro daquele contexto? Descobrimos que não foi bem assim. Quais são os lugares de memória que podem ativar nossa reflexão sobre o passado? Certamente não serão os cortejos fúnebres de ossos e coração do imperador D. Pedro I. Em uma análise crítica ao culto dos chamados “grandes homens” ou “heróis” apostamos em uma História viva e pulsante em uma nação por se construir.

Referências

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Fórum Independências, Guerras e Geografias do Estado na América. Seção temática da Almanack (vol. 31, 2022).

NICOLAZZI, F. Os historiadores e seus públicos: regimes historiográficos, recepção da história e história pública. História Hoje [online]. 2019, vol. 8, no. 15, pp. 203-222 [viewed 12 September 2022]. https://doi.org/10.20949/rhhj.v8i15.525. Available from: https://rhhj.anpuh.org/RHHJ/article/view/525

NEVES, L.M.B.P. Com os ossos e o coração: comemorando as independências? Almanack, Guarulhos, no. 31, 2022.

Para ler os artigos da seção temática da Almanack (vol. 25, 2020), acesse

NEVES, L.M.B.P. Os esquecidos no processo de Independência: uma história a se fazer. Almanack [online]. 2020, vol. 25, ef00220 [viewed 12 September 2022]. https://doi.org/10.1590/2236-463325ef00220. Available from: https://www.scielo.br/j/alm/a/4Y94RFYh6GcsssPXZjfRZpQ/?lang=pt

OLIVEIRA, C.H.S. Independência e revolução: temas da política, da história e da cultura visual. Almanack [online], 2020, vol. 25, ef00320 [viewed 12 September 2022]. https://doi.org/10.1590/2236-463325ef00320. Available from: https://www.scielo.br/j/alm/a/shBXtWJTjtXdhfdfFB6qKrP/?lang=pt

TURIN, R. Os Tempos da independência: entre a história disciplinar e a história como serviço. Almanack [online]. 2020, vol. 25, ef00320 [viewed 12 September 2022]. https://doi.org/10.1590/2236-463325ef00120. Available from: https://www.scielo.br/j/alm/a/h65DrB8zdnc8YVnYggR8gLq/?lang=pt

Para ler os artigos da seção temática da Almanack (vol. 31, 2022), acesse

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GUTIÉRREZ, R.M. La cultura de guerra das independencias iberoamericanas. Perspectivas y posibilidades de estudio a partir del caso mexicano.Almanack [online]. 2022, vol.31, ef00922 [viewed 12 September 2022]. http://doi.org/10.1590/2236-463331ef00522. Available from: https://www.scielo.br/j/alm/a/qnmPT3xRWbDYWFsyXRNBdfB/?lang=es

MACHADO, A.R.A. Um acordo impossível. O papel das guerras na independência e na definição do Estado no Império do Brasil (1822-1825). Almanack [online]. 2022, vol.31, ef00922 [viewed 12 September 2022]. http://doi.org/10.1590/2236-463331ef00722. Available from: https://www.scielo.br/j/alm/a/T4QXqcFwdbdkq65ZGLhxP9M/?lang=pt

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RABINOVICH, A.M. Los ejércitos libertadores de Sudamérica: teoría y práctica de la guerra revolucionaria. Almanack [online]. 2022, vol.31, ef00922 [viewed 12 September 2022]. http://doi.org/10.1590/2236-463331ef00322. Available from: https://www.scielo.br/j/alm/a/gYSVLXjQZt7wpC6YfCdr4NM/?lang=es

DE SOUZA, A.B Honrosos cidadãos ou vadios? Guerra, conflitos sociais e lutas por direitos nas fileiras militares – Rio de Janeiro, 1820-1831. Almanack [online]. 2022, vol.31, ef00922 [viewed 12 September 2022]. http://doi.org/10.1590/2236-463331ef00422. Available from: https://www.scielo.br/j/alm/a/WkgPS3vL547ygFTzgS5PqNC/?lang=pt

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CHAVES, C. A Revista Almanack no Bicentenário das independências: Brasil e América Ibérica [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2022 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2022/09/12/a-revista-almanack-no-bicentenario-das-independencias-brasil-e-america-iberica/

 

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