Em busca de um espaço para docências plurais, contextuais e inventivas na Educação Infantil

Rodrigo Saballa de Carvalho, Docente, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educação, Porto Alegre, RS, Brasil.

Bianca Salazar Guizzo, Docente, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educação, Porto Alegre, RS, Brasil.

Ariana Lazzari, Docente, Universidade de Bolonha, Departamento de Ciências da Educação, Bolonha, Itália.

Logo do periódico Caderno CEDESA docência na Educação Infantil se encontra historicamente em um campo de disputas. Há décadas existe a necessidade de se defender as especificidades da docência com crianças pequenas, bem como a formação qualificada e a garantia do direito ao atendimento e de condições adequadas para o exercício da docência nas instituições de Educação Infantil.

Em tal direção, considera-se as Diretrizes Curriculares de Educação Infantil (BRASIL, 2009), um marco importante na defesa de uma educação de qualidade, tendo em vista seus princípios éticos, políticos e estéticos. Contemporaneamente, a partir da homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017), a discursividade neoliberal em voga vem posicionando a docência na Educação Infantil em uma padronização (SILVA; CARVALHO, 2020) que se encontra alinhada a tal política curricular.

Na esteira da implantação da BNCC (BRASIL, 2017), tem-se observado a ascensão do “mercado pedagógico” de formação docente, a difusão de livros didáticos para o trabalho com crianças pequenas, a influência de redes empresariais nas discussões sobre a infância, assim como a colonização da docência na Educação Infantil a partir de uma perspectiva eurocêntrica (CARVALHO, et al, 2021). Desse modo, causa-nos estranhamento o fato de que as discussões sobre docência e currículo da Educação Infantil em nosso país, não privilegiem nenhuma interlocução com as pesquisas produzidas nos países da América Latina.

Foto de uma composição artística. Uma peça de tecido retangular pendurada com várias linhas coloridas penduradas, uma moldura e algo que parece um chapéu na parte de cima. No chão, mais linhas emaranhadas sobre uma espécie de tapete muito colorido com desenhos de flores.

Imagem: Arquivo pessoal de Rodrigo Saballa de Carvalho, 2019.

Por outro lado, em defesa de uma docência não liberal, pedagogicamente intencional, relacional, contextual, politicamente engajada e epistemologicamente situada (CARVALHO, 2021), apresentamos o número temático intitulado Docência na educação infantil: das políticas curriculares às práticas pedagógicas, publicado nos Cadernos Cedes (vol. 43, no. 119), com estudos de pesquisadores(as) nacionais e internacionais que tematizam modos de constituição da docência na Educação Infantil.

O conjunto de artigos dos pesquisadores brasileiros evidencia a potência das discussões emergentes de pesquisas que têm sido desenvolvidas no território nacional sobre difusão de livros didáticos para docentes de creche, docência e inclusão, formação continuada docente, à docência e a vida especializada dos bebês e crianças pequenas, a docência na Educação Infantil no Campo, assim como o papel dos auxiliares no contexto da docência com crianças de 0 a 5 anos e 11 meses de idade. Por outro lado, as contribuições dos pesquisadores estrangeiros versam sobre as relações entre docência e avaliação, formação, currículo e o trabalho com arte.

Em tal direção, desejamos que a leitura dos artigos que constituem o número temático inspire os(as) leitores(as) a discutir contextualmente as demandas da docência na Educação Infantil em nosso país. Enquanto organizadores do número temático, defendemos que é possível criarmos espaços para o exercício de docências, plurais, contextuais e inventivas na Educação Infantil, desde que enfrentemos o desafio de considerarmos que “a docência não é da ordem do domínio [de um conjunto de prescrições a serem seguidas] e sim da relação, da escuta, [da formação qualificada] e [da] interlocução que se estabelece com as crianças” e adultos (CARVALHO, 2021, p. 89) nas instituições.

A seguir, ouça o podcast de Rodrigo Saballa de Carvalho trazendo outras perspectivas sobre os desafios no trabalho docente na educação infantil.

Referências

CARVALHO, R.S. O infraordinário na educação infantil. In: SANTIAGO, F. and MOURA, T.A. (orgs.) Infâncias e docências: Descobertas e desafios de tornar-se professora e professor. São Carlos: Pedro & João Editores, 2021.

CARVALHO, R. S., LOPES, A.O. and BERNARDO, G.A.V. Educação Infantil pós-BNCC e a produção do neossujeito docente em documentos curriculares municipais. Debates em Educação [online]. 2021, vol. 13, pp. 33-57 [viewed 6 March 2023]. https://doi.org/10.28998/2175-6600.2021v13n33p33-57. Available from: https://www.seer.ufal.br/index.php/debateseducacao/article/view/12639

SILVA, M.O. and CARVALHO, R.S. Concepções sobre currículo na Educação Infantil: ressonâncias da Pedagogia da Infância em narrativas de professoras. Currículo sem Fronteiras [online]. 2020, vol. 20, no. 2, pp. 497-514 [viewed 6 March 2023]. https://doi.org/10.35786/1645-1384.v20.n2.08. Available from: http://curriculosemfronteiras.org/vol20iss2articles/silva-carvalho.html

Links externos

Cadernos CEDES – CCEDES: http://www.scielo.br/ccedes/

Para ler a edição temática, acesse: https://www.scielo.br/j/ccedes/i/2023.v43n119/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

CARVALHO, R.S., GUIZZO, B.S. and LAZZARI, A. Em busca de um espaço para docências plurais, contextuais e inventivas na Educação Infantil [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/03/06/em-busca-de-um-espaco-para-docencias-plurais-contextuais-e-inventivas-na-educacao-infantil/

 

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