Refugiados venezuelanos criam estratégias de comunicação e superam limitações institucionais no Brasil

Julia Marina Quemel Matta, jornalista e colaboradora no Laboratório de Pesquisa e Experimentação em Multimídia, Universidade Federal do Pará (UFPA). Belém, PA, Brasil.

Weverton Raiol, doutorando pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e assistente editorial da Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, Belém, PA, Brasil.

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O Brasil é um dos destinos mais procurados pelos refugiados venezuelanos que buscam melhores condições de vida longe das tensões políticas, econômicas e institucionais do seu país de origem. Mas, ao chegar em território brasileiro, os imigrantes enfrentam novos desafios, dentre eles a dificuldade de acesso regular à comunicação e à informação. Este é o contexto analisado no artigo Comunicación y ciudadanía de refugiados venezuelanos em centros de acogida en la frontera Brasil-Venezuela, publicado na Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação (INTERC, vol. 46), que apresenta experiências de comunicação e cidadania de imigrantes que residem em centros de acolhimento no município de Boa Vista, capital do estado de Roraima.

O estado é a principal rota da migração e possui 13 centros de acolhimento para atender venezuelanos em situação de vulnerabilidade e fornecer a assistência necessária, sendo 11 apenas no município de Boa Vista, atendendo mais de 7.900 imigrantes na capital (dados de 2021). Os centros foram criados a partir de 2018, pela Operação Acolhida, que é uma força-tarefa humanitária coordenada pelo Gabinete da Presidência do Governo do Brasil em parceria com ministérios, atores do governo local, agências, Organização das Nações Unidas (ONU) e sociedade civil.

Nesse cenário, Denise Cogo e Sabrina Generali, da Escola Superior de Propaganda e Marketing, e Julia Camargo, também vinculada à referida instituição e professora da Universidade Federal de Roraima, observaram as rotinas de oito centros de acolhimento entre 2018 e 2020, realizando entrevistas com refugiados e profissionais que assistem e gerem tais espaços a fim de compreender as experiências comunicacionais dos sujeitos.

Na rotina dos centros de acolhimento, as autoras identificaram que as regras de convivência e permissões limitadas, como a supervisão das atividades dos imigrantes e o estabelecimento de horários de entrada e saída, bem como de circulação em áreas comuns, geram conflitos diários entre gestores e acolhidos. Dentre as dificuldades, a comunicação apresenta escassez de recursos. A utilização da banda larga de internet e acesso a aparelhos digitais, por exemplo, é exclusivo aos trabalhadores humanitários, que não podem compartilhar a senha com os refugiados.

As restrições se estendem ao uso do aparelho de televisão coletivo, que para muitos é a única fonte de informação e entretenimento. Assim, os entrevistados também apontaram para um cenário propício para circulação de informações falsas sobre política e oportunidades de trabalho e exploração nos destinos. Para contornar esse cenário, os venezuelanos estabeleceram práticas de compartilhamento de celulares e contribuem coletivamente para a manutenção de planos de dados móveis de internet, conseguindo acesso a informações e estabelecimento de contato com familiares, inclusive criando entre eles o hábito de checagem da veracidade de informações.

Apesar dos mecanismos de controle e das dificuldades, as experiências de comunicação dos refugiados nos centros criados pela Operação Acolhida, em Boa Vista, produziram espaços de autonomia. No entanto, é preciso enfatizar que esse modelo de comunicação, além de marcar assimetrias e desigualdades de acesso/uso de tecnologias, normaliza uma lógica de vigilância e controle do trânsito e estado dos imigrantes, que, ao final, permaneceram marginalizados enquanto buscavam por oportunidades de melhores vivências. No âmbito do debate da comunicação como um direito, a participação dos refugiados na produção e consumo de informações e da comunicação é uma forma de enfrentar as desigualdades e de exercício da cidadania, por isso o debate é fundamental.

Para ler o artigo, acesse

COGO, D., CAMARGO, J. and GENERALI, S. Comunicación y ciudadanía de refugiados venezuelanos em centros de acogida en la frontera Brasil-Venezuela. Intercom, Rev. Bras. Ciênc. Comun. [online]. 2023, vol. 46, e2023104 [viewed 28 June 2023]. https://doi.org/10.1590/1809-58442023104es. Available from: https://www.scielo.br/j/interc/a/pZV7tTmDrNvCyDy9b883VGR

Links externos

Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação – INTERC: https://www.scielo.br/interc

Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação – Facebook: https://www.facebook.com/revistaintercom

Sobre a Operação Acolhida – Casa Civil: https://www.gov.br/casacivil/pt-br/acolhida/sobre-a-operacao-acolhida-2

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MATTA, J.M.Q. and RAIOL, W. Refugiados venezuelanos criam estratégias de comunicação e superam limitações institucionais no Brasil [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/06/28/refugiados-venezuelanos-criam-estrategias-de-comunicacao-e-superam-limitacoes-institucionais-no-brasil/

 

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