Raça, gênero e diversidade sexual como desafio da abordagem interseccional na educação

Nilma Lino Gomes, Professora titular emérita/FAE/UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil

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A luta por uma educação pública, democrática, laica e com qualidade social conquistou avanços no campo dos direitos. Há uma vasta e excelente produção teórica educacional sobre esse tema. Porém, é preciso avançar mais e sair da armadilha do discurso universal que teme as diferenças e as exclui. E entendê-las como constituintes da democracia. O reconhecimento da diversidade e das diferenças precisa ser compreendido como integrante do direito à educação. A formação de professoras e professores, a gestão e a coordenação escolar, o currículo, os materiais didáticos, a organização dos tempos e espaços escolares precisam assumir, cada vez mais, o dever político, pedagógico e ético de combater toda e qualquer forma de racismo, machismo, LGBTQUIA+fobia.

Aos poucos, aumentam as pesquisas educacionais sobre a análise do espaço escolar e a presença do racismo, machismo, LGBTQIA+fobia e intolerância religiosa, a ausência dessa discussão na formação inicial de professoras e professores. Também vêm crescendo investigações realizadas sobre essas temáticas, sua atuação interseccional e a formação em serviço. Autoras e autores apontam para a urgência de uma reeducação crítica de estudantes, docentes, demais profissionais da educação e comunidade sobre essas questões RUFINO (2019), OLIVEIRA (2017), PASSOS (2011), JUNQUEIRA (2009). Os estudos também discutem a escola como espaço de socialização indo além da relação ensino-aprendizagem, compreendendo-a como espaço sociocultural (DAYRELL, 1996).

A questão das diferenças e das desigualdades, aos poucos, vem sendo compreendida como mais uma urgência da formação educacional para docentes e discentes, inclusive como uma forma de combater ideias extremistas que invadem a vida dos estudantes e das estudantes, levando-os a atos violentos que resultam em mortes, como, por exemplo, os mais recentes ataques às escolas e creches que se acirraram nos anos de 2022 e 2023.

Construir um espaço para a publicação dessa produção crítica e a sua divulgação científica configura-se como papel importante, atual e sintonizado com a dinâmica do nosso tempo dos periódicos educacionais, principalmente os de alcance internacional. Esse lugar para as instigantes produções teóricas, com excelência acadêmica sobre o tema, faz-se necessário e urgente. Não é possível mais que as pesquisadoras e os pesquisadores que se dedicam às questões interseccionais de raça, gênero, diversidade sexual, entendendo a sua complexidade na sociedade de classes, acabem encontrando mais espaço nos periódicos de outras áreas do conhecimento do que na educação.

Imagem composta de inúmeras silhuetas de bustos, em diversas cores, que estão sobrepostas.

Imagem: Pixabay.

Diante de tudo isso, é imperativo que a produção teórica educacional se dedique ainda mais na interpretação e análise desses fenômenos por meio de estudos e pesquisas que enfrentem o desafio de interpretar o fenômeno educacional da atualidade e seu impacto sobre a vida dos sujeitos da educação em uma perspectiva crítica que articule de forma interseccional as questões de classe, raça, gênero e diversidade sexual.

Reconhecendo a importância dessa discussão, Educação & Sociedade publica o artigo Estudos e pesquisas sobre educação, raça, gênero, e diversidade sexual (vol. 44), que abre a seção dedicada aos estudos, pesquisas e reflexões teóricas sobre raça, gênero, diversidade sexual e educação e seus múltiplos desdobramentos e cruzamentos, tais como: desigualdades econômicas e sociais, igualdade, equidade, ações afirmativas, interculturalidade, entre outras, a partir de perspectivas descolonizadoras e críticas. Sendo esta ação a resposta ao grande número de artigos recebidos na chamada Ações Afirmativas de promoção da igualdade racial na educação, realizada nos anos de 2021 e 2022.

Convido você, caro leitor, a assistir ao vídeo que segue onde apresento os desafios das pesquisas em educação sobre raça, gênero, diversidade sexual e educação.

Referências

DAYRELL, J. “A escola como espaço sócio-cultural”. In: DAYRELL, J. (org.) Múltiplos Olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1996.

JUNQUEIRA. R.D. (org.) Diversidade sexual na educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. Brasília: MEC, SECAD, UNESCO, 2009.

OLIVEIRA, N.M.S. Mulheres negras intelectuais da periferia. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2017.

PASSOS, M. (org.) A mística da identidade docente: tradição, missão e profissionalização. Belo Horizonte: Fino Traço, 2011.

RUFINO, L. Pedagogia das encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2019.

Para ler o artigo, acesse

GOMES, N.L. Estudos e pesquisas sobre educação, raça, gênero, e diversidade sexual. Educ. Soc. [online]. 2023, vol. 44, e275110 [viewed 19 July 2023]. DOI: https://doi.org/10.1590/ES.275110. Available from: https://www.scielo.br/j/es/a/kWym5qKLCgwjzBGPCBZYSsM/

Links externos

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ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais: www.antrabrasil.org

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NEPEM – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher/UFMG: www.fafich.ufmg.br/nepem

Revista da ABPN: www.abpnrevista.org.br

Revista de Gênero, sexualidade e direito: www.indexlaw.org/index.php/revistagsd

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

GOMES, N.L. Raça, gênero e diversidade sexual como desafio da abordagem interseccional na educação [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/07/19/raca-genero-e-diversidade-sexual-como-desafio-da-abordagem-interseccional-na-educacao/

 

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