Luiz Gustavo Martins da Silva, Assistente de Comunicação da Revista Almanack, Doutorando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
O artigo Aristocracia negreira: a formação da nobreza imperial e o comércio clandestino de africanos em meados do Oitocentos, escrito pelo historiador Thiago Campos Pessoa, e publicado na Revista Almanack, n.º 35 (2023), analisa como o tráfico clandestino de africanos articulou a formação da aristocracia negreira brasileira no começo do reinado de d. Pedro II.
Como doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense e pesquisador do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa vinculado à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Thiago Pessoa tem desenvolvido pesquisas sobre a Aristocracia Negreira na construção do Brasil, o comércio proibido de africanos e a nobreza imperial pelas páginas da imprensa abolicionista. A trajetória do autor evidencia as motivações subjacentes ao seu artigo, que investigou, metodologicamente, a constituição da nobreza imperial negreira por meio de estudos dos jornais liberais “O Philantropo” e “O Grito Nacional”, ambos associados ao abolicionismo da década de 1840.
O artigo está dividido em quatro seções: nas duas primeiras, analisa-se a filiação política dos periódicos mencionados e suas denúncias sobre a formação de uma aristocracia traficante no Brasil imperial; nas duas últimas seções, evidencia-se como o antilusitanismo e a manutenção da propriedade escrava isentaram a sociedade brasileira da responsabilidade do tráfico ilegal. Suas fontes principais para desenvolver esses tópicos são a imprensa liberal, proveniente da Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional (BNDigital), além de uma atualizada bibliografia sobre o tema.
Um dos resultados apresentados por Thiago Pessoa é que a “aristocracia negreira” foi escondida da memória nacional e da história oficial, pois sua trajetória evoca nos dias de hoje o caráter da elite imperial e os compromissos do Estado e da sociedade brasileira com a escravidão africana durante a formação do Brasil.Além disso, a análise dos jornais associados ao abolicionismo emergente revela que o nacionalismo e os conflitos antilusitanos foram complementares na produção do traficante, quase sempre o português. Isso não afetava a identidade nacional brasileira nem a elite imperial, levando à formação de um país cuja base foi o crime de tráfico humano.
As contribuições do trabalho de Thiago Pessoa são para o estudo da formação do Estado e nação brasileiros, bem como da identidade nacional constituída frente ao Outro, o português. O impacto para a ciência e a sociedade é a possibilidade de compreender a história do Brasil por meio da imprensa panfletária dos anos 1840, reiterando e denunciando o infame comércio negreiro no país.
Desse modo, as projeções futuras podem abrir-se para novas perspectivas de análise, como a história comparada e global, mesmo que o estudo resida na relação entre Estado, elite política e sociedade imperial. O desaparecimento da nobreza forjada no tráfico ilegal de africanos poderá ser abordado a partir de novas fontes ainda não identificadas, com vistas à elaboração de um memorial.
Referências
PESSOA, T.C. Sobre o que se quis calar: o tráfico de africanos no litoral norte de São Paulo em tempos de pirataria. História (São Paulo) [online]. 2020, vol. 39, e2020030 [viewed 28 February 2024]. https://doi.org/10.1590/1980-4369e2020030. Available from: https://www.scielo.br/j/his/a/BwcskjbHgVc8gvwv4xgYQKP/
PESSOA, T.C. Sob o signo da ilegalidade: o tráfico de africanos na montagem do complexo cafeeiro (Rio de Janeiro, c.1831-1850). Tempo [online]. 2018, vol. 24, no. 3, pp. 422–449 [viewed 28 February 2024]. https://doi.org/10.1590/TEM-1980-542X2018v240302. Available from: https://www.scielo.br/j/tem/a/3JqqRk9FKLbLVVgGfDZtbKg/
Para ler o artigo, acesse
PESSOA, T.C. Aristocracia negreira: a formação da nobreza imperial e o comércio clandestino de africanos em meados do oitocentos. Almanack [online]. 2023, vol. 35, ea01023 [viewed 28 February 2024]. https://doi.org/10.1590/2236-463335ea01023. Available from: https://www.scielo.br/j/alm/a/5BLCnV8Mp5vwTT36W4sPrkK/
Links externos
Almanack – ALM: https://www.scielo.br/alm
Almanack – Redes sociais: Facebook | Twitter | Instagram | YouTube
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários