Rosa Emilia Moraes, Jornalista Científica, Linceu Editorial, São José dos Campos, SP, Brasil.
A educação estética refere-se à integração de elementos de apreciação da arte e da beleza nos processos educativos, desenvolvendo no indivíduo uma visão para além das aparências superficiais. Segundo Georg Lukács (2018), a função catártica da arte, que leva a contemplação e ressignificação dos próprios valores, conforme Marx, serve de instrumento para a superação do fetichismo que permeia as relações sociais no capitalismo.
Na mesma linha, o renomado pensador russo Lev Semionovitch Vygotsky estabeleceu um diálogo entre a consagrada teoria marxista do materialismo histórico e a psicologia para discutir a importância de uma educação menos mecanizada, destinada simplesmente a atender apenas um mercado de trabalho.
Em sua obra “Psicologia da Arte”, originalmente publicada em 1925, Vygotsky trata a arte como um “ato criador”, e enfatizava sua capacidade de redimensionar os sentidos, proporcionando uma experiência contemplativa que abre o indivíduo a novas percepções, geradoras de ideias revolucionárias, enquanto a educação ministrada de forma puramente técnica e moralista, objetivando meramente a aquisição de conteúdos pedagogicamente instrumentalizados, acaba por suprimir a criatividade e condicionar o pensamento a produzir respostas automáticas.
No Brasil, a recente implementação de políticas educacionais restritivas gerou, em contrapartida, uma emergência de movimentos artísticos que resistem e buscam transformar a sociedade. Diante desse crescente interesse pela relação entre arte, psicologia e educação, as autoras Lavínia Lopes Salomão Magiolino (Universidade Estadual de Campinas, Unicamp), Daniele Nunes Henrique Silva (Universidade de Brasília, UNB) e Kátia Maheirie (Universidade Federal De Santa Catarina, UFSC), elaboraram o dossiê Educação Estética, publicado pelos Cadernos CEDES (vol. 44, no. 124, 2024), que reúne investigações e contribuições de autores e autoras atuais em diversas áreas do conhecimento que, inspirados pelas ideias de Vygotsky, buscam aprofundar a compreensão e a prática da Educação estética enquanto revolucionária ferramenta de transformação social e ressignificação da vida.
Apesar da relevante influência de Vygotsky mesmo após um século da publicação de sua obra, esta não consolidou uma definição do conceito de educação estética, deixando aberto o espaço para um vasto campo de atualizações à luz do debate contemporâneo, incluindo outras perspectivas teóricas.
O dossiê está organizado em eixos de abordagem que abrangem os princípios e fundamentos da educação estética, o papel das atividades artísticas e criadoras no desenvolvimento humano e na educação escolar, e atividades estéticas em outros contextos de educação e interlocução.
Os artigos compõem um amplo debate com o objetivo de problematizar os temas apresentados, demarcar o conceito de educação estética e promover uma revisitação crítica das práticas educacionais atuais em diferentes contextos, buscando oportunidades para melhorias e inovações, além de criar uma base sólida e coerente para o reconhecimento da disciplina como um campo específico da educação.
Nessa coletânea, Silva e Magiolino destacam no artigo Educação estética: princípios e fundamentos a partir das elaborações de L. S. Vigotksi a ligação entre o conhecimento, a vivência estética e a atividade criativa. Já em Arte, imaginação e realidade: A ficção como ação educativa, Védrines e Schnewly reinterpretam a obra “Psicologia da Arte”, com foco na ficção e na catarse. Por outro lado, Toassa e Silva apresentam em O lugar de onde se vê: Vigotski e o novo teatro para a nova pessoa socialista a oposição ao conformismo social por meio do drama no teatro.
O debate sobre o imaginário dos jogos e do teatro pedagógico é proposto por Schlindwein, Milleo e Souza em Brincadeira, drama, imaginação e ação pedagógica, ao passo que Pederiva P, Oliveira, Melo e Pederiva M refletem em Educação estética histórico-cultural: vivências artísticas expressivas e criadoras sobre experiências estéticas e a relação entre o indivíduo e a arte no contexto educativo. Em contrapartida, Pacheco e Lordelo se concentram no processo criativo das crianças ao narrar histórias em “Quem conta um conto…”: a atividade criadora infantil no (re)conto de histórias.
O dossiê também agrega representatividade regional ao incluir artigos provenientes de diversas regiões do Brasil, autores internacionais e trabalhos produzidos por distintos programas de pesquisa e pós-graduação. Assim, os artigos reunidos no dossiê ajudam a reconsiderar a educação como uma força para a formação de indivíduos criativos e autônomos, em diálogo com as ideias de Vygotsky, e nos inspiram a discutir e promover profundas transformações sociais.
Para ler a apresentação do dossiê, acesse
SILVA, H.N.D. and MAGIOLINO, L. Educação Estética: Princípios e Fundamentos a partir das Elaborações de L.S. Vigotksi. Cadernos CEDES [online]. 2024, vol. 44, no. 124, pp. 268-279 [viewed 27 February 2025]. https://doi.org/10.1590/CC287818. Available from: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/NvWHfWH6t6FPRgCFPZByf7Q/
Para ler o dossiê completo acesse
Cadernos CEDES. vol. 44, no. 124, 2024
Referências
LUKÁCS, G. Introdução a uma estética marxista: sobre a particularidade como categoria da estética. São Paulo: Instituto Lukács, 2018
PACHECO, A.F.H. and LORDELO, R.L. “Quem conta um conto…”: a Atividade Criadora Infantil no (Re)Encontro de Histórias. Cadernos CEDES [online]. 2024, vol. 44, no. 124, pp. 340-350 [viewed 27 February 2025]. https://doi.org/10.1590/CC287679. Available from: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/nFxfshjzB46LT6BwrzThSxt/
PEDERIVA, M.L.P., et al. Educação Estética Histórico-cultural: Vivências Artísticas Expressivas e Criadoras. Cadernos CEDES [online] 2024, vol. 44, no. 124, pp. 328-339 [viewed 27 February 2025]. https://doi.org/10.1590/CC287775. Available from: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/dZd3tvpVrQzKftZmKBw4Mgw/
SCHLINDWEIN, M.L., MILLÉO, O. and SOUZA, S.L.M. Brincadeira, Drama, Imaginação e Ação Pedagógica. Cadernos CEDES [online]. 2024, vol. 44, no. 124, pp. 316-327 [viewed 27 February 2025]. https://doi.org/10.1590/CC2287842. Available from: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/Z6H8RNCLKDMDmTWwPL3gjGN/
TOASSA, G. and SILVA, R.C.Y. O Lugar De Onde Se Vê: Vigotski E O Novo Teatro Para A Nova Pessoa Socialista. Cadernos CEDES [online]. 2024, vol. 44, no. 124, pp. 304-315 [viewed 27 February 2025]. https://doi.org/10.1590/CC287774. Available from: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/jrMgFVwSLWTXzMJVMDf44BC/
VÉDRINES, B. and SCHNEUWLY, B. Arte, Imaginação e Realidade: a Ficção como Ação Educativa. Cadernos CEDES [online]. 2024, vol. 44, no. 124, pp. 292-303 [viewed 27 February 2025]. https://doi.org/10.1590/CC288182_port. Available from: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/VyH8CQnPgFBmM78GzfzQb3G/
VIGOTSKI, L. S. Psicologia da arte. São Paulo: WMF Martins Fontes, 1999
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