Carlos Henrique Machado, investigador no Aesthetics, Politics and Knowledge Group, Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, Porto, Portugal.
O artigo Fernand Deligny e o autismo como um diferente registro perceptivo, publicado pelo periódico Trans/Form/Ação (vol. 43, 2025), propõe uma reflexão inovadora sobre modos de percepção que escapam à linguagem e à forma tradicional do sujeito. O estudo articula as concepções de Gilles Deleuze sobre sínteses passivas com as experiências do educador francês Fernand Deligny junto a crianças autistas não falantes.
A pesquisa sugere que essas formas de vida, frequentemente vistas como carentes de linguagem, revelam na verdade um regime perceptivo singular, baseado em gestos, ritmos e linhas de errância. Em vez de compreender o autismo como déficit, o texto aponta para a positividade de uma sensibilidade impessoal, anterior ao sujeito e à palavra, capaz de transformar a maneira como entendemos a experiência humana.

Imagem: Thierry Boccon-Gibod
Este estudo também representa um esforço de articulação entre filosofia e prática clínica, abrindo diálogos entre teoria e experiência. Ao situar a percepção impessoal no contexto das vivências de crianças autistas, propondo um olhar renovado sobre a neurodiversidade e as possibilidades éticas de relação com o outro.
Além de dialogar com autores como Husserl e Leibniz, o artigo levanta implicações clínicas, políticas e filosóficas: repensar a centralidade da linguagem como critério de humanidade e abrir espaço para uma ética da diferença e da co-presença.
Os resultados apontam para a necessidade de repensar categorias tradicionais da psicologia e da filosofia da mente. A partir dessa perspectiva, o autismo não é apenas um objeto clínico, mas uma abertura epistemológica que questiona os limites do sujeito, da linguagem e da própria percepção.
Por fim, a pesquisa contribui para um debate mais amplo sobre inclusão, alteridade e modos de existência, estimulando reflexões que ultrapassam os campos acadêmicos e clínicos. A análise visa instigar novas formas de pensar a relação entre corpo, linguagem e mundo, propondo caminhos para práticas educativas e políticas mais sensíveis às diferenças perceptivas.
Para ler o artigo, acesse
MACHADO, C.H. Fernand Deligny e o autismo como um diferente registro perceptivo. Trans/Form/Ação [online]. 2025, vol. 48, no. 6, e025152 [viewed 12 November 2025]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2025.v48.n6.e025152. Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/4HKLjTCQwybzxXzZW56j7LR/
Referências
DELEUZE, G. A lógica da sensação. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
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DELIGNY, F. OEuvres. Paris: L’Arachnéen, 2017.
DELIGNY, F. O aracniano. São Paulo: n-1, 2018.
Links externos
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Sobre Carlos Henrique Machado
É doutor em filosofia pela FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigador do Aesthetics, Politics and Knowledge Group, do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto.
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