A transição energética tem sido colocada como um dos principais caminhos para lidar com a problemática socioambiental contemporânea. Existem, no entanto, diferentes entendimentos sobre tal conceito, sendo amplamente debatido. Em sua leitura mais difundida — fortemente associada à Agenda 2030 e ao Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) 7, que propõe garantir o acesso a uma energia limpa, segura e acessível —, a transição é entendida como um processo de descarbonização e substituição tecnológica das fontes fósseis por renováveis, orientado pela inovação e eficiência.
Abordagens críticas, porém, argumentam que a transição envolve mudanças estruturais mais amplas nas dimensões sociais, políticas e territoriais, devendo incorporar princípios de justiça social, ambiental e energética, reconhecendo as assimetrias históricas entre países, regiões e grupos sociais. Outras perspectivas questionam o próprio uso do termo “transição”, sustentando que não ocorre uma substituição plena das fontes, mas sim uma reconfiguração e sobreposição de regimes energéticos e disputas sobre modelos de desenvolvimento, territorialidade e poder. Estes fatores tornariam a transição um processo desigual, não linear e profundamente político.
Como forma de contribuir para esse tema, torna-se necessário um debate acadêmico aprofundado que dê atenção aos posicionamentos de diversos setores da sociedade. Diante disso, torna-se urgente refletir até que ponto o discurso global sobre a transição energética corresponde a transformações efetivas em direção a sistemas mais sustentáveis, equitativos e resilientes. O tema demanda, portanto, aprofundar a produção científica interdisciplinar, o diálogo entre saberes e o engajamento social e político, permitindo o entendimento das contradições, dos dilemas e das potencialidades desse processo.
Nesse sentido, esta chamada de dossiê convida pesquisadores/as a contribuírem com estudos e pesquisas interdisciplinares que explorem e problematizem o tema da transição energética, investigando, de forma crítica, os desafios, as limitações, os dilemas e as possibilidades em torno da problemática. A presente chamada incentiva, particularmente, artigos que discutam abordagens em torno dos seguintes temas: justiça energética no contexto de conflitos e vulnerabilidades socioambientais; energias renováveis e não renováveis no contexto da descarbonização e das mudanças climáticas; conflitos e resistências em torno de projetos energéticos; estudos comparativos entre contextos, políticas e arranjos institucionais; análises sobre pobreza energética, com foco em gênero, raça, território e movimentos de resistência; avaliações de impactos cumulativos e transformações locais; análise de casos de sucesso e de insucesso na implementação de estratégias de transição; e discussões teóricas sobre governança, inovação e sustentabilidade, incluindo análises críticas das teorias das transições sociotécnicas, à governança, à justiça de transição, e às diferentes perspectivas sobre mudança sociotécnica e transformação socioambiental.
Além disso, esta chamada valoriza a diversidade metodológica dos artigos submetidos, reconhecendo a relevância de abordagens quantitativas, qualitativas e mistas, incluindo estudos de campo, realização de entrevistas, modelagens, análises territoriais e revisões teóricas que dialoguem com diferentes disciplinas e perspectivas.
Editores responsáveis
Flávia Mendes de Almeida Collaço, Professora Doutora, Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, São Paulo, Brasil.
Jacques Demajorovic, Professor Adjunto, Programa de Pós-Graduação em Administração, Centro Universitário FEI, São Paulo, São Paulo, Brasil.
Julia Silvia Guivant, Professora Titular Sênior, Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política e Programa de Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.
Lira Luz Benites Lazaro, Pesquisadora Associada, Centro Paulista de Estudos de Transição Energética, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil.
Pedro Roberto Jacobi, Professor Titular Sênior, Instituto de Energia e Ambiente, Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil.
Rylanneive Leonardo Pontes Teixeira, Professor Assistente, Programa de Mestrado Profissional em Administração Pública, Universidade Federal da Fronteira Sul, Realeza, Paraná, Brasil.
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