Aurea Ianni, Eunice Nakamura e Deisy Ventura, Editoras de Saúde e Sociedade, São Paulo, SP, Brasil
Os campos intelectuais da sociologia da saúde na França e no Brasil possuem origens comuns, com fortes raízes na sociologia das profissões e do trabalho, além de abordarem temas de grande convergência nas respectivas sociedades. É o que constatam os professores Miguel Ângelo Montagner (Universidade de Brasília) e Marie Jaisson (Universidade Paris 13/École des hautes études en sciences sociales), como organizadores do dossiê “Sociologia da saúde em França e Brasil: afinidades estruturais e genéticas”, publicado pela Revista Saúde e Sociedade (v. 27, n. 3).
Composto por cinco artigos originais, disponíveis em português e francês, o dossiê explora esta convergência entre objetos e temas da sociologia da saúde franceses e brasileiros.
No artigo que abre o dossiê, “Nova Gestão Pública e profissões hospitalares”, Nicolas Belorgey reflete sobre a tentativa de trazer ao setor público de saúde francês um novo tipo de gestão, transposto do setor privado, que corresponde ao modelo neoliberal. O novo modelo atinge em especial os hospitais, enfermeiros e paramédicos, entre outros atores. Também baseado na sociologia das profissões, o artigo insere-se no contexto de resistência ao pensamento neoliberal que existe na França.
Por sua vez, a contribuição de Marie Ménoret em “A cura em oncologia: uma ambição improvável” busca revelar as relações entre a incerteza médica e a gestão do adoecimento. Está em questão a ambição de “curar” que caracteriza a medicina, e os desafios interpostos pelos adoecimentos crônicos, envolvendo práticas sociais complexas, de elevado custo social e emocional.
Marc-Olivier Déplaude aporta, no terceiro texto “Investigando uma política fracassada: o Estado francês e a demografia médica (1960-2015)”, apresenta estudo da regulação da profissão médica na França. O autor apresenta a demografia médica, inclusive no que se refere à distribuição das especialidades, como objeto de disputa no seio da profissão.
Já “Atendimento hospitalar para populações à margem do sistema de saúde na França: o exemplo dos Permanences d’accès aux soins de santé”, elaborado por Jérémy Geeraert, consagra-se ao papel dos profissionais em contato direto com a saúde assistencial, que ele considera centrais para definir o grau de adoecimento e de necessidade social que franquia a entrada das pessoas necessitadas no sistema e quais devem ser excluídos.
Finalmente, em “O estudo de práticas médicas: o cenário da sociologia das profissões”, Marie Jaisson – uma das organizadoras – estuda as práticas médicas como reflexo da sociologia das profissões, revelando o quanto esta influenciou a sociologia médica, e posteriormente a sociologia da saúde nos dois países.
Todos os temas abordados encontram eco evidente no Brasil de hoje. Espera-se que o dossiê, mais do que reflexo da colaboração consolidada entre os organizadores, sirva para estimular a intensificação da cooperação entre brasileiros e franceses no campo da sociologia da saúde.
Além do dossiê, este número da Saúde e Sociedade conta com 20 artigos de fluxo contínuo que abordam variados temas, como o impacto das políticas de austeridade sobre o sistema de saúde espanhol, o mapeamento da produção científica sobre o Programa Mais Médicos, ou ainda as concepções de saúde, doença e cuidado em “Primeiras Estórias”, de Guimarães Rosa.
Para ler os artigos, acesse
Saude soc. vol.27 no.3 São Paulo jul./set. 2018
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