A igualdade e a liberdade são princípios fundamentais da educação

Bruno Bontempi Jr., Adriana Backx Noronha Viana, Editores associados da Educação e Pesquisa, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

A palavra “Educar” provém do latim Educere, que significa, literalmente, conduzir. Considerando que essa condução visa ao preparo do educando para o mundo, a proposição de qualquer metodologia de ensino requer uma definição prévia e refletida sobre seus princípios e propósitos, temas de que se ocupam os estudiosos da filosofia da educação.

Educação e Pesquisa (v. 45), publica dois artigos que exploram conceitos basilares da filosofia da educação: a igualdade, no pensamento de Paulo Freire, e a liberdade, nos escritos de Espinosa e à luz da pedagogia libertária do século XIX.

No artigo “Paulo Freire e o valor da igualdade em educação”, Walter Omar Kohan (2019, p. 15) aponta o valor da igualdade no desenvolvimento dos processos educativos: “a igualdade é um princípio importante e transversal para uma política interessante na relação pedagógica. Essa igualdade é afirmada como princípio ou início – não como meta ou objetivo […]”. Ao analisar conceitualmente as projeções lógicas, epistemológicas, educacionais e políticas da afirmação “ninguém é superior a ninguém”, o autor expõe os sentidos que ela projeta para uma vida educacional inspirada no pensamento freireano. O artigo contrasta, ainda, as ideias freirianas sobre a igualdade com as do pedagogo francês Joseph Jacotot (1770-1840), apontando semelhanças e diferenças nos modos como ambos pensavam e vivenciavam a educação (FREIRE, 2014). Kohan (2019) destaca a necessidade de haver na relação pedagógica uma escuta ativa, em que educadores escutem os educandos, e que não ocorra apenas o inverso. Segundo ele, uma tal relação pedagógica só se torna possível se a principal virtude do educador for a humildade, que lhe permita reconhecer e aceitar as diferenças. Kohan (2019, p. 16) conclui, ainda, que “Educar significa escutar, respeitar, atentar a essas diferenças. Sem elas, a vida seria muito menos vida”, sustentando que o valor da igualdade como princípio antecede o processo de educar.

Em “O espinosismo é uma forma de educação libertária?”, Fernando Bonadia de Oliveira defende que a filosofia de Espinosa (1632-1677) seja compreendida como uma forma de educação libertária. Embora tenha antecedido em dois séculos as obras dos pedagogos libertários, em contexto histórico ainda distante da eclosão da sociedade industrial, a obra do filósofo já conteria os fundamentos da “educação para a liberdade” expressos nos pilares da pedagogia libertária: educação integral; educação cooperativa; ensino racional e anticlerical; fortalecimento da razão, em detrimento dos prêmios e castigos. O método do autor consiste em revisitar os desdobramentos pedagógicos das teses de Espinosa e buscar uma significativa similaridade temática nos postulados essenciais da pedagogia libertária. Partindo da recusa à interpretação fatalista do sistema de Espinosa, destaca em suas obras as assertivas que propendem ao esforço e ao otimismo educativo, como a de que “o ato de educar descortina uma dimensão essencial de libertação, necessária para a edificação de sociedades em que vigore a liberdade de pensar e a prática do auxílio mútuo” (OLIVEIRA, 2019, p. 2-3). Oliveira (2019) afirma que ambas as teorias têm em comum a premissa de que a escola deveria favorecer a eclosão da personalidade na criança, em vez de adestrá-la. O objetivo da educação deveria ser o de conduzir à liberdade pelo uso autônomo da razão, e não o de fazer da criança um cidadão submisso. O sufocamento da personalidade nas instituições de ensino, sob o peso de relações verticais de autoridade, deveria dar lugar à aprendizagem vivida em uma relação professor-aluno equilibrada, que não impedisse “o desabrochar da personalidade discente em sua singularidade” (BARRUÉ, 2001, p. 35).

Referências

BARRUÉ, J. Introdução – Da educação. In: STIRNER, Max. O falso princípio da nossa educação. Tradução Plínio Augusto Coelho. São Paulo: Imaginário, 2001. p. 23-58.

FREIRE, P. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. 21. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.

Para ler os artigos, acesse

KOHAN, W. O. Paulo Freire e o valor da igualdade em educação. Educ. Pesqui., v. 45, e201600, 2019. ISSN: 1517-9702 [viewed 25 June 2019]. DOI: 10.1590/s1678-4634201945201600. Available from: http://ref.scielo.org/bp5jyp

OLIVEIRA, F. B. de. O espinosismo é uma forma de educação libertária?. Educ. Pesqui., v. 45, e189854, 2019. ISSN: 1517-9702 [viewed 25 June 2019]. DOI: 10.1590/s1678-4634201945189854. Available from: http://ref.scielo.org/2d3xh9

Link externo

Educação e Pesquisa – EP: www.scielo.br/ep

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

BONTEMPI JUNIOR, B. and VIANA, A. B. N. A igualdade e a liberdade são princípios fundamentais da educação [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/08/02/a-igualdade-e-a-liberdade-sao-principios-fundamentais-da-educacao/

 

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