Eloisa Grossman, Professora Associada da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), RJ, Brasil.
[…] Eis uma pílula
A mim mesma dessa vez
Sou acertada em cheio
Me encontro graças a vocês.
Com a crescente discussão sobre a necessidade de ouvir testemunhos das pessoas que atravessam experiências de adoecimento, o artigo Análise de Narrativas Produzidas por Estudantes de Medicina a Partir da Distribuição de Pílulas Literárias em uma sala de Espera discorre sobre uma experiência desenvolvida nas salas de espera de um ambulatório. Toma como base a proposta inovadora de Charon (2006), que consiste em estimular o desenvolvimento de competência narrativa nos estudantes e profissionais de saúde, através da prática de leitura atenta de textos literários e da escrita reflexiva. Essa autora propõe o desenvolvimento do tripé: atenção, representação e criação de vínculos através dessa metodologia, fundamental para o estabelecimento da relação médico-paciente, ponto de partida para os cuidados de saúde.
Foram selecionados, pela coordenadora e pelos estudantes do projeto, fragmentos literários, que foram inseridos em pílulas e distribuídos às pessoas que aguardavam suas consultas. A partir da leitura do conteúdo das pílulas, era iniciada uma conversa, que versava sobre temáticas variadas: prazer da leitura, experiências e sentimentos despertados pelo processo de adoecer e de cuidar de alguém doente, estratégias cotidianas para lidar com a nova realidade, formação dos médicos, avaliação sobre os cuidados de saúde recebidos, dentre outras. A seguir, os estudantes desenvolviam narrativas, fruto da representação daquilo que apreenderam dos encontros. A atividade foi repetida semanalmente durante o semestre letivo e ao final, 25 textos e poemas narrativos foram produzidos e submetidos à análise de conteúdo temática. Foram também observadas as vozes que ecoavam, as complexidades do texto por ele mesmo, as nuances da linguagem e da forma, com atenção especial às metáforas, à dicção e ao ritmo.
Quanto ao eixo temático, 36% versavam sobre Transformações provocadas pela distribuição de pílulas, 24% sobre Cuidado, 20% sobre o Processo de adoecimento, 16% sobre Sentimentos e sensações e 4% sobre Vida e morte. Outrossim, julgou-se importante identificar as vozes que ecoavam nas narrativas. Em 44% das narrativas as inquietudes e sentimentos pertenciam aos alunos. Em 28%, era dada voz ao outro, seja ele o paciente ou o acompanhante na sala de espera. Em 20% as vozes se misturavam.
Os resultados apresentados sugerem que a proposta trouxe contribuições à formação dos estudantes de medicina, à medida que favoreceu o autoconhecimento, a troca e a escuta do outro – paciente, acompanhante, colegas e professores. Por fim, considera-se que esse artigo proporciona a divulgação de uma metodologia pedagógica que aposta no impacto das atividades que complementam os currículos formais, desenvolvida em cenários ainda pouco utilizados, como complementares à formação de profissionais melhor preparados para interagir com outros profissionais, com seus pacientes e famílias.
Referência
CHARON, R. Narrative Medicine. Honoring the Stories of Illness. New York: Oxford University Press; 2006.
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Para ler o artigo, acesse
GROSSMAN, E., et al. Análise de narrativas produzidas por estudantes de Medicina por meio da distribuição de pílulas literárias em uma sala de espera. Interface (Botucatu) [online]. 2021, vol. 25 [viewed 25 November 2021]. https://doi.org/10.1590/interface.210419. Available from: https://www.scielo.br/j/icse/a/4NMnzf8CYJXfWcZYHPsvW3r/?lang=pt
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