Carolina Branco Castro Ferreira, pós-doutoranda do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu/Unicamp e assessora de comunicação do cadernos pagu, Campinas, SP, Brasil
Carolina Parreiras, pós-doutoranda do Departamento de Antropologia da USP, São Paulo, SP, Brasil
Ao longo dos 24 anos de atuação do Núcleo de Estudos de Gênero, cadernos pagu tem publicado a partir de dossiês especiais, balanços sobre a produção de gênero e sexualidade no Brasil a partir de diferentes temas, os quais têm expressado a incorporação de novas problemáticas e perguntas de pesquisa, em sintonia com importantes transformações sociais e políticas contemporâneas.
Em 2014, o dossiê “Antropologia, gênero e sexualidade no Brasil: balanço e perspectivas” (PISCITELLI, 2014) abordou as discussões ocorridas durante a 28º Reunião da Associação Brasileira de Antropologia (ABA/2012), no âmbito do Comitê Gênero e Sexualidade dessa associação. Nessa publicação é ressaltado o interesse em realizar uma avaliação dessa produção, tendo como preocupação, compreender os deslocamentos e as novas tendências presentes no conhecimento antropológico na área, considerando a explosão de estudos sobre sexualidade que teve lugar a partir da década de 2000. As reflexões deste dossiê trazem a importância da articulação entre antropologia e movimentos sociais, com destaque para os feminismos e movimentos LGBT, desde a década de 1970 no país, ressaltando a produção de uma reflexão original nesse campo.
Em um segundo momento, por ocasião da comemoração do 20º aniversário do Núcleo, foram lançados os dossiês “As várias faces do Cuidado” e “Repensando gênero e feminismos”. O primeiro (HIRATA; DEBERT, 2016) traça um panorama contemporâneo considerando a noção de cuidado e de trabalho de cuidado, que nos últimos 30 anos se constituíram como eixos de discussão relevante no âmbito do debate feminista. Os artigos desse número retomam o argumento político ao redor do care e os atualiza a partir de diferentes contextos de pesquisa, renovando os repertórios sobre o tema dos cuidados no campo das ciências sociais em diálogo com outros campos de saber.
Repensando Gênero e Feminismos (PISCITELLI; BELELI, 2016) aborda reflexões produzidas em meio ao Seminário Internacional ocorrido em 2014, na Unicamp, e buscou repensar relações e táticas no âmbito dos feminismos brasileiros, compreender discussões em torno do trabalho sexual nesse campo, mostrando tensões e reposicionamentos frente a esta questão. Articulado a isso, esse dossiê também trouxe balanços importantes no que diz respeito a políticas sexuais, violências, vida íntima e erotismos, que podem ser encontrados nas secções “Prazer e perigo” e “Intersecção de diferenças nas mídias contemporâneas”. Ainda, o número aborda os avanços alcançados e os desafios ainda vigentes na discussão sobre gênero, ciência e tecnologia, no Brasil e no exterior, considerando os contenciosos entre trabalho produtivo e reprodutivo, percepções de família, Estado e mercados no processo de desconstrução das identidades de gênero.
Esse conjunto de números dedicados a (re)pensar, rever e (re)atualizar os temas de Gênero e sexualidade e suas articulações, estão sintonizados com as reflexões forjadas no âmbito de transformações e de lutas sociais, bem como revelam uma produção de conhecimento, situado desde o “Sul”, que pode e deve dialogar em estatuto de igualdade com a de outras regiões do mundo.
No vídeo que segue Sérgio Carrara, antropólogo, professor do Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), integrante do Centro Latino-Americano de Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), e coordenador do Comitê Gênero e Sexualidade da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) estabelece um diálogo de perto com questões levantadas pelos dossiês. Nele, o professor ressalta como o adensamento teórico de questões sobre gênero e sexualidade no campo acadêmico, conectadas com ativismos, transformaram temas marginais nas ciências sociais em questões centrais. Ainda, o antropólogo comenta como tal produção tem desnaturalizado instituições sociais e como isso tem incomodado o discurso político conservador, a exemplo dos debates sobre “ideologia de gênero”.
Confira abaixo conversa com Sérgio Carrara:
Referências
HIRATA, H. and DEBERT, G. G. Apresentação. Cad. Pagu [online]. 2016, n.46, pp.7-15. [Viewed 22 June 2017]. ISSN 1809-4449. DOI: 10.1590/18094449201600460007. Available from: http://ref.scielo.org/vgvy6s
PISCITELLI, A. Apresentação. Cad. Pagu [online]. 2014, n.42, pp.7-12. [Viewed 22 June 2017]. ISSN 1809-4449. DOI: 10.1590/0104-8333201400420007. Available from: http://ref.scielo.org/r9yvg7
PISCITELLI, A. and BELELI, I. Apresentação. Cad. Pagu [online]. 2016, n.47, e16470. [Viewed 22 June 2017]. ISSN 1809-4449. DOI: 10.1590/18094449201600470000. Available from: http://ref.scielo.org/3nccdd
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Link externo
cadernos pagu – CPA: www.scielo.br/cpa
Sobre Carolina Branco de Castro Ferreira
Carolina Branco de Castro Ferreira é doutora em Ciências Sociais (Unicamp), pós-doutoranda do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, professora colaboradora do programa de pós-graduação em Ciências Sociais e assessora de comunicação do cadernos pagu. Pesquisa sobre gênero, sexualidade, prevenção DST/HIV e Aids, itinerários terapêuticos, processos saúde e doença, moralidades, teoria feminista e teoria antropológica. Campinas, São Paulo, Brasil. Contato: carolinabcf.uni@gmail.com
Sobre Carolina Parreiras
Carolina Parreiras é doutora em Ciências Sociais (Unicamp), pós-doutoranda do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP). Pesquisa sobre gênero e sexualidade em suas articulações com ciberespaço; etnografia; antropologia urbana; violência. São Paulo, SP, Brasil. E-mail: carolparreiras@gmail.com
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