Capacidade absortiva x inovações: quais as características do cenário atual?

Janette Brunstein e Silvia Marcia Russi De Domenico, Editoras-chefe da Revista de Administração Mackenzie – RAM, São Paulo, SP, Brasil.

Vitória Batista Santos Silva, Suporte técnico da Revista de Administração Mackenzie – RAM, São Paulo, SP, Brasil.

Entende-se por capacidade absortiva a forma como uma empresa utiliza o conhecimento novo, proveniente de fontes externas ou obtido por meio de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), para incrementar o grau de inovação, seja ela de produto ou de processo. A Revista de Administração Mackenzie – RAM (v. 20, n. 6) reuniu seis artigos que abordam a temática da capacidade absortiva em diferentes esferas, tendo como apoio teórico estudos de destaque como o de Cohen e Levinthal (1990), o de Zahra e George (2002), entre outros. O tema é relevante no cenário atual que objetiva uma cadeia de produção integrada globalmente, além do fato da inovação trazer vantagens competitivas para uma empresa, contribuindo para a manutenção da sua posição em determinado mercado.

O primeiro artigo da edição, “Capacidade Absortiva: Elementos Componentes e Mecanismos Organizacionais de seu Desenvolvimento”, de Cappellari et al. (2019), estuda o comportamento da capacidade de absorção em um conjunto de três organizações do setor metal mecânico da região Sul do Brasil, justificando a escolha do setor pela característica de elevada concorrência e presença forte de tecnologia. Na metodologia, os autores utilizaram o modelo de capacidades dinâmicas Meirelles e Camargo (2014), limitado ao contexto de capacidade absortiva. Os resultados indicam a importância do bom relacionamento da companhia com fornecedores e clientes, além da relevância da aprendizagem, em nível de grupo, e também nos quesitos produto e processo. São destacadas ainda as capacidades de adaptação à inovação, a novas rotinas e processos. O estudo fornece contribuições para a pesquisa sobre capacidade absortiva, para a área da estratégia, entre outras.

No estudo de Puffal, Puffal e Souza (2019), “Uma análise da capacidade absortiva em empresas de setores tradicionais do RS”, foi realizada uma pesquisa com duas empresas de setores tradicionais do Rio Grande do Sul, utilizando dados secundários provenientes do no relatório final do Projeto NAGIRS (Núcleo de Apoio a Gestão de Inovação do Rio Grande do Sul), no período de 2013 a 2016. O método utilizado consiste na identificação de características de algumas categorias que compõem as quatro dimensões da capacidade absortiva: a assimilação, a transformação, a exploração e a aquisição. Por meio dos dados obtidos após a aplicação de um questionário, foi possível encontrar uma relação direta entre capacidade absortiva e a criação de inovações nas empresas analisadas, ficando evidentes elementos como parcerias estratégicas, investimentos em P&D, e a importância de fatores como a confiança nos agentes com os quais as parcerias são firmadas, bem como a segurança proveniente das diferentes fontes de informação.

Na sequência, o artigo de Souza, Silva e Abreu (2019), “Capacidade de absorção dos sinais capturados do ambiente para inovação”, mostra características da capacidade absortiva em sete empresas de micro e médio porte do setor têxtil do estado do Sergipe, considerando as quatro dimensões de capacidade absortiva também utilizadas no estudo de Puffal, Puffal e Souza (2019). Os resultados indicaram que as empresas analisadas possuem facilidade no que diz respeito à dimensão de aquisição de conhecimento, mas não o sinalizam da mesma forma para as demais dimensões, também em razão de falta de investimentos, principalmente na de explotação. Além disso, foi identificado que as empresas que contam com uma melhor capacidade absortiva estão mais expostas à concorrência direta.

O quarto artigo da edição, intitulado “A influência dos gestores nas capacidades da empresa: um estudo empírico”, de Costa et al. (2019), teve como objetivo analisar a relação entre a capacidade absortiva realizada (RACAP) e a capacidade arquitetural de marketing (CAM), que consiste nas habilidades de uma empresa de planejar e colocar em prática estratégias de marketing. A pesquisa do tipo survey contou com uma amostra de 343 gestores de marketing pertencentes a indústrias brasileiras manufatureiras, entrevistados no período de novembro de 2016 a janeiro de 2017. A metodologia é quantitativa, e utiliza equações estruturais. Os resultados revelam a presença da influência da idade e da tenure (estabilidade no mesmo emprego por um longo período) dos gestores na relação entre RACAP e CAM, de forma que quanto maior a experiência de um gestor, maior é a sua capacidade de aplicar o conhecimento nas estratégias de marketing.

O artigo seguinte é o estudo de Calegario et al. (2019), “Inovação em mercados emergentes: o papel da capacidade de absorção e da inserção em cadeias de valor local e global”, que tem como objetivo compreender quais os efeitos da inserção em cadeias de valor globais ou locais de uma empresa em um país em desenvolvimento, do ponto de vista da inovação e buscando entendimento sobre a questão da capacidade de absorção. Na metodologia, é utilizada uma amostra de 70.567 empresas da Pesquisa Nacional de Inovação (PINTEC), distribuída entre cinco períodos de três anos cada, de 1998 a 2011, e também dados de Investimento Estrangeiro Direto (IED) fornecidos pelo Banco Central do Brasil (BCB), com a finalidade de compreender a relação da capacidade de inovação desenvolvida nas referidas empresas com a inserção nas cadeias de valor globais ou locais. Os resultados destacam a relevância do relacionamento com todos os membros da cadeia de valor global para uma melhor capacidade de inovação.

Por fim, no artigo de Mikhailov e Reichert (2019), “Influência da capacidade absortiva sobre inovação: uma revisão sistemática de literatura”, é feita uma investigação sobre como estudos empíricos quantitativos interpretam a influência da capacidade absortiva na inovação. Para tanto, é feita uma revisão da literatura, utilizando trinta e sete estudos que abordam esse tema. Os resultados apontam para uma tendência de predomínio da abordagem dinâmica da capacidade absortiva na literatura sobre capacidade absortiva e inovação. Além disso, foi reforçado novamente o efeito positivo da capacidade absortiva na inovação, e a necessidade de maior rigor na metodologia e maior dinamicidade das medidas de capacidade absortiva.

Referências

COHEN, W. M. and LEVINTHAL, D. A. Absorptive capacity: a new perspective on learning an innovation. Administrative Science Quarterly. 1990, vol. 35, no. 1, pp. 128-152, ISSN: 0001-8392 [viewed 21 November 2019]. DOI: 10.2307/2393553. Avaliable from: https://www.jstor.org/stable/2393553?seq=1

MEIRELLES, D. S.  and CAMARGO, Á. A. B. Capacidades Dinâmicas: O Que São e Como Identificá-las?. Rev. adm. contemp. [online]. 2014, vol. 18, no. Spe, pp.41-64, ISSN 1982-7849 [viewed 21 November 2019]. DOI: 10.1590/1982-7849rac20141289. Available from: http://ref.scielo.org/r65mhh

ZAHRA, S. A. and GEORGE, G. Absorptive capacity: a review, reconceptualization, and extension. Academy Management Review. 2002, vol. 27, no. 2, pp. 185-203, e-ISSN: 1930-3807 [viewed 21 November 2019]. DOI: 10.2307/4134351. Avaliable from: https://www.jstor.org/stable/4134351?seq=1

Para ler os artigos, acesse

RAM, Rev. Adm. Mackenzie vol.20 no.6 São Paulo  2019

Link externo

RAM. Revista de Administração Mackenzie – RAM: www.scielo.br/ram/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

BRUNSTEIN, J.; DOMENICO, S. M. R. de and SILVA, V. B. S. Capacidade absortiva x inovações: quais as características do cenário atual? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/02/14/capacidade-absortiva-x-inovacoes-quais-as-caracteristicas-do-cenario-atual/

 

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