O impacto do desemprego e o bem-estar psicológico

Ariana Fidelis, Doutoranda em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, GO, Brasil.

Imagem: Pixabay

O artigo “Bem-estar de pessoas desempregadas: relações com valor do trabalho e tempo de desemprego”, publicado no periódico Estudos de Psicologia (Campinas, vol. 38) discute o poder moderacional do tempo de desemprego na relação entre o valor do trabalho e o bem-estar psicológico. Observa-se nos últimos anos que acontecimentos de nível macrossocial como o desemprego e suas relações com variáveis psicológicas, como bem-estar, tem despertado maior interesse das ciências sociais. Uma das razões que explica esse aumento expressivo dos estudos é o fato de o desemprego se constituir como uma das consequências mais devastadoras ao bem-estar, sendo ele prolongado ou não.

A pesquisa quantitativa contou com a participação de 256 pessoas, sendo 77 homens e 188 mulheres com idade média de 27 anos, em sua maioria com ensino médio completo, que no momento da pesquisa estavam desempregados na cidade de Goiânia. A coleta dos dados ocorreu por meio de questionários eletrônicos composto pelas escalas de Afetos Positivos e Negativos, Florescimento e a Escala de Valores Intrínsecos do trabalho e dados sociodemográficos, posteriormente submetidos a análises estatísticas.

Os resultados das análises de regressão hierárquica demonstram que a duração do desemprego atua como moderador na relação entre o valor do trabalho e o bem-estar psicológico, de modo que quanto maior a duração do desemprego maior é o bem-estar psicológico das pessoas. Consequentemente, quanto menor for à duração do desemprego maior é a vivência de sentimentos negativos. Isso acontece pois, à medida que o tempo sem trabalho aumenta, o estado de dor e torpor diminuem, o que possibilita o aparecimento dos aspectos positivos como motivação e sentimentos de excitação que proporcionam o bem-estar, sendo assegurados outros fatores como apoio social, planos de seguridade dentre outros.

Esses achados reforçam os pressupostos de que a situação de desemprego não é ruim para todas as pessoas. Isso porque os indivíduos desempregados, apesar de enfrentarem um momento conturbado, não são vítimas passivas e, em geral, eles reagem ao desemprego com várias estratégias de enfrentamento, a fim de manter seu próprio equilíbrio psicológico e se proteger. Como visto, outros fatores como o valor do trabalho, apoio social, otimismo, identificação com a tarefa, políticas de proteção, seguro desemprego, duração do desemprego podem proporcionar o enfrentamento positivo dessa situação e a proteção ao desgaste do bem-estar. Assim, ao se analisar a situação de desemprego é importante considerar tais fatores e o tempo de duração como demonstrado, pois esses podem influenciar o bem-estar.

Espera-se que estes resultados possam contribuir para comunidade científica em geral e que incentive novas pesquisas, na incessante tarefa de investigação sobre quais fatores e circunstâncias levam algumas pessoas, que, apesar de enfrentarem momentos de extrema dificuldade e limitação, como é o caso do desemprego, ainda são capazes por múltiplos fatores a continuar prosseguindo em suas vidas, conquistando os espaços e galgando o seu futuro. Apesar dos resultados demonstrarem que os desempregados são dotados da capacidade de ressignificar situações dolorosas como a perda do emprego, trazendo à existência a importância do trabalho na vida do homem para conquista de seus objetivos, o desemprego ainda é um fenômeno com diferentes nuances, que desestabiliza e exclui muitos indivíduos.

A seguir, assista ao vídeo da pesquisadora Ariana Fidelis ampliando a discussão do estudo.

Referências

MOUSTERI, V.; DALY, M. and DELANEY, L. The scarring effect of unemployment on psychological well-being across Europe. Social Science Research [online]. 2018, vol. 72, pp. 146-169, ISSN: 0049-089X [viewed 1 September 2020]. DOI: 10.1016/j.ssresearch.2018.01.007. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0049089X17307299

NEKOEI, A. and WEBER, A. Does extending unemployment benefits improve job quality? American Economic Review, [online]. 2017, vol. 107, no. 2, pp. 527-561, e-ISSN 1944-7981 [viewed 1 September 2020]. DOI: 10.1257/aer.20150528. Available from: https://www.aeaweb.org/articles?id=10.1257/aer.20150528

Para ler o artigo, acesse

FIDELIS, A. and MENDONÇA, H. Well-being of unemployed people: relations with work values and time of unemployment. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2021, vol. 38, e190014, ISSN: 1982-0275 [viewed 2 September 2020]. DOI: 10.1590/1982-0275202138e190014. Available from: http://ref.scielo.org/4pbbx5

Link externo

Estudos de Psicologia (Campinas) – ESTPSI: www.scielo.br/estpsi

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

FIDELIS, A. O impacto do desemprego e o bem-estar psicológico [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/09/24/o-impacto-do-desemprego-e-o-bem-estar-psicologico/

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Post Navigation