Desafios do presente e um olhar para o futuro da RAE

Felipe Zambaldi é editor-adjunto da RAE-Revista de Administração de Empresas, professor na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, São Paulo, SP, Brasil.

Maria José Tonelli é editora-chefe da RAE-Revista de Administração de Empresas, professora na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, São Paulo, SP, Brasil.

O ano de 2021 trouxe, além da comemoração dos 60 anos da RAE, uma importante mudança no processo editorial com a adoção do fluxo contínuo na publicação, o que permite a disseminação ágil dos artigos já aprovados (Tonelli e Zambaldi, 2021a). Assim, apresentamos nessa Semana Especial um pouco da história, memória e passado em estudos organizacionais, tema da primeira edição do ano comemorativo da Revista. Da atual edição, acompanhamos um pouco da história e do contexto social no qual a RAE foi fundada. Refletimos, em primeiro lugar, sobre o papel histórico da Revista na construção da academia brasileira em Administração, bem como seu impacto em várias gerações de pesquisadoras e pesquisadores no País. Pontuamos então, alguns dos principais problemas enfrentados na RAE e seus desafios futuros que podem, eventualmente, ser úteis para os demais periódicos brasileiros no campo da Administração (Tonelli e Zambaldi, 2021b).

O desafio é particularmente complexo para um periódico que contribuiu para a construção do conhecimento no País no campo aplicado e acadêmico. Os produtos dos esforços da academia brasileira em Administração para se internacionalizar levaram ao aumento da produção de pesquisadores brasileiros e da presença de nossos periódicos no cenário global, mas também forjaram de alguma forma a padronização de temas e métodos em nossas escolhas de pesquisa, com maior grau de mimetização do que é publicado no que costumamos classificar como top journals, porém agravada por algum atraso que enfrentamos para tomar contato com o que se pesquisa nos centros com mais fácil acesso a esses periódicos qualificados como de ponta. Há ainda uma barreira linguística, embora hoje a RAE publique artigos em inglês, português e espanhol, pois o histórico de publicações predominantemente em português e a escassez de periódicos brasileiros indexados em bases internacionais – periódicos esses que ainda são a maior fonte de citações da revista – inibem o incremento dos indicadores do impacto da RAE nas bases tidas como principais em comparação a outros periódicos também nelas indexados, dificultando sua inclusão em listas de periódicos valorizados como publicações de excelência nos eixos dominantes na academia mundial.

As tendências de padronização das práticas adotadas em periódicos para atrair submissões, avaliar trabalhos e distribuir conteúdo são acompanhadas pela implementação em larga escala de sistemas únicos de informação e comunicação pela academia mundo afora, porém, há um contingente global de pesquisadores ansiando por maior abrangência de meios reconhecidos como meritórios da disseminação da pesquisa, tanto em quantidade como em forma, tais como livros, casos de ensino e até produtos audiovisuais e apresentações, sejam valorizados e incentivados como produtos de pesquisa, de modo a dar mais liberdade para pesquisadores nas escolhas dos meios de publicação que possam gerar maior alcance e diversidade de público.

Outro ponto importante é a sustentabilidade financeira de um periódico mantido por uma escola de negócios ser competitivo em um mercado em que publishers profissionais são predominantes, situação que se estende à maior parte dos periódicos da área no Brasil, pois costumam ser vinculados e sustentados por programas de pós-graduação (Alcadipani, 2017). Verificamos, por fim, que a alta meia-vida de seus artigos tem duas faces: de um lado, mostra a importância de artigos e autores clássicos que têm sido reiteradamente citados, mas, de outro, essas citações não são contempladas no cálculo de fator de impacto pelos indexadores internacionais.

Imagem: Carolina Bonesso Vitorino, acervo FGV EAESP.

Por fim, podemos comemorar que a RAE se tornou mais colaborativa. Mesmo que com isso tenha cedido parte de sua identidade como um espaço de construção e disseminação de um pensamento nacional em Administração, poderá seguir seu caminho sem renunciar a uma vocação orientada ao impacto social e à contribuição em demandas como redução de desigualdades diversas, sustentabilidade ambiental e social, inclusão social e desenvolvimento socioeconômico, há oportunidade para a RAE e outras publicações ao seu entorno assumirem a responsabilidade de capitanear, em parte, essas transformações no contexto da publicação acadêmica.

Em relação ao suporte das instituições de ensino, só será possível vislumbrar um caminho de maior impacto social na publicação em Administração se tais instituições e seus programas de pós-graduação abraçarem uma diversidade maior de periódicos e meios de comunicação que se comprometam com tal impacto. E isso também depende do suporte de órgãos reguladores da pesquisa em âmbito nacional. A redução dessas desigualdades pode ser encampada como uma bandeira da RAE e de periódicos brasileiros, valendo-se de ventos favoráveis como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, o movimento DORA e a potencialidade de avaliação do impacto social das instituições e seus programas por parte de entidades acreditadoras. Mas contar com que esses ventos favoráveis façam o trabalho sozinhos seria uma ilusão, portanto há um longo trabalho de protagonismo pela frente.

Neste vídeo, Felipe Zambadi fala sobre a evolução da RAE, destacando os principais pontos do periódico e projetando o que considera como principal desafio para o futuro do periódico.

Referências

ALCADIPANI, R. Periódicos brasileiros em inglês: A mímica do publish or perish “global”. RAE-Revista de Administração de Empresas [online]. 2017, vol.57, no.04, pp.405-411 [viewed 12 May 2021]. https://doi.org/10.1590/s0034-759020170410. Available from: http://ref.scielo.org/4kdb3z

TONELLI, M. J. and ZAMBALDI, F. Perdas e Ganhos: Pesquisa nas Ciências Administrativas do período pandêmico. RAE-Revista de Administração de Empresas [online]. 2021, vol.61, no.01 [viewed 12 May 2021].  https://doi.org/10.1590/s0034-759020210101. Available from: http://ref.scielo.org/yp9mjg

TONELLI, M. J. and ZAMBALDI, F. Especial 60 anos da RAE: De Estrela Solitária no passado aos desafios futuros. RAE-Revista De Administração De Empresas [online].  2021b, vol.61, no.03, pp. 1-15 [viewed 12 May 2021]. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020210302

Links externos

RAE-Revista De Administração De Empresas – RAE: www.scielo.br/rae

Sobre os autores

Felipe Zambaldi

Possui graduação em Administração de Empresas pela FGV EAESP e em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, doutorado em Administração de Empresas pela FGV EAESP. É professor na FGV EAESP, desde 2007 é editor-adjunto da RAE-Revista de Administração de Empresas, e chefe do departamento de ensino em marketing da FGV EAESP desde 2020. E-mail: felipe.zambaldi@fgv.br

Maria José Tonelli

Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, mestrado e doutorado em Psicologia Social também pela PUC SP. É professora e pesquisadora da linha de Estudos Organizacionais na FGV EAESP e atual editora-chefe dos periódicos RAE-Revista de Administração de Empresas, GV-executivo e GVcasos. E-mail: maria.jose.tonelli@fgv.br

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

Desafios do presente e um olhar para o futuro da RAE [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2021 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2021/05/21/desafios-do-presente-e-um-olhar-para-o-futuro-da-rae/

 

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