Anita Liberalesso Neri, Professora Colaboradora no Departamento de Psiquiatria, docente no Programa de Pós-Graduação em Gerontologia e Coordenadora do Estudo Fibra – polo Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Campinas, SP, Brasil.
Samila Sathler Tavares, psicóloga pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Doutora em Educação (Psicologia Educacional) pela Unicamp e Professora Assistente Doutora na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH/USP), Curso de Gerontologia, atua nos programas de Pós-Graduação em Gerontologia da EACH/USP e da FCM/Unicamp, Campinas, SP, Brasil.
A avaliação da satisfação com a vida é um julgamento de valor que adultos e idosos fazem de sua vida como um todo, considerando critérios individuais e societais. Dada sua importância para a saúde, o bem-estar e a longevidade, várias áreas da Gerontologia têm se debruçado sobre as questões da prevalência da satisfação às idades e, principalmente se ela muda ou se se mantém estável com a passagem do tempo biográfico e social. Pergunta-se, também, quais são os fatores associados aos padrões de estabilidade e mudança da satisfação ao longo da velhice. O Estudo da Fragilidade em Idosos Brasileiros, realizado em Campinas e em Ermelino Matarazzo (cidade de São Paulo), sob os auspícios da Universidade Estadual de Campinas, coletou dados sobre a variável em linha de base (2008-2009) e, nove anos depois (2016-2017), no estudo de seguimento de uma coorte de 360 idosos que tinha 72 anos ou mais na medida inicial.
No estudo Estabilidade e mudança em medidas prospectivas de satisfação com a vida em idosos: Estudo Fibra, a variável dependente foi estabilidade x mudança em satisfação com a vida, avaliada pela questão “Quão satisfeito com a sua vida o (a) senhor (a) (a) se sente” (três intensidades)? A medida da mudança foi dada pelos deltas correspondentes à piora, à estabilidade e à melhora da satisfação da linha de base para o seguimento. As variáveis independentes foram número de doenças, depressão e dependência para o desempenho de atividades instrumentais de vida diária; saúde subjetiva; envolvimento em atividades avançadas de vida diária; satisfação com a memória e o apoio social; e sexo, idade e escolaridade.
Contrariando estereótipos, mas confirmando dados de pesquisas robustas feitas com amostras de outros países, a satisfação com a vida tende a ser uma dimensão estável ou ascendente do funcionamento psicológico de idosos. Seu declínio em idade avançada é sugestivo da influência de condições negativas de saúde objetiva e subjetiva, depressão e morbidades, não simplesmente do avanço da idade.
Nas próximas décadas o Brasil enfrentará sérios desafios associados ao aumento nos custos diretos e indiretos dos cuidados em saúde para uma população idosa cada vez mais velha e numerosa. É importante que os profissionais da saúde sejam formados em uma perspectiva multidimensional que acolha o manejo de condições educacionais, motivacionais e comportamentais, nos vários níveis de Atenção à saúde de adultos e idosos.
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Para ler o artigo, acesse
BATISTONI, S.S.T., et al. Estabilidade e mudança em medidas prospectivas de satisfação com a vida em idosos: Estudo Fibra. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia [online]. 2022, vol. 25, no. 5, e210244 [viewed 6 June 2022]. https://doi.org/10.1590/1981-22562022025.210244.pt. Available from: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/rvCgRNSVnVWRD54mrXNrMSv/
Link(s)
Escola de Artes, Ciências e Humanidades – USP/EACH: http://www.each.usp.br
Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia: https://www.rbgg.com.br/
Perfil Instituição: @usp.oficial
Perfil do periódico: @revistabgg
Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia – RBGG: https://www.scielo.br/j/rbgg
Autora
Anita Liberalesso Neri é psicóloga e Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Professora Colaboradora no Departamento de Psiquiatria, docente no Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. Seus interesses em pesquisa abrangem os temas: bem-estar psicológico, resiliência psicológica, mecanismos de autorregulação do self, fragilidade e atitudes em relação à velhice.
http://lattes.cnpq.br/2210236741252357
https://orcid.org/0000-0002-6833-7668
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