Analogias e (Des)analogias entre a evolução cultural e a evolução biológica

Paulo C. Abrantes, Professor titular aposentado da Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF – Brasil.

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Desde que Darwin propôs um paralelismo entre a evolução biológica e a dinâmica cultural, em determinados âmbitos, perduram controvérsias sobre a pertinência e a fertilidade dessa comparação. O artigo A cultura pode evoluir?, publicado no periódico Trans/Form/Ação, vol. 46, no. Spe. 1 (2023), articula uma definição suficiente abstrata do processo evolutivo que é fiel à sua conceituação na biologia contemporânea, e que permite, ademais, reconhecer processos similares em outros domínios, especialmente no campo das ciências humanas, que, tradicionalmente, estão voltadas para o estudo da cultura, em suas várias dimensões. 

Parte-se de uma distinção entre diversos tipos de população no domínio cultural, situados em vários níveis de análise. Cada um dos parâmetros associados a uma definição mínima do processo evolutivo é aplicado a essas várias populações, privilegiando-se a população de traços culturais. Esse procedimento permite identificar as analogias, bem como as (des)analogias, entre o processo evolutivo biológico e a dinâmica cultural nos diferentes níveis em que esta última ocorre, e que estão associados a cada uma dessas populações.  

Esse trabalho conceitual permite constatar que alguns dos parâmetros utilizados para caracterizar o processo evolutivo têm que ser especificados de diversos modos, segundo a população cultural considerada e o nível em que ela se situa. A diversidade dos fenômenos culturais torna um tanto quimérico o objetivo, pretendido por alguns autores, de alcançar, através de um arcabouço conceitual evolucionista, o grau de unidade no estudo dos fenômenos culturais semelhante àquele obtido no domínio dos fenômenos biológicos. 

Figura 1. Tipos de descrição populacional.

Isso não impede que se aufira ganhos, tanto filosóficos quanto científicos, em se articular um esquema conceitual abstrato que se mostre aplicável tanto à evolução das espécies biológicas quanto à dinâmica cultural. Isso permite apreciar tanto a abrangência potencial e o poder das explicações evolucionistas, quanto as suas limitações. 

Outra vantagem da perspectiva adotada neste artigo é que permite revelar similaridades entre os referidos processos, que passam desaparcebidas a um primeiro olhar, abrindo, desse modo, espaço para uma investigação a respeito de como eles podem ter interagido, em especial no caso da evolução do Homo sapiens. O sucesso desta última investigação – que vai muito além do que se propõe nesse artigo – requer uma maior circulação de ideias entre a biologia e as ciências humanas, para a qual o presente trabalho pretende contribuir.

Sobre o autor – Paulo Cesar Coelho Abrantes

Paulo Cesar Coelho Abrantes lecionou e fez pesquisas na Universidade de Brasília e em outras universidades, no Brasil e no exterior, nas áreas de Filosofia da Ciência, Filosofia da Mente, Filosofia da Biologia e História da Ciência. Atualmente é pesquisador independente dedicando-se, sobretudo, aos tópicos da evolução cultural e da evolução da cooperação na linhagem hominínea, abordando-os tanto de uma perspectiva filosófica quanto histórica.

Referências

ABRANTES, P. Uma mente embebida na cultura. Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea [online]. 2018,  vol. 6,  n. 1, pp. 7-46, [viewed 11 September 2023]. https://doi.org/10.26512/rfmc.v6i1.18649. Available from: https://periodicos.unb.br/index.php/fmc/article/view/18649 

ABRANTES, P. Human evolution: a role for culture? In: ALWOOD, J., et. al. (ed.). Controversies and Interdisciplinarity. Amsterdam: John Benjamins, 2020c. p. 133-154. 

DARWIN, C. The descent of man, and selection in relation to sex. London: Penguin, 2004.

GODFREY-SMITH, P. Darwinian populations and natural selection. Oxford: Oxford University Press, 2009.

JABLONKA, E. and LAMB, M. Evolution in four dimensions. Cambridge (MA): The MIT Press, 2006.

MESOUDI, A. Cultural evolution: how darwinian theory can explain human culture & synthesize the social sciences. Chicago: University of Chicago Press, 2011. 

RICHERSON, P. and BOYD, R. Not by genes alone: how culture transformed human evolution. Chicago: University of Chicago Press, 2005.

Para ler o artigo, acesse

ABRANTES, P. A cultura pode evoluir? Trans/Form/Ação [online]. 2023, vol. 43 (spe1), pp. 427-464 [viewed 11 September 2023]. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2023.v46esp1.p427.  Available from: https://www.scielo.br/j/trans/a/mLsLdxdXMzpXnyhZL6zqVCx/ 

Links externos

Trans/Form/Ação – TRANS: https://www.scielo.br/trans/

Trans/Form/Ação – Edição completa (vol. 46, no. Spe 1, 2023): https://www.scielo.br/j/trans/i/2023.v46nspe1/ 

Trans/Form/Ação: Academia.edu| Instagram | FacebookSite

Cultural Evolution Society: https://culturalevolutionsociety.org/

Paulo Abrantes: Site | ORCID

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

ABRANTES, P.C. Analogias e (Des)analogias entre a evolução cultural e a evolução biológica [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/09/11/analogias-e-desanalogias-entre-a-evolucao-cultural-e-a-evolucao-biologica/

 

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