Atividade Criadora Coletiva de professoras que ensinam ciências nos anos iniciais de escolarização

Maria Nizete de Azevedo, docente do curso de Ciências da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Diadema, São Paulo, Brasil.

Ana Luiza Bustamante Smolka, docente da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, São Paulo, Brasil.

Logo do periódico Educação em Revista.

O estudo Atividade Criadora Coletiva: Unidade de Resistência do Trabalho Docente, publicado na Educação em Revista, pauta a imaginação e criação na atividade docente de professoras dos anos iniciais de escolarização. Dois pilares mostram a relevância da investigação: a âncora teórica (a destacar o conceito de trabalho social de Marx e os conceitos das atividades reprodutiva e criadora de Vigotski) e o vínculo da pesquisa com um amplo projeto de parceria colaborativa entre universidade e escola.

As relações construídas com as professoras da escola parceira ao longo de três anos (2019-2022), regidas por laços de confiança e colaboração, abriram as portas de suas salas de aula, lugar por excelência de vivências, por conseguinte, de afetos e das (im)possibilidades de ensinar e de aprender. Outra relevância é o fato de desmistificarmos a ideia de que a criação é para poucos iluminados, o que nos mobilizou a enfrentar o desafio de encontrar lugar(es) para a imaginação criadora em meio às inúmeras contradições sociais imanentes ao trabalho docente e à educação no Brasil.

Sim, as professoras são criadoras e autoras de suas práticas! Na atividade pedagógica, educar e criar perfazem um caminho de resistência às condições de um trabalho alienante. As discussões são abrigadas nas condições concretas de vivência do trabalho docente, entretecidas no âmago das relações interpessoais, a nos dizer do coletivo como unidade de resistência nas tensões da atividade criadora.

Professora e alunos desenvolvendo atividades na sala de aula.

Imagem: Projeto Formação profissional de professores e gestão democrática: uma parceria universidade-escola para a melhoria do ensino público (2019).

Figura 1. Professora e crianças em processo de criação do esqueleto com rolinho de papel higiênico.

Fruto da pesquisa de pós-doutorado de Maria Nizete de Azevedo com supervisão de Ana Luiza Bustamante Smolka, o artigo flagra um conjunto de ações didáticas constituidoras de um evento criado pelo coletivo docente para recepcionar um modelo anatômico de um esqueleto. Inspiradas em Vigotski e no próprio processo coletivo de criação, elegemos a “atividade criadora coletiva” como unidade de análise, a qual mediou o desafio de aproximar a análise do método dialético e de interpretar historicamente a atividade criadora.

Mergulhamos na essência da atividade criadora coletiva para evidenciar elementos que falam dos processos imaginários e criadores das professoras. Nesse mergulho, encontramos uma atividade criativa, essencialmente coletiva, entretecida por elementos oriundos da relação entre imaginação e realidade, emergidos da inter-relação das experiências pessoais, profissionais, alheias e históricas, com fortes enlaces emocionais.

Deparamo-nos não apenas com a coexistência de atividades reprodutivas e criadoras na atividade das docentes, mas com processos de criação que emanaram das e entre as atividades reprodutivas prescritas, constituindo-se e sendo constituidores de práticas coletivas de resistência. Vimos professoras se liberarem de suas realidades para ousarem em buscar superar as contradições a elas impostas, dando asas aos seus pensamentos planados em sua criação coletiva.

Como disse Vigotski (2009, p. 117) a liberdade é a “condição imprescindível de qualquer criação”. Ele reitera esse argumento ao afirmar que “a lei básica da arte exige essa livre combinação dos elementos da realidade” (VIGOTSKI, 2016, p. 358).

Esqueleto feito de rolos de papel higiênico, criado por alunos em uma atividade em sala de aula.

Imagem: Projeto Formação profissional de professores e gestão democrática: uma parceria universidade-escola para a melhoria do ensino público (2019).

Figura 2. Produto da criação: esqueleto pronto.

Esses resultados dialogam com pesquisas sobre formação e desenvolvimento profissional docente, a nos dizer da importância de pautar a imaginação e criação na base do processo educativo e dos processos formativos como um caminho de resistência à alienação imposta às professoras e aos professores continuamente. Porque criar é resistir!!!

Ainda mais, o estudo realizado tornou-se fonte de inspiração para pelo menos duas pesquisas de mestrado em desenvolvimento, cujo compromisso é apropriar-se da obra de Vigotski para ampliá-la e torná-la ótica de análise de processos imaginários de docentes e de crianças na Educação infantil e em aulas de ciências nos anos iniciais.

Referências

GONÇALVES, A.C.A.B. Imaginação e criação artística enquanto necessidade e essência humana à luz da Teoria Histórico-Cultural. Revista Eixo [online]. 2019, vol. 8, no. 2, pp. 77-87 [viewed 15 September 2023]. Available from: http://revistaeixo.ifb.edu.br/index.php/RevistaEixo/article/view/778

PEQUENO, S., BARROS, D. and PEDERIVA, P.L.M. Criação e autoria nas culturas tradicionais desde a Teoria Histórico-Cultural. Fractal, Rev. Psicol. [online]. 2019, vol. 31, no. spe, pp. 208-213 [viewed 15 September 2023]. https://doi.org/10.22409/1984-0292/v31i_esp/29002. Available from: https://www.scielo.br/j/fractal/a/jYZxbPSHydxBTHT4bHKxchv/

PINO, A. A produção imaginária e a formação do sentido estético: Reflexões úteis para uma educação humana. Pro-Posições [online]. 2006, vol. 17, no. 2, pp. 47-69 [viewed 15 September 2023]. Available from: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643628/11147

SMOLKA, A.L.B. A perspectiva histórico-cultural como orientação para a análise do trabalho – desafios do trabalho pedagógico na contemporaneidade. Horizontes [online]. 2021, vol. 39, no. 1, e021028 [viewed 15 September 2023]. https://doi.org/10.24933/horizontes.v39i1.1202. Available from: https://revistahorizontes.usf.edu.br/horizontes/article/view/1202

VIGOTSKI, L.S. Imaginação e criação na infância. São Paulo: Artmed, 2009.

VIGOSTKY, L.S. Teoria de las emociones: estudio histórico-psicológico. Madri: Edicones Akal, 2004.

Para ler o artigo, acesse

AZEVEDO, M.N. and SMOLKA, A.N.B. Atividade Criadora Coletiva: Unidade de Resistência do Trabalho Docente. Educ. rev. [online]. 2023, vol. 39, e40604 [viewed 15 September 2023]. http://doi.org/10.1590/0102-469840604. Available from:https://www.scielo.br/j/edur/a/QC5tzgvdVgsHpRJ3bMtHYcg/ 

Links externos

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Maria Nizete de Azevedo: https://ppg.pecma.unifesp.br

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

AZEVEDO, M.N. and SMOLKA, A.L.B. Atividade Criadora Coletiva de professoras que ensinam ciências nos anos iniciais de escolarização [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/09/15/atividade-criadora-coletiva-de-professoras-que-ensinam-ciencias/

 

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