Potências, incoerências e desafios latinoamericanos da Educação Interprofissional

María Fernanda Vásquez, Professora do Programa de Pós-graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências (PPGEFHC) – Universidade Federal da Bahia, Salvador (UFBA), BA, Brasil.

Mirelle Finkler, Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, Brasil. 

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O artigo Educación Interprofesional en Salud en el contexto neoliberal: incongruencias y desafíos inaugura a sessão de debates do volume 27 do periódico Interface – Comunicação, Saúde, Educação. A publicação trata da Educação Interprofissional e da Prática Colaborativa (EIPC) que emergem como um modelo de educação e de trabalho em saúde, enfatizando a colaboração, a interdependência e serviços integrais, em comparação com abordagens individualistas e fragmentadas. 

Nesse estudo, Vasquez, Finkler, Ayala e Verdi argumentam que a EIPC – alardeada como este novo modelo capaz de promover transformações nos sistemas de saúde em todo o mundo, visando melhorar o atendimento, a qualidade dos serviços, reduzir custos e alcançar metas de cobertura universal – encontra, no entanto, diversas adversidades no contexto latino-americano.

As reformas neoliberais e as condições precárias de trabalho apresentam desafios significativos para a sustentabilidade de equipes interprofissionais trabalhando colaborativamente. As limitações incluem alta rotatividade e flexibilidade laboral em sistemas de saúde sujeitos a reduções de gastos, especialmente em profissões com salários baixos e carga de trabalho excessiva. 

A necessidade de serviços integrais encontra obstáculos como o enfoque biomédico, a fragmentação e hierarquização de saberes, e políticas setoriais que não abordam a complexidade do cuidado em saúde. Ao mesmo tempo, os profissionais enfrentam discursos contraditórios, sendo pressionados a serem colaborativos em um ambiente neoliberal individualista e competitivo, enquanto, no nível institucional, a lógica de competências adotada pelo modelo reforça essa dualidade.

Círculo de punhos fechados de diferentes tons de pele, representando unidade e diversidade.

Imagem: Pexels.

O artigo interpela por uma análise crítica do potencial epistêmico e ontológico da EIPC, reconhecendo sua capacidade de repensar a subjetividade e promover transformação nas práticas, mas também apontando o risco de contribuir para a reprodução e o reforço da racionalidade neoliberal que enfatiza a flexibilidade laboral e a competitividade. 

Embora a EIPC esteja repleta de oportunidades para abordar e se trabalhar as desigualdades sociais e as questões estruturais na saúde, não deve ser reduzida à aplicação acrítica de modelos capitalistas importados. Os autores destacam então a necessidade de se compreender seu impacto no contexto latino-americano e a importância de mudanças estruturais na forma como a sociedade se relaciona e constrói projetos coletivos, especialmente os relacionados ao trabalho, à educação e à saúde.

O artigo completo oferece uma visão crítica e reflexiva sobre a implementação da EIPC na América Latina, explorando suas complexidades, incoerências, desafios e potenciais contribuições para a transformação do sistema de saúde na região.

Referências

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Links externos

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Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC: https://ppgsc.ufsc.br/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

VÁSQUEZ, M.F. and FINKLER, M. Potências, incoerências e desafios latinoamericanos da Educação Interprofissional [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2023 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2023/12/21/potencias-incoerencias-e-desafios-latinoamericanos-da-educacao-interprofissional/

 

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