Desafios e proposições na docência e formação continuada na educação básica

Maria Lúcia de Resende Lomba, Pós-doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Belo Horizonte (MG), Brasil.

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Produtores de saberes que são, há tempos, os/as professores/as são percebidos como profissionais de interações humanas, considerando-as como a essência do seu trabalho, podendo tais interações movimentar mudanças em suas práticas e sua identidade profissional (Tardif; Lessard, 2014, p. 257). Foi nessa perspectiva das relações que Teixeira (2007) também se propôs a tematizar a matéria-prima de que é feita a docência. Sua busca foi pelo que fosse “a origem, o que funda, o que principia, sem o que não se pode falar em mestre, nem em professor, nem em trabalhador da escola, nem em profissional da educação” (Teixeira, 2007, p. 428). Para a autora, a relação social – inserida na cultura, mediada pelo conhecimento e pela memória cultural – entre docentes e discentes é a matéria da qual a docência é constituída.

Um não existe sem o outro. Docentes e discentes se constituem, se criam e recriam mutuamente, numa invenção de si que é também uma invenção do outro. […] Estamos, pois, nos domínios da alteridade. […] Presente no humano e na vida em comum, estamos nos domínios do social, da cultura, da pólis. Estamos no domínio do político. Uma vez originada em interações sociais presentes no cenário da vida em comum, a condição docente é, também, da ordem do político. (Teixeira, 2007, p. 429-430).

Teixeira (2007) desenvolveu o argumento de que tal relação, presente nos territórios da escola e da sala de aula, “poderá favorecer ou desfavorecer, impedir ou realizar experiências emancipatórias e humanizadoras, ou o seu inverso nos (in)acabamentos éticos e estéticos nela implicados” (Teixeira, 2007, p. 433). Logo, a docência se tece, se compõe, na própria relação social entre docente e discente.

Fotomontagem com três fotos de crianças participando de atividades educacionais em sala de aula, orientadas pela professora

Imagem: arquivo pessoal da autora.

Diante do exposto, no artigo Profissão docente e formação de professores/as para a educação básica: reflexões e referenciais teóricos (Lomba; Schuchter, 2023) publicado na Educação em Revista (vol. 39, 2023), as autoras partiram do princípio de que cada profissional da educação, em seu contexto de vida e de profissão, constrói sua identidade, sua profissionalidade, sua prática pedagógica, seu percurso formativo, pois, como nos afirma António Nóvoa, há muitos modos de exercer a docência e de se tornar professor/a. No entanto, em todos eles “é imprescindível compreender a complexidade da profissão em todas as suas dimensões: teóricas, experienciais, culturais, políticas, ideológicas e simbólicas” (Lomba; Faria Filho, 2022, p. 1).

Ainda de acordo com Lomba e Faria Filho (2022), para Nóvoa esse conhecimento profissional docente é contingente, coletivo e público. É apoiado nessa certeza que ele defende um novo modelo de formação, “que garanta aos professores espaços e tempos para o desenvolvimento do autoconhecimento e da autorreflexão sobre as dimensões pessoais, profissionais e coletivas do professorado” (Lomba; Faria Filho, 2022, p. 1). Tais considerações sobre a docência provoca as autoras a pensarem: quais atribuições são esperadas do profissional docente? Esse questionamento fomenta a discussão em torno de sua formação, sua profissão e sua identidade.

Nesse caminho, o artigo traz reflexões sobre a docência, a formação inicial e continuada e se orienta pelas seguintes questões: o que cabe ao docente em seu percurso formativo? Como ele se constitui, se identifica e se forma, ao longo de sua carreira e em seus ambientes de trabalho? Como vem se constituindo as políticas públicas de formação de professores/as? Na tentativa de responder tais perguntas, as autoras Lomba e Schuchter (2023) recorrem a diagnósticos acerca do cenário educacional que revelam uma crise no que tange aos modelos de formação docente.

Cinco crianças, quatro meninas e um menino, em atividades na biblioteca, vestindo uniformes escolares azuis. Dois professores, um homem e uma mulher, estão de pé atrás da mesa das crianças, também posando para a foto.

Imagem: arquivo pessoal da autora.

Os estudos realizados por Gatti (2010; 2013; 2014; 2021) e Gatti et al. (2019) apontam uma insuficiência no tocante à parte curricular dedicada à formação específica de professores/as na preparação do licenciando para o desenvolvimento do trabalho na educação básica. Especificamente neste artigo, foi abordado sobre a formação para os anos iniciais do Ensino Fundamental e para a Educação Infantil, considerando uma formação que permita ao professor/a compreender e problematizar a realidade social e o trabalho.

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que apresenta uma diversidade epistemológica acerca dos temas docência e formação de professores/as, ancorada em autores como Nóvoa (1995; 1999; 2009; 2017; 2019), Teixeira (2007), Gatti (2020; 2021), Gatti et al. (2019), Freire (2005), entre outros. O corpo do artigo tem como materialidade um recorte de duas teses de doutorado (Lomba, 2020; Schchter, 2017); artigos de periódicos, entrevistas e capítulos de livros.

Para situar a discussão e dimensionar a relevância e a fecundidade dos temas propostos, foi apresentado, numa perspectiva histórica, os conceitos construídos acerca da docência e da identidade do profissional docente ao longo das últimas décadas do século XX. Também foi apresentado aspectos fundamentais para se pensar sobre o cenário desafiador da formação docente, acerca da Resolução CNE/CP nº 02/2019, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica (Brasil, 2019). E, por fim, apontamentos e considerações com o intuito de contribuir com a tão grande necessidade evidenciada no campo educacional: buscar, pensar coletivamente, comprometer-se e praticar uma formação significativa e transformadora.

Professora e alunos sentados no chão de uma sala de aula, em círculo. A docente está sorrindo, com um livro em mãos.

Imagem: arquivo pessoal da autora.

E, assim, as autoras consideram que, professores/as – em seus coletivos de redes de ensino, de instituições, de trabalho, de sociedade – com “compromisso político e conscientização” (Freire, 2005) podem grassar conquistas, inovações, valorização e rupturas com modelos educacionais ineficientes.

Para além de pensar em metodologias durante as aulas, faz parte da docência pensar o currículo e problematizar as questões ligadas às políticas de formação, à profissão e à professoralidade: fazer emergir condições mais favoráveis de trabalho e promoção de ações para as mudanças necessárias na busca por uma educação de qualidade, em um processo consciente, responsável e comprometido de formação docente, que fomente transformações sociais.

Referências

BRASIL. Resolução CNE/CP nº 2, de 20 de dezembro de 2019. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação). Brasília: Ministério da Educação, Conselho Nacional da Educação, 2019.

FREIRE, P. Conscientização, teoria e prática da libertação. São Paulo: Centauro, 2005.

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Para ler o artigo, acesse

LOMBA, M.L.R. and SCHUCHTER, L.H. Profissão docente e formação de professores/as para a educação básica: reflexões e referenciais teóricos. Educação em Revista [online]. 2023, vol.  39, e41068 [viewed 16 January 2024]. http://doi.org/10.1590/0102-469841068. Available from: https://www.scielo.br/j/edur/a/KbTZcBtWfmrfbP7GvFHkFjq/  

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

LOMBA, M.L.R. Desafios e proposições na docência e formação continuada na educação básica [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2024 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2024/01/16/desafios-e-proposicoes-na-docencia-e-formacao-continuada-na-educacao-basica/

 

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