Andreia Chagas Rocha Toffolo, Professora adjunta da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto, MG, Brasil
Daniela Mara Lima Oliveira Guimarães, Professora adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
Ensinar a morfologia verbal da língua portuguesa (LP) como segunda língua para surdos ainda é um dos grandes desafios quando se trata da apropriação da escrita (Rocha-Toffolo, 2022). Pensando nisso, Rocha-Toffolo e Guimarães (2025) apresentam os resultados de um estudo que analisou textos de estudantes surdos do ensino fundamental II, com o objetivo de compreender melhor as principais dificuldades no uso dos verbos — e refletir sobre o que esses desvios revelam sobre o processo de aprendizagem.
No artigo “Eu gosta muito de jogo”: apropriação da escrita de verbos por alunos surdos, publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (vol. 106, e6137, 2025), as autoras mostram que os desvios mais frequentes na escrita dos verbos aparecem, principalmente, nas flexões de pessoa e tempo; no uso de verbos no infinitivo e de locuções verbais. Essas dificuldades podem ter várias origens, como: 1) a ausência de uma primeira língua bem consolidada que sirva de base para o aprendizado do português escrito como segunda língua; 2) o pouco conhecimento sobre a língua oral; e 3) o vocabulário limitado em português.

Imagem: Kelly Sikkema via Unsplash
Como a surdez dificulta a percepção dos sons da fala, é importante dar uma atenção especial à consciência morfológica. Sem o apoio da língua oral, os alunos surdos acabam dependendo quase que totalmente da percepção visual para entender e processar a LP escrita. Isso torna o aprendizado ainda mais desafiador, já que o português tem uma forte ligação entre fala e escrita — algo que nem sempre faz sentido para quem não ouve. Essa dificuldade acaba impactando diretamente o processo de letramento desses estudantes.
Diante desse cenário, recomenda-se que o ensino seja pensado com foco no letramento visual e em estratégias que ajudem a desenvolver a consciência morfológica dos estudantes. Usar métodos que trabalhem com as partes que formam as palavras pode levar o aprendiz surdo a perceber relações morfológicas que ele não conseguiu acessar pela via oral. Mostrar, de forma clara e direta, como os verbos são construídos e quais padrões podem se repetir em outros verbos com estrutura parecida ajuda o aluno a entender melhor e aplicar esse conhecimento em novas palavras.
Espera-se que as reflexões apresentadas possam contribuir para iluminar aspectos relativos à aquisição da escrita de verbos por surdos, incentivando novos estudos na área e reflexões que gerem, inclusive, práticas adequadas e sistemáticas.
Para ler o artigo, acesse
TOFFOLO, A.C.R. and GUIMARÃES, D.M.L.O. “Eu gosta muito de jogo”: apropriação da escrita de verbos por alunos surdos. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos [online]. 2025, vol. 106, e6137 [viewed 07 August 2025]. https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.106.6137. Available from: https://www.scielo.br/j/rbeped/a/yGm8nWFD7wCwFVXxzfFbHDg/
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