Deisy Ventura, Professora do Instituto de Relações Internacionais e da Faculdade de Saúde Pública da USP; bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, São Paulo, SP, Brasil
João Nunes, Professor de Relações Internacionais na Universidade de York, Reino Unido
Nos últimos anos, tornou-se comum falar de Saúde Global, expressão polissêmica que abarca atores e agendas muito diversos, e por vezes contraditórias. O dossiê publicado no periódico Lua Nova n. 98 nasceu do objetivo de desenvolver uma abordagem crítica da Saúde Global, que busque entender em profundidade os processos políticos, econômicos, sociais e culturais que estão na origem das doenças, e que colocam determinadas regiões e grupos em situações de especial vulnerabilidade.
As recentes crises sanitárias mundiais, como a epidemia da doença do vírus Ebola na África Ocidental e a propagação do Zika vírus em mais de 60 países, têm enfatizado a necessidade de explorar a natureza e o funcionamento dos mecanismos internacionais de resposta aos problemas de saúde, com especial ênfase no pouco estudado impacto que a agenda da Saúde Global provoca na vida das pessoas.
Uma parte do dossiê é dedicada ao Brasil, caso particularmente interessante no âmbito da Saúde Global. Primeiro, por seu perfil epidemiológico, que combina problemas de saúde de países desenvolvidos (como câncer e doenças cardiovasculares) com problemas típicos de países em desenvolvimento (como doenças tropicais negligenciadas). E segundo, pelo fato de consagrar em sua Constituição um sistema de saúde público progressista, que assegura o acesso universal e gratuito à saúde e a participação pública na definição de políticas, mas convive com um contexto de políticas de austeridade orçamentária e fortes pressões para a privatização da saúde. Em terceiro lugar, o Brasil assumiu — principalmente nos anos da administração Lula — um papel de ativismo internacional em questões de saúde, enfatizando a defesa da saúde como um direito humano e a cooperação Sul-Sul para o seu desenvolvimento. E, por último, num momento em que a Saúde Global é marcada ainda por visões oriundas dos países desenvolvidos do hemisfério Norte, o Brasil surge como um contraponto importante para combater visões etnocêntricas.
O dossiê também busca ampliar o leque de metodologias e disciplinas das ciências sociais e humanas que podem ser mobilizadas em prol da análise crítica dos problemas relacionados à Saúde Global. Assim, reúne pesquisadores brasileiros e estrangeiros que vêm desenvolvendo estudos críticos sob diversos enfoques, em busca tanto do aprofundamento teórico do campo, como da configuração de uma agenda de pesquisa em médio e longo prazos.
O resultado desse percurso é a convicção de que o processo de globalização acentuou de modo significativo a transversalidade dos problemas de saúde constatados no plano local. Ademais, em âmbito global, resta evidente que a agenda da Saúde Global alcançou uma complexidade inédita, em especial no campo da regulação e das políticas públicas, inclusive a política externa dos Estados, cuja compreensão exigirá um grande esforço de pesquisa e reflexão crítica, que leve em consideração o que de fato ocorre no terreno dos programas de saúde global e seu impacto efetivo sobre a vida das pessoas.
Para ler os artigos, acesse
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NUNES, J. and PIMENTA, D. N. A epidemia de Zika e os limites da saúde global. Lua Nova [online]. 2016, n.98, pp.21-46. [viewed 4th November 2016]. ISSN 0102-6445. DOI: 10.1590/0102-6445021-046/98. Available from: http://ref.scielo.org/ht66mr
KEROUEDAN, D. Segurança ou insegurança da saúde mundial na África? Mais saúde parcial do que saúde global. Lua Nova [online]. 2016, n.98, pp.47-76. [viewed 4th November 2016]. ISSN 0102-6445. DOI: 10.1590/0102-6445047-076/98. Available from: http://ref.scielo.org/5ts2vn
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VENTURA, D. and HOLZHACKER, V. Saúde global e direitos humanos: o primeiro caso suspeito de ebola no Brasil. Lua Nova[online]. 2016, n.98, pp.107-140. [viewed 4th November 2016]. ISSN 0102-6445. DOI: 10.1590/0102-6445107-140/98. Available from: http://ref.scielo.org/jxm77j
MARTIN-CHENUT, K. and SALDANHA, J. O caso do amianto: os limites das soluções locais para um problema de saúde global. Lua Nova [online]. 2016, n.98, pp.141-170. [viewed 4th November 2016]. ISSN 0102-6445. DOI: 10.1590/0102-6445141-170/98. Available from: http://ref.scielo.org/6j4wwq
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STEFFENS, I. and MARTINS, J. “Falta um Jorge”: a saúde na política municipal para migrantes de São Paulo (SP). Lua Nova [online]. 2016, n.98, pp.275-299. [viewed 4th November 2016]. ISSN 0102-6445. DOI: 10.1590/0102-6445275-299/98. Available from: http://ref.scielo.org/wf5bfg
Link externo
Lua Nova – LN: www.scielo.br/ln
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