Ensino de Ciências Naturais e o distanciamento entre as prescrições e o que realmente acontece nas escolas

Claudio Rejane da Silva Dantas, Professor do Departamento de Física da Universidade Regional do Cariri, Juazeiro do Norte, CE, e Doutorando em Ensino de Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

Neusa Teresinha Massoni, Doutora em Ciências, com ênfase em Ensino de Física, Professora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

Flávia Maria Teixeira dos Santos, Doutora em Educação, na área de Educação Química, Professora do Departamento de Ensino e Currículo da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil

Doutorando em Ensino de Física e Professoras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) discutem o tema da avaliação da aprendizagem no Ensino de Ciências Naturais no artigo “A avaliação no Ensino de Ciências Naturais nos documentos oficiais e na literatura acadêmica: uma temática com muitas questões em aberto” publicado na Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, volume 25, número 95 de 2017. Os resultados revelam que apesar da avaliação ser componente chave na dinâmica do funcionamento didático e da organização escolar percebe-se que não há consonância no ponto de encontro do discurso teórico, da legislação e o que de fato fazem os professores na difícil realidade escolar.

A pesquisa evidencia que documentos legais não esclarecem como é possível desenvolver uma avaliação formativa e não exploram o significado de como valorizar os aspectos qualitativos sobre os quantitativos produzindo diferentes interpretações. O artigo busca mostrar que nas escolas e nas avaliações do governo privilegia-se uma avaliação quantitativa que contribui com o processo de seleção, classificação, discriminação e exclusão da maioria dos jovens brasileiros, sem preocupações para com o desenvolvimento das aprendizagens dos estudantes.

A pesquisa usa a metodologia de análise de conteúdo proposta pela autora Bardin (1986) especialmente a técnica de análise categorial temática. O artigo é desenvolvido a partir da discussão de quatro temáticas: 1. Concepções teóricas sobre a avaliação e a avaliação como praticada na escola; 2. Avaliações externas (SAEB, PISA e ENEM) e repercussões destas para o Ensino de Ciências; 3. Impacto das avaliações nas políticas públicas e na prática escolar; e 4. Avaliação da aprendizagem no Ensino de Ciências. Essas temáticas são resultados das leituras de documentos publicados das áreas da Educação e Ensino de Ciências e de documentos oficiais nacional e particularmente do Estado do Rio Grande do Sul-RS.

O trabalho problematiza o significado de qualidade da educação brasileira lançando algumas questões: a qualidade revelada por valores do IDEB espelha de forma profunda a realidade e o funcionamento das escolas públicas brasileiras?; Não estaria havendo uma compreensão limitada sobre esta qualidade que é construída a partir da produção de indicadores que surgem de um recorte fragmentado e pontual em duas disciplinas que compõem uma totalidade maior do conhecimento? Quando serão concretizados os esforços governamentais, prometidos no atual Plano Nacional da Educação, para inserir o Ensino de Ciências Naturais como parte do SAEB e resultados do ENEM para complementar o cálculo do IDEB?

Os autores do artigo defendem que seja possível a valorização das práticas e experiências dos docentes para apoiar a compreensão do sentido da qualidade da educação. Para eles o professor está em posição privilegiada para enxergar o contexto escolar e fazer um acompanhamento direto do percurso de aprendizagem dos estudantes. Acreditam que os professores podem oferecer elementos importantes a respeito das dificuldades práticas de avaliar em uma sala de aula heterogênea, onde a atuação docente precisa competir com a tecnologia, com os jogos virtuais e com interesses e necessidades diversas dos estudantes.

Reflete-se que para pensar a avaliação os especialistas e a legislação precisam se aproximar mais e conhecer melhor os pormenores do contexto escolar, as dificuldades vividas pelos professores (por exemplo: baixos salários, grande número de alunos por turmas, excesso de aulas e pouco tempo para formação continuada, inclusive leitura da legislação etc.).

A pesquisa foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (CAPES/MEC).

Referência

BARDIN, L. El analisis de contenido. Madrid: Akal, 1986.

Para ler o artigo, acesse

DANTAS, C. R. da S., MASSONI, N. T.  and SANTOS, F. M. T. dos. A avaliação no Ensino de Ciências Naturais nos documentos oficiais e na literatura acadêmica: uma temática com muitas questões em aberto. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. [online]. 2017, vol.25, n.95, pp.440-482, ISSN 0104-4036 [viewed 11 July 2017]. DOI: 10.1590/s0104-40362017002500807. Available from: http://ref.scielo.org/4ry7hm.

Link externo

Ensaio – Avaliação e Políticas Públicas em Educação – ENSAIO: www.scielobr/ensaio

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

DANTAS, C. R. da S., MASSONI, N. T. and SANTOS, F. M. T. Ensino de Ciências Naturais e o distanciamento entre as prescrições e o que realmente acontece nas escolas [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2017 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2017/07/13/ensino-de-ciencias-naturais-e-o-distanciamento-entre-as-prescricoes-e-o-que-realmente-acontece-nas-escolas/

 

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