É possível mensurar estilos de liderança no contexto educativo?

Lurdes Neves, Centro de Psicologia, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade do Porto, Porto, Portugal

Joaquim Luís Coimbra, Docente, Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade do Porto, Porto, Portugal

Investigadores da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, em Portugal, estudaram o comportamento de três questionários ao nível da validade de constructo e da confiabilidade. No artigo “Evidências de validade da estrutura interna da escala de liderança ética, transformacional e moral no contexto educativo português”, publicado em Paideia (v. 29), objetivou-se realizar a validação das escalas de Liderança ética (Questionário de Liderança Ética (NEVES et al., 2016; QLE), o Questionário de Liderança Transformacional (BASS; AVOLIO, 2003; QLT) e o Questionário de Liderança Moral (MAMEDE et al., 2010; QLM).

A amostra da pesquisa foi constituída por 204 professores de 30 unidades escolares. Do grupo de participantes, 156 (76,5%) eram do sexo feminino. Relativo à idade, 26 (12,7%) participantes apresentam idades até aos 40 anos, 87 (42,6%) estão entre os 40 e 50 anos e 91 (44,6%) estão entre os 50 e 60 anos. No que diz respeito aos anos de experiência, a maioria, 98 (48%), tem mais de 25 anos de experiência profissional.

Recorreu-se ao Statistical Package for the Social SciencesÒ, foram utilizados, como procedimentos estatísticos, a Análise fatorial exploratória (AFE); o método Factoração de Eixo Principal (Principal Axis Factoring) para verificar a validade de constructo dos questionários; o Indicador de consistência interna alfa de Cronbach para estimar a confiabilidade; e as Correlações de Pearson para verificar as correlações entre os tipos de liderança. Por fim, o programa Analysis of Moment Structures-AMOS (versão AMOS 24 para Windows) foi utilizado para se proceder à análise fatorial confirmatória.

No geral, o estudo revelou que as escalas de liderança avaliadas (ética, transformacional e moral) apresentaram bons níveis de ajustamento à estrutura fatorial e valores de confiabilidade entre aceitável e excelente. As três escalas apresentam bons índices de ajustamento, contudo a da liderança ética foi a que apresentou melhores resultados. Essa escala de liderança ética diz respeito aos comportamentos do líder que vão ao encontro das crenças e valores morais da organização, particularmente nas organizações éticas que norteiam a sua missão de acordo com os padrões morais vigentes e agem de forma socialmente responsável (BROWN; TREVIÑO; HARRISON, 2005).

Lennick e Kiel (2011) afirmam que os líderes moralmente mais competentes revelam maior consistência nos seus comportamentos e maior alinhamento com os princípios morais, valores e crenças, que resultam em consequências positivas para a organização. A inteligência moral tem sido definida como a capacidade de distinguir o certo do errado, de possuir fortes convicções morais e de ter comportamentos ajustados. Assim, a inteligência moral refere-se à forma como os princípios universais são aplicados aos nossos valores, objetivos e performance (LENNICK; KIEL, 2011).

Esses resultados parecem significativos para pensar como a liderança deve ser exercida no contexto escolar, bem como quais valores devem ser disseminados a partir da figura do líder. Como os resultados foram positivos e trazem evidências de validade das escalas para o contexto português, são recomendados estudos futuros a serem conduzidos em outros países lusófonos para validação desses instrumentos, de modo a permitir a comparação dos resultados entre diferentes culturas.

Referências

BASS, B. M. and AVOLIO, B. J. MLQ Multifactor Leadership Questionnaire. Redwood City, CA: Mind Garden, 2003.

BROWN, M. E., TREVIÑO, L. K. and HARRISON, D. Ethical leadership: a social learning perspective for construct development and testing. Organizational Behavior and Human Decision Processes, v. 97, n. 2, p. 117-134, 2005. ISSN: 0003-066X [reviewed 20 February 2019]. DOI: 10.1016/j.obhdp.2005.03.002. Avaliable from: https://psycnet.apa.org/record/2005-06626-003

LENNICK, D. and KIEL, F. Moral intelligence 2.0: Enhancing business performance and leadership success in turbulent times. Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall, 2011.

MAMEDE, C., RIBEIRO, N. and GOMES, D. Tradução e validação do Moral Competency Inventory para avaliação do grau de inteligência moral de líderes. Livro de atas da Conferência em Investigação e Intervenção em Recursos Humanos, 2010.

NEVES, M. de L. G. et al. Estudo de adaptação e validação de uma escala de percepção de liderança ética para líderes portugueses. Aná. Psicológica, v. 34, n. 2, p. 165-176, 2016. ISSN: 0870-8231 [acessado 20 fevereiro 2019]. DOI: 10.14417/ap.1028. Available from: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-82312016000200005&lng=pt&nrm=iso

Para ler o artigo, acesse

NEVES, L. G. and COIMBRA, J. L. Evidências de Validade da Estrutura Interna da Escala de Liderança Ética, Transformacional e Moral no Contexto Educativo Português. Paidéia (Ribeirão Preto), v. 29, e2904, 2019. ISSN: 0103-863X [viewed 4 April 2019].  DOI: 10.1590/1982-4327e2904. Disponível em: http://ref.scielo.org/k95bqj

Link externo

Paidéia (Ribeirão Preto) – PAIDEIA: www.scielo.br/paideia

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

NEVES, L. G. and COIMBRA, J. L. É possível mensurar estilos de liderança no contexto educativo? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/04/04/e-possivel-mensurar-estilos-de-lideranca-no-contexto-educativo/

 

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