Biblioteca universitária (des)construindo estratégias para a inclusão de usuários com necessidades especiais

Isabel Cristina dos Santos Diniz, doutoranda em Multimédia em Educação pela Universidade de Aveiro, Portugal, Departamento de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, Brasil

Cassia Furtado, Departamento de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão, Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar em Leitura, Comunicação e Design de Hipermídia – LEDMID/CNPq, São Luís, MA,  Brasil

Ana Margarida Almeida, Universidade de Aveiro, Departamento de Comunicação e Arte/DigiMedia, Portugal

Pesquisadoras da Universidade Federal do Maranhão, Brasil, e da Universidade de Aveiro, Portugal, publicaram recentemente um estudo no periódico Transinformação (v. 31) sob o título “Bibliotecas universitárias: o papel de um campus acessível na inclusão de usuários com necessidades especiais” que objetiva apresentar os resultados preliminares de uma pesquisa em andamento que procura diagnosticar práticas inclusivas em bibliotecas universitárias brasileiras e portuguesas, particularmente no que diz respeito ao papel de um campus acessível na inclusão de usuários com necessidades especiais.

O acesso das pessoas com necessidades especiais ao Ensino Superior impôs às bibliotecas universitárias uma mudança de paradigmas, indo desde a geração e uso da informação às atividades de pesquisa desenvolvidas nas instituições de Ensino Superior (BILA, 2014).

A implantação dos processos de reconhecimento e avaliação dos cursos de graduação/Licenciatura e pós-graduação levaram, por outro lado, as universidades a repensarem seu papel, fortalecendo a necessidade de planear, estabelecer objetivos e metas e medir seus resultados (BEM et al., 2016). Com isso as bibliotecas universitárias passaram a sentir a importância de planear e avaliar as atividades que realizam, em especial aquelas direcionadas para as pessoas com necessidades especiais, pois os resultados pretendidos formam a base racional para a própria existência.

O ambiente de qualquer espaço, assim como de uma biblioteca, tem um enorme impacto sobre a experiência e a extensão da deficiência de uma pessoa (BEM et al., 2016). Dessa forma, os ambientes inacessíveis criam barreiras à participação e inclusão. Imaginemos uma biblioteca universitária que apresente impacto negativo do ambiente quando possui um utilizador: surdo sem disponibilizar serviços de bibliotecários intérpretes de língua de sinais; de cadeira de rodas num prédio de biblioteca e sem casa de banho ou elevador acessíveis; cego que usa um computador da biblioteca sem soſtware de leitura de tela, entre outros.

O ambiente da biblioteca universitária pode e deve ser mudado para melhorar a saúde, evitar ou atenuar as incapacidades, e melhorar os resultados finais para as pessoas com necessidades especiais. As mudanças podem ser implementadas pelo cumprimento da legislação, com políticas públicas voltadas para o ensino e para a implementação de bibliotecas inclusivas do contexto escolar ao ensino superior, ou por desenvolvimentos tecnológicos que gerem: acessibilidade do desenho do ambiente construído da biblioteca e do seu entorno, além do transporte urbano coletivo adaptado para o transporte de pessoas com limitações físicas ou mobilidade reduzida; sinalização (horizontal e vertical com o símbolo internacional de acesso) para beneficiar pessoas com deficiências sensoriais; disponibilização de um acervo acessível e com auxílio de recursos tecnológicos (computadores com ferramentas de busca de informação com programas acessíveis, ponteiras de cabeça e de boca, prancha de leitura com lupa, leitor autônomo, livro ilustrado e em Braille e Libras, livro áudio, marcado de livro com luz, e entre outros) que favoreçam o acesso à informação e autonomia das pessoas com necessidades especiais, entre outros (DINIZ; ALMEIDA; FURTADO, 2015).

A adoção de práticas inclusivas nas bibliotecas universitárias requer mudanças profundas na mentalidade dos seus bibliotecários e na estrutura destas instituições. Durante esse processo, as bibliotecas e seus bibliotecários, frequentemente, enfrentam grandes dificuldades e dilemas, que desencadeiam reflexões profundas e a implementação de acertos diversos (DINIZ; ALMEIDA; FURTADO, 2015).

Neste contexto, o artigo evidencia uma pesquisa inovadora diante da escassa literatura científica sobre investigações que mostrem as contribuições das bibliotecas universitárias brasileiras e portuguesas para a entrada, permanência e conclusão dos percursos acadêmicos dos estudantes com necessidades educativas especiais.

A pesquisa quantitativa foi realizada por meio de um questionário online aplicado a 87 diretores de bibliotecas (54 brasileiros e 33 portugueses). Foram coletadas 50 respostas válidas (28 brasileiras e 22 portuguesas). A partir desses resultados, as autoras identificaram problemas de acessibilidade, nomeadamente no que diz respeito ao acesso ao campus e à falta de equipes de bibliotecários com habilidades específicas para auxiliar esses usuários. Concluem que muitas dessas bibliotecas estão integradas em campi sem infraestrutura acessível e, portanto, não são capazes de promover a inclusão de estudantes com necessidades especiais. Os respondentes afirmam que estão conscientes de suas limitações e fraquezas quando enfrentam esse desafio e mostram abertura para mudar suas práticas e atitudes em relação a um novo cenário futuro no qual eles possam construir soluções para melhorar a acessibilidade e inclusão nessas bibliotecas.

A pesquisa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), Processo nº BD-02885/15.

Referências

BILA, A. S. A. Biblioteca de arte inclusiva: informação e conhecimento acessíveis aos leitores com deficiência visual. 2014. 86 f. Relatório (Mestrado em Ciência da Informação e Educação) – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2014. Available from: http://hdl.handle.net/10362/14767

BEM, R. M. et al. Avaliação de bibliotecas universitárias: normas e padrões. Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia, v. 11, n. 1, p. 100-116, 2016. ISSN: ISSN: 1981-0695 [viewed 10 April 2019]. Available from: http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/pbcib/article/view/27918

DINIZ, I. C. S., ALMEIDA, A. M. and FURTADO, C.  Acessibilidade e produtos de apoio nas bibliotecas universitárias brasileiras e portuguesas: ações e estratégias. In: GOMES, M. J., OSÓRIO, A. J. and VALENTE, L. (Ed.).  Conferência Internacional de TIC na Educação 2015: meio século de TIC na Educação, 9., 2015. p.958-962, Braga, Portugal. Anais […] Braga: 2015. Available from: http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/55388

Para ler o artigo, acesse

DINIZ, I. C. S., ALMEIDA, A. M. and FURTADO, C. C. Bibliotecas universitárias: o papel de um campus acessível na inclusão de usuários com necessidades especiais. Transinformação, v. 31, e180029, 2019. ISSN: 0103-3786 [viewed 10 April 2019]. DOI: 10.1590/2318-0889201931e180029. Available from: http://ref.scielo.org/zc36br

Link externo

Transinformação – TINF: www.scielo.br/tinf

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

DINIZ, I. C. S., ALMEIDA, A. M. and FURTADO, C. C. Biblioteca universitária (des)construindo estratégias para a inclusão de usuários com necessidades especiais [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/04/11/biblioteca-universitaria-desconstruindo-estrategias-para-a-inclusao-de-usuarios-com-necessidades-especiais/

 

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