Cláudio Almir Dalbosco, Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil.
Francisco Carlos dos Santos Filho, Psicanalista, Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil.
Luciana Oltramari Cezar, Psicanalista, Doutoranda Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil.
Na realidade atual o impacto da racionalidade neoliberal sobre a formação do sujeito é devastador, ele provoca uma quebra ética e estraçalha o laço inter-humano. O ensaio Desamparo humano e solidariedade formativa: crítica à perversidade neoliberal, publicado no periódico Educação & Sociedade (vol. 43), aborda o tema a partir da filosofia da educação e da psicanálise realizando um exame crítico dos efeitos da racionalidade neoliberal e do obscurantismo sobre os sujeitos. Apoia sua análise em três eixos fundamentais: o desamparo humano, a perversidade neoliberal e a solidariedade formativa. Revisa o que vem a ser a racionalidade neoliberal estabelecendo a hipótese de que, desde uma perspectiva psicanalítica, essa racionalidade necessita do apagamento do outro para tocar seu projeto de ocupação de corpos, mentes e vidas através de práticas perversas que consistem na apropriação, para gozo de alguém, dos sujeitos e de sua transformação em instrumento.
No plano das trocas humanas, as relações fraternas e horizontais, estruturantes do vínculo solidário, estão desvalidas por esse obscurecimento progressivo da presença do outro. O coletivo cede lugar ao individualismo competitivo, instalando um sistema de relações baseado na indiferença que produzirá, por sua vez, subjetividades que a ele se adequem, corroendo as estruturas que se baseiam no trabalho coletivo e na cooperação entre iguais.
Figura 1. Moisés de Michelangelo, Capela San Pietro, Roma, Itália.
Como contraponto a este regramento perverso, recorre-se à posição freudiana sobre a ética e a categoria do semelhante como experiência formativa central da existência humana, sendo o conceito de desamparo humano, fundamental. Ele faz ver que todo ser humano, ao nascer, impossibilitado de prover por si mesmo as operações básicas que lhe permitiriam sobreviver, depende inteiramente de que alguém assuma seus cuidados e realize para e por ele tais operações. Essa dimensão da função materna, que Freud denominou “entendimento”, inaugura o vínculo da mãe com o bebê e realiza, mediado por palavras e atos de cuidado, um delicado gesto de inclusão desse último no mundo humano. Há, nessa relação primordial entre bebê e adulto de referência, um duplo processo de reciprocidade ético-formativa que instrui moralmente a própria humanidade sobre a possibilidade de que as relações humanas possam ser construídas não só com base em ódio e inveja, mas na generosidade e no cuidado recíproco.
A ética que vigora no interior do laço social proposto pela racionalidade neoliberal implica uma completa reversão nesse princípio. Portanto, retomar o pensamento crítico tornou-se um imperativo educacional de primeira ordem e restabelecer o diálogo crítico com a tradição, buscando reinventá-la de acordo com as exigências atuais, é uma contribuição que a pesquisa educacional brasileira pode dar, sobretudo com foco no diálogo entre filosofia, psicanálise e formação humana.
A seguir, assista ao vídeo de Francisco Carlos dos Santos Filho ampliando a discussão sobre os dados do estudo.
Para ler o artigo, acesse
DALBOSCO, C.A., SANTOS FILHO, F.C. and CEZAR, L.O. Desamparo humano e solidariedade formativa: crítica à perversidade neoliberal. Educação & Sociedade [online]. 2022, vol. 43, e244449 [viewed 23 May 2022]. https://doi.org/10.1590/ES.244449. Available from: https://www.scielo.br/j/es/a/cKzGx4mCmRqt9ZfQ4sjqSgH/
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