Jimena Felipe Beltrão, Jornalista, Ph.D. em Ciências Sociais (University of Leicester, Reino Unido), editora científica do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, PA, Brasil
Silvia de Souza Leão, Jornalista, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura da Universidade da Amazônia (Unama), Belém, PA, Brasil
“A linguística é uma das ciências humanas que desempenha um papel importante na Amazônia, região que conta com um tesouro de mais de 300 línguas indígenas, muitas delas sendo ameaçadas de extinção. Além de abordagens técnicas e teóricas puramente linguísticas, uma grande parte da disciplina interage com as outras ciências humanas, o que resulta em estudos linguísticos, antropológicos, sociológicos, históricos entre outros.” explica Hein van der Voort (2015, p. 2005) linguista do Museu Paraense Emílio Goeldi, em sua Carta do Editor.
Hein van der Voort, que veio ao Brasil trabalhar em um dos projetos do Museu, com as línguas indígenas de Rondônia, destaca que esse era o Estado com maior diversidade linguística da Amazônia. A seguir assista ao vídeo com as considerações de Hein van der Voort e Ana Vilacy Galúcio.
Segundo Hein, “Isso não foi só uma preocupação do Museu. A situação em Rondônia já atraiu a atenção internacionalmente. Os pesquisadores das universidades internacionais já estavam atentos a isso. Rondônia, um estado brasileiro com diversidade imensa de línguas indígenas, mas com a herança muito ameaçada, porque várias das línguas têm apenas 5, 10, cinquenta falantes, são as últimas falantes dessa língua. Então teve várias iniciativas de fora também para pesquisadores virem estudar e documentar. Então, isso se encaixou bem nos objetivos da área de linguística do Museu Goeldi”.
O linguista explica que o objetivo não é só estudar a gramática de uma língua indígena, mas, também, testar as teorias e ideias gerais sobre as línguas. “E o Museu Goeldi como uma das primeiras instituições tomou isso como alvo principal desde muito cedo e foi o Denny Moore – linguista, pesquisador do Museu Goeldi – que realmente planejou recentemente uma iniciativa para coletar e colecionar de forma o mais abrangente possível as línguas indígenas”.
O linguista do Museu Goeldi, Hein van der Voort, além do seu trabalho com as línguas Kwazá e Aikanã, realizou também um estudo da língua Arikapú, da família Jabuti, reconstruindo partes da língua ancestral. Resultados desse trabalho foram publicados no International Journal of American Linguistics (RIBEIRO; VAN DER VOORT, 2010) e no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (VAN DER VOORT, 2007) e no. Em base do seu trabalho com os últimos dois falantes idosos do Arikapú, foi comprovado que a família Jabuti pertence ao tronco Macro-Jê (como Curt Nimuendajú já suspeitou).
“No final dos anos 80, a comunidade linguística, internacionalmente falando, ficou consciente do fato que muitas línguas indígenas do mundo estão desaparecendo. Estavam ameaçadas de extinção. Era um fenômeno mundial, mas, como a Amazônia tem tantas línguas indígenas, a quantidade de línguas ameaçadas aqui era muito grande. Nasceu, então, naquele final dos anos 80 uma preocupação muito grande que as línguas indígenas ficariam extintas porque eles formam o banco de dados empíricos da ciência de linguística”, explica Hein.
Ana Vilacy Galúcio, linguista do Museu Goeldi, que trabalha há décadas com os últimos falantes da língua Sakurabiat e que trabalhou também com os últimos dois idosos que se lembravam ainda de fragmentos da língua Purubora, também explica que o momento era de muita preocupação com relação linguística de um modo geral: “Naquele período, quando se discutia linguística no Brasil, porque estudar línguas indígenas? Qual o papel das línguas indígenas para o conhecimento das línguas de um modo geral e para a história do país? Teve um pequeno intervalo [depois do Ernesto Migliazza nos anos 60], que houve uma pausa, nesses trabalhos na área de linguística do Museu Goeldi, e na década de 80, a gente só retoma essa temática com fôlego com a chegada de novas pessoas para a área, duas delas ainda estão na instituição que são o Dr. Denny Moore que foi o Chefe da área de linguística de várias décadas e a Dra. Cândida Barros, que ainda hoje está na instituição e ajudaram a reorganizar essa área de estudos na instituição”.
Hein van der Voort explica que “embora não menos significante, a linguística possui uma tarefa fundamental de desenvolver soluções práticas para o uso escrito das línguas indígenas por seus falantes maternos, e na conscientização sobre a diversidade linguística, que faz parte do dia-a-dia em contatos interétnico e inter-regionais”. Já Vilacy complementa que o material coletado por essas pesquisas “forma coleções científicas sobre as línguas do mundo e, falando do Museu Goeldi, as línguas da Amazônia, são informações que precisam ser cuidadas e tratadas. A gente precisa garantir que as informações dos projetos de documentação possam ser utilizadas no futuro pelos diversos agentes que vão precisar usar, seja os falantes dessa língua, seja as comunidades não falantes, seja a comunidade acadêmica, enfim, os vários grupos sociais”. Para ampliar a discussão assista ao vídeo de Ana Vilacy Galúcio.
Referências
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Para ler os artigos, acesse
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Links externos
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Sobre Ana Vilacy Moreira Galúcio
Doutora em Linguística pela University of Chicago. Atualmente é pesquisadora titular do Museu Paraense Emilio Goeldi, professora do Programa de Pós-graduação em Letras: Linguística e Estudos Literários (Mestrado e Doutorado), da Universidade Federal do Pará. Dedica-se à descrição, análise e documentação de línguas indígenas, com ênfase em documentação linguística e cultural, linguística histórica, morfossintaxe, fonética e fonologia, estudos do tronco tupi, especialmente das línguas das famílias Tupari e Puruborá. E-mail: avilacy@museu-goeldi.br
Sobre Hein van der Voort
Doutor em Linguistica pela Universidade de Leiden. Atualmente é pesquisador titular do Museu Paraense Emílio Goeldi. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Teoria e Análise Linguística, atuando presentemente nos seguintes temas: línguas indígenas do Brasil, descrição e comparação linguística, documentação linguística e etno-histórica. E-mail: hvoort@museu-goeldi.br
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