Jéssica Elena Valle, Doutoranda em Psicologia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP, Brasil
Ana Carina Stelko-Pereira, Professora Associada, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, CE, Brasil
Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams, Professora Titular, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP, Brasil
O engajamento dos alunos nas atividades escolares não é uma característica inata, não podendo ser redundantemente explicado como “o aluno não tem motivação, não se importa” e tampouco apenas por condições familiares. De acordo com Fredricks, Blumenfeld e Paris (2004), uma vez que o engajamento escolar é o modo com que os alunos se envolvem na escola e que ele está relacionado ao desempenho acadêmico, torna-se relevante identificar como diferentes aspectos se entrelaçam para engajar os alunos. No Brasil, Cunha (2012) investigou como a relação dos alunos com colegas e professores poderia afetar o engajamento nas atividades da escola. Na mesma linha de pesquisa, um estudo recente de Valle, Stelko-Pereira, Peixoto e Williams (2018), publicado no periódico Estudos de Psicologia (Campinas), intitulado “Influência do “bullying” e da relação professor-aluno no engajamento escolar”, apontou três situações que impactam no engajamento escolar e que podem ser alvo de intervenção no próprio ambiente educacional, pois envolvem as relações interpessoais lá estabelecidas.
A pesquisa realizada com apoio do CNPq contou com a participação de 426 estudantes do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, de quatro escolas de uma cidade do interior de São Paulo. Os alunos responderam questionários de modo a se saber: 1) se haviam sofrido agressões de colegas ou praticado estas agressões no mês anterior à pesquisa, 2) quanta afinidade e conflito tinham com um professor sorteado aleatoriamente, e 3) o quanto se dedicavam às atividades escolares. As respostas dos alunos foram analisadas de modo a se entender como o envolvimento em bullying e a relação professor-aluno se combinavam para explicar o quanto os alunos se engajavam na escola. Mais detalhes podem ser conferidos no link abaixo do estudo integral.
Segundo os autores, aproximadamente, um terço da influência existente entre alunos quanto ao engajamento nas atividades escolares pode ser explicado pelo fato de serem vítimas ou autores de bullying e o quanto gostam de seus professores. Tal valor é alto se considerada a complexidade de fatores que interferem no quanto os alunos se dedicam à escola.
Notou-se também que praticar bullying se relaciona a menores escores em engajamento escolar e que tanto sofrer quanto praticar bullying diminui a qualidade da relação com professores. Enfim, a relação com professores impacta diretamente no quanto os alunos se engajam na escola. Cabe notar que, ao se comparar ser vítima e autor de bullying, praticar bullying se relaciona mais com uma pior relação com professor do que ser vítima e, consequentemente, com o engajamento escolar.
Os resultados apontam ser importante criar condições para que os professores consigam estabelecer relações de afeto com seus alunos (por exemplo, restringir o número de alunos por sala) e aplicar programas de combate ao bullying, cuidando especialmente dos que o praticam, pois esses costumam ter um menor engajamento escolar.
Referências
CUNHA, J. M. O papel moderador de docentes na associação entre violência escolar e ajustamento acadêmico (Dissertação de mestrado). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012.
FREDRICKS, J. A., BLUMENFELD, P. C. and PARIS, A. H. School engagement: Potential of the concept, state of the evidence. Review of Educational Research, v. 74, n. 1, p. 59-109, 2004. E-ISSN: 1935-1046 [reviewed 5 November 2018]. DOI: 10.3102/00346543074001059. Avaliable from: http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.3102/00346543074001059?journalCode=rera
Para ler o artigo, acesse
VALLE, J. E., STELKO-PEREIRA, A. C., PEIXOTO, E. M. and WILLIAMS, L. C. A. Influence of bullying and teacher-student relationship on school engagement: Analysis of an explanatory model. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2018, vol.35, n.4, pp.411-420. ISSN 0103-166X. [viewed 13 December 2018]. DOI: 10.1590/1982-02752018000400008. Available from: http://ref.scielo.org/37smdy
Link externo
Estudos de Psicologia (Campinas) – ESTPSI: www.scielo.br/estpsi
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