Mais Médicos em áreas remotas de Roraima: relações entre médicos e Grupo Especial de Supervisão

Willian Fernandes Luna, Professor da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil

Fernanda Pereira de Paula Freitas, Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, campus Macaé, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

As relações entre os médicos que atuam em áreas remotas de Roraima e o Grupo Especial de Supervisão do Projeto Mais Médicos para o Brasil (GES-RR) possuem caráter inovador e complexo, revelando construções a partir desse encontro. Essas relações acontecem sob forma de três possibilidades de supervisão: locorregional, in loco e longitudinal (à distância) (BRASIL, 2015). As demandas clínico-pedagógicas e eventuais angústias do cotidiano dos médicos são acolhidas com identificação de necessidades de aprendizagem e construção de estratégias de superação. Com isso, surgem confiança, vínculo, valorização e estímulo aos profissionais para um trabalho em equipe e para a comunidade. O acompanhamento oportuniza espaços de trocas de saberes de forma horizontal e mútua, em respeito aos diferentes conhecimentos, e sensibiliza médicos e supervisores para as questões relativas à saúde indígena e o contexto intercultural.

Este é um relato de experiências construído após dois anos de trabalho do GES-RR, quando houve necessidade de refletir acerca das relações construídas no contexto da supervisão. Os documentos produzidos pelos supervisores ao longo dos anos de 2015 e 2016 foram examinados através da análise temática de conteúdo (MINAYO, 2013). O artigo “Projeto Mais Médicos para o Brasil em áreas remotas de Roraima, Brasil: relações entre médicos e Grupo Especial de Supervisão”, publicado no periódico Interface – Comunicação, Saúde, Educação (v. 23, supl. 1), revelou aspectos da experiência, com foco nas relações entre supervisores e médicos, identificando potencialidades, dificuldades e destacando estratégias utilizadas para superá-las.

Alguns desafios são muito presentes nessa relação, como a distância geográfica, a diversidade de línguas faladas, as precárias condições de trabalho, a desmotivação dos médicos para permanecerem na saúde indígena e a hegemonia do paradigma biomédico de atenção à saúde. Ainda assim, os registros sugerem que esses profissionais estão conseguindo superar as adversidades, enfrentando a escassez de recursos e atuando sem perder o senso crítico. O papel do GES-RR, por sua vez, vem como suporte para o desenvolvimento de noções mais amplas de cuidado individual e coletivo nesses cenários peculiares, respeitando as diferenças culturais e construindo com elas também novas compreensões sobre a saúde em áreas remotas e/ou indígenas. Essa relação pode ser aprimorada com a melhoria das ferramentas de comunicação; promoção de mais encontros locorregionais e de cuidado ao cuidador; e melhor compreensão sobre o papel do supervisor.

Na perspectiva pedagógica crítica, também há um esforço de compreensão desse espaço como construção do conhecimento por supervisor e supervisionados, no qual todos podem ensinar e aprender de maneira horizontal (FREIRE, 1996). Indica também para a necessidade de maior integração entre academia e serviço de atenção à saúde em áreas indígenas, o que pode levar à melhor compreensão desse cenário de atuação complexo e à possibilidade de identificação e desenvolvimento de competências necessárias para os profissionais de saúde nesses locais.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria Normativa nº 28, de 14 de julho de 2015. Dispõe sobre a criação e organização do Grupo Especial de Supervisão para áreas de difícil cobertura de supervisão, no âmbito do Projeto Mais Médicos para o Brasil, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, Seção 1, p. 11, 15 jul. 2015. Available from: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=23581-port28-maismedicos-01out-pdf&Itemid=30192

MINAYO, M. C. S. O desafio da Pesquisa Social. In: MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 33. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2013. p. 9-29.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

Para ler o artigo, acesse

LUNA, W. F. et al. Projeto Mais Médicos para o Brasil em áreas remotas de Roraima, Brasil: relações entre médicos e Grupo Especial de Supervisão. Interface (Botucatu), v. 23, suppl. 1, e180029, 2019. ISSN: 1414-3283 [viewed 5 July 2019]. DOI: 10.1590/interface.180029. Available from: http://ref.scielo.org/834qyv

Link externo

Interface – Comunicação, Saúde, Educação – ICSE: www.scielo.br/icse

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

LUNA, W. F. and FREITAS, F. P. P. Mais Médicos em áreas remotas de Roraima: relações entre médicos e Grupo Especial de Supervisão [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2019 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2019/07/15/mais-medicos-em-areas-remotas-de-roraima-relacoes-entre-medicos-e-grupo-especial-de-supervisao/

 

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