Susana Iglesias Webering, Docente do Departamento de Administração e Turismo do Instituto Multidisciplinar, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil
O ensaio “Os ‘pontos cegos’ das teorias organizacionais segundo Guerreiro Ramos”, publicado no Cadernos EBAPE.BR (v. 17, n. 3), sintetiza os “pontos cegos” que as teorias organizacionais, ao se desenvolverem, não supriram e que aparecem ao longo de duas obras de Guerreiro Ramos: “Administração e contexto brasileiro” (1983) e “A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações” (1989). Esses pontos seriam: a) a noção de racionalidade, que domina não só os estudos organizacionais, como também a economia, a ciência política e as ciências sociais; a b) não distinção entre significado substantivo e significado formal de organização; c) as teorias organizacionais não têm clara compreensão do papel das interações simbólicas; e, por último, d) as teorias organizacionais se apoiam somente em uma visão mecanomórfica do homem.
Para Guerreiro Ramos, a administração precisa ser reformulada sobre novos fundamentos epistemológicos, pois tem reproduzido, desde Frederick Taylor, a ideologia do sistema de mercado. Esse fato está relacionado à maneira como a racionalidade funcional e sua ética de responsabilidade passaram a dominar a sociedade em detrimento da racionalidade substancial com base em uma ética de valores, ao mesmo tempo em que se observou o desenvolvimento e a proeminência das organizações formais de mercado. Esses fatores tiveram impacto na cultura e no caráter do homem moderno, que passou a desenvolver comportamentos mediante o cálculo utilitário de consequências. Também como as atividades decorrentes de necessidades objetivas de sobrevivência se transformaram no cerne da vida social, em que ter um trabalho passou a ser o principal critério de reconhecimento.
O ensaio teórico mostra a atualidade, consciência e rigor metodológicos do pensamento de Guerreiro Ramos (PAULA, 2008). Reconhecendo que a organização formal de mercado é apenas um dentre os tipos microssociais de organização, ele defende uma teoria organizacional substantiva, que reconheça os diversos tipos de sistemas sociais existentes. Para isso, o trabalho aborda ainda alguns conceitos e lógicas relacionadas à economia solidária, cooperativismo e tecnologias sociais (LIANZA; ADDOR, 2005).
A obra de Guerreiro Ramos traz contribuições importantes e singulares para os que estão envolvidos nos estudos organizacionais, em seu ensino, no desenvolvimento ou na análise de outras possibilidades de gestão e do uso da tecnologia. Seu pensamento contribui com aqueles que querem pensar e construir uma administração mais crítica e rigorosa em termos epistemológicos.
Referências
GUERREIRO RAMOS, A. Administração e contexto brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1983.
GUERREIRO RAMOS, A. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1989.
LIANZA, S. and ADDOR, F. (Org.). Tecnologia e desenvolvimento social e solidário. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2005.
PAULA, A. P. P. Teoria crítica nas organizações. São Paulo: Thomson Learning, 2008.
Para ler o artigo, acesse
WEBERING, S. I. Os “pontos cegos” das teorias organizacionais segundo Guerreiro Ramos. Cad. EBAPE.BR, v. 17, n. 3 p. 435-447, 2019. ISSN: 1679-3951 [viewed 30 August 2019]. DOI: 10.1590/1679-395174657. Available from: http://ref.scielo.org/mqyrqx
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