Comportamento antissocial tem um papel impactante na vida de crianças dos 6 aos 11 anos

Inês Isabel Mendes de Castro Coelho, Psicóloga educacional na Escola Profissional Almirante Reis (EPAR), Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal.

Ana Cristina Neves, Professora auxiliar Convidada no Instituto Universitário Egas Moniz e Investigadora no Centro de Investigação Interdisciplinar Egas Moniz, Instituto Universitário Egas MonizAlmada, Portugal.

Sónia Caridade, Professora auxiliar na Universidade Fernando Pessoa e Investigadora no Centro Interdisciplinar de Estudos de Género (ISCSP, ULisboa), Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal.

Imagem: Robert Collins em Unsplash

O artigo “Fatores de risco de comportamento antissocial em crianças: comparação entre rapazes e garotas”, publicado no periódico Estudos de Psicologia (Campinas, vol. 37), caracterizou os fatores de risco para a ocorrência do comportamento antissocial, procurando perceber diferenças entre meninos e meninas. De forma mais específica procurou-se: analisar a frequência dos fatores e níveis de risco das crianças identificadas por comportamentos antissociais; verificar se existe associação entre o sexo, idade e tipo de comportamento antissocial e os fatores e níveis de risco. A pesquisa foi desenvolvida por pesquisadoras da Universidade Fernando Pessoa e do Instituto Universitário Egas Moniz no âmbito da dissertação de mestrado em “Psicologia da justiça: vítimas de violência e de crime”, que foi realizada entre o período de 2016 a 2018. Em Portugal, as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ’s), têm registado um aumento de comportamentos antissociais, existindo registro, também, de reincidência desses mesmos comportamentos na adolescência e vida adulta (COELHO; NEVES; CARIDADE, 2020). Neste sentido, este estudo foi desenvolvido, essencialmente, para contribuir na identificação de prioridades de intervenção, bem como apelar à importância para uma prevenção primária nas demais entidades e instituições, que exercem as suas funções em prol do bom desenvolvimento comportamental das crianças (e.g., escolas, instituições sociais, CPCJ’s) (GAVEN; LIMA, 2011).

A pesquisa é de caráter quantitativo e exploratório, descritivo e correlacional, recorrendo a medidas de heterorrelato. Recorreu-se, ainda, à técnica da consulta processual. Relativamente à amostra, a mesma foi recolhida numa Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), sendo que foram incluídos todos os processos abertos entre 1° de janeiro de 2008 a 31 de dezembro de 2015, cujo motivo de identificação estivesse relacionado com a exibição de comportamentos antissociais por crianças entre os seis e os onze anos. Assim, a amostra final do estudo foi constituída por 85 processos referentes a 65 crianças de sexo masculino (76,5%) e 20 crianças de sexo feminino (23,5%), com idades compreendidas entre os seis e os onze anos. Das 85 crianças, 39 (45,9%) foram identificadas por adoção de comportamentos antissociais de absentismo e abandono escolar; 21 (24,7%) por adoção de comportamentos antissociais violentos (e.g., agressão física); 14 (16,5%) por comportamentos antissociais de oposição na escola e em casa e, por último, 11 (12,9%) por comportamentos antissociais não violentos (e.g., ameaças). Os instrumentos utilizados neste estudo foram a versão portuguesa do Early Assessment Risk List para rapazes (EARL-20B) e o Early Assessment Risk List para raparigas (EARL-21G) (AUGIMERI et al., 2001; LEVENE et al., 2001). Estes instrumentos estão divididos em três secções – família, criança e responsividade. Em termos de procedimento, após diversas aprovações, tanto dos autores dos instrumentos, como do Comitê de Ética das Universidades e entidades parceiras, deu-se início às traduções dos instrumentos e recolha e análise de dados.

Os resultados contribuem para a identificação de prioridades de intervenção, sugerindo que estas podem ser diferentes consoante o sexo. Por outro lado, o estudo demonstrou a necessidade da existência de uma prevenção primária associada a esta problemática. Deste modo, seria importante que as demais instituições/entidades que atuam em prol do bom desenvolvimento comportamental das crianças prevenissem a ocorrência destes comportamentos (GAVEN; LIMA, 2011). Os resultados mostraram, também, que os fatores de risco tendem a acumular-se com a idade, o que confirma a importância de intervir precocemente. Neste sentido, as intervenções de caráter preventivo que se centram em fatores de risco específicos de cada sexo, bem como de diferentes contextos e populações serão as que oferecem maior sucesso para a redução do comportamento criminal futuro (COELHO; NEVES; CARIDADE, 2020).

Para concluir, sugere-se o desenvolvimento de estudos longitudinais prospetivos, de forma a prever fatores de risco associados a esta problemática, trabalhar no sentido de uma intervenção apropriada, bem como o adequado acompanhamento destas famílias e crianças. Por outro lado, e, tendo por base os resultados acima descritos, sugere-se a realização de investigações que englobem amostras de diferentes faixas etárias, não só para o estudo da comparação dos fatores de risco, mas também para auxiliar os técnicos (e.g., técnicos de CPCJ’s) na identificação de intervenções mais eficazes, consoante a faixa etária, como referido anteriormente. Relativamente à comparação entre meninos e meninas, é recomendado que sejam realizados estudos que analisem comportamentos classificados como “antissociais”, como por exemplo o bullying e outros tipos de comportamentos violentos, uma vez que estas problemáticas têm sido alvo de preocupação da atual sociedade.

Recomenda-se ainda, a leitura e estudo do site do Child Development Institute (https://childdevelop.ca/snap/), a fim de aumentar a discussão sobre o assunto mencionado nesta investigação.

A seguir, convidamos os leitores para assistir o vídeo com comentários de Inês Isabel Mendes de Castro Coelho sobre o estudo desenvolvido.

Referências

AUGIMERI, L.K., et al. Early assessment risk list for boys: EARL-20B, version 2. Toronto, ON: Earlscourt Child and Family Centre, 2001.

GAVEN, E. and LIMA, L.W. Reinserção social: processo que implica continuidade e cooperação. Serviço Social & Saúde, 2011, vol. 5, no. 11, pp. 113-129. ISSN: 2446-5992 [viewed 17 April 2020]. DOI: 10.20396/sss.v10i1.1380. Avaliable from: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/sss/article/view/1380

LEVENE, S., et al. Early assessment risk list for girls: EARL-21G, Version 1, Consultation Edition. Toronto, ON: Earlscourt Child and Family Centre, 2001.

Para ler o artigo, acesse

COELHO, I. C.; NEVES, A. C. and CARIDADE, S. Risk factors for antisocial behavior in children: comparison between boys and girls. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2020, vol. 37, e190027, ISSN 0103-166X [viewed 28 April 2020]. DOI: 10.1590/1982-0275202037e190027. Available from: http://ref.scielo.org/y86wxx

Links externos

Estudos de Psicologia (Campinas) – ESTPSI: www.scielo.br/estpsi

https://childdevelop.ca/snap/

https://unsplash.com/s/photos/children

https://www.egasmoniz.com.pt/pt-pt.aspx

https://www.ufp.pt/

Sobre Inês Isabel Mendes de Castro Coelho

Psicóloga, Mestre em Psicologia da Justiça: vítimas de violêsncia e de crime pela Universidade Fernando Pessoa (2018). Exerce as suas funções como psicóloga educacional, numa escola profissional, estando também envolvida em vários estudos/projetos internacionais relacionados com o comportamento antissocial e delinquente de crianças e jovens (e.g., Youth Empowermente and Innovation Project; SafeSchool).
E-mail: 35653@ufp.edu.pt
Linkedin: www.linkedin.com/in/in%C3%AAs-coelho-019334157

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

COELHO, I. I. M. de C.; NEVES, A. C. and CARIDADE, S. Comportamento antissocial tem um papel impactante na vida de crianças dos 6 aos 11 anos [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/05/07/comportamento-antissocial-tem-um-papel-impactante-na-vida-de-criancas-dos-6-aos-11-anos/

 

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