Como investir em novas abordagens para reduzir o estigma em relação às pessoas que usam drogas?

Joanna Gonçalves de Andrade Tostes, Doutoranda em Psicologia, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil.

Rafaela Toledo Dias, Mestra em Psicologia, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil.

Andressa Aparecida da Silva Reis, Graduada em Psicologia, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil.

Imagem: GRAS GRÜN

O que é estigma e por que falar dele? O estigma está relacionado à ocorrência de eventos que rotulam, estereotipam, desvalorizam e discriminam indivíduos que possuem alguma marca social distinguível e considerada negativa, como o uso de drogas atualmente. Quem nunca ouviu: “Usuários de crack são iguais a zumbis”, “Quem usa drogas é bandido”, “Só não para de usar porque não quer”. Esses são apenas alguns exemplos de discursos estigmatizantes relacionados às pessoas que usam drogas, presentes inclusive entre profissionais de saúde. E quais são as consequências dessa estigmatização? Efeitos negativos na saúde e na qualidade de vida dessas pessoas, tais como a diminuição da autoestima e autoeficácia, a limitação das interações sociais, o desemprego, baixa adesão aos tratamentos e procura por serviços de saúde. O estigma existe e tem sido bem documentado, mas o que é possível fazer para reduzi-lo? No estudo Interventions to reduce stigma related to people who use drugs: systematic review”, publicado no periódico Paidéia (Ribeirão Preto, vol. 30), foram investigadas intervenções para reduzir o estigma em relação às pessoas que usam drogas.

O estudo teve início em 2017, a partir dos interesses de um grupo de pesquisa sobre estigma, que integra o Centro de Referência em Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e outras Drogas (CREPEIA). A proposta ocorreu no contexto do Doutorado em Psicologia de Joanna Tostes, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Diante do intuito de desenvolver uma intervenção para minimizar o estigma de profissionais de serviços de saúde em relação às pessoas que usam drogas, a revisão sistemática foi proposta para fornecer um panorama dos estudos já realizados com esse propósito. Foram identificados 5.488 registros e, após triagem considerando os critérios de inclusão e exclusão, foram incluídos 28 artigos considerados elegíveis para análises.

Os resultados mostraram que a maioria dos estudos foram realizados no contexto internacional, sendo a população-alvo composta por profissionais, residentes, estudantes ou cuidadores da área da saúde. Todas as intervenções valeram-se de estratégias educacionais para redução do estigma, conduzidas por meio de palestras, oficinas e workshops, além de estratégias complementares. A maior parte dos estudos apontam mudanças positivas nos participantes após as intervenções, tais como atitudes mais positivas em relação às pessoas que usam drogas, melhora no otimismo sobre o tratamento e nas crenças estereotipadas.

No entanto, os estudos analisados apresentaram problemas metodológicos importantes, como a duração das intervenções, instrumentos de avaliação dos indicadores de estigma e a baixa representatividade das amostras, não apresentando evidências suficientemente fortes que permitam inferir que as intervenções propostas foram efetivas. A revisão sistemática avança, portanto, em função de sua abrangência e atualidade, ao apontar a grande lacuna na área de intervenções relacionadas ao estigma que persiste mesmo após décadas de estudos. Considerando esses resultados, torna-se fundamental o investimento em abordagens baseadas em evidências para a redução do estigma, distintas das adotadas tradicionalmente.

Referências

CORRIGAN, P. W., et al. Developing a research agenda for understanding the stigma of addictions Part I: Lessons from the Mental Health Stigma Literature. American Journal on Addictions [online]. 2016a, vol. 26, no. 1, pp. 59-66, e-ISSN: 1521-0391 [viewed 19 October 2020]. https://doi.org/10.1111/ajad.12458. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/ajad.12458

CORRIGAN, P. W., et al. Developing a research agenda for reducing the stigma of addictions. Part II: Lessons from the mental health stigma literature. American Journal on Addictions [online]. 2016b, vol. 26, no. 1, pp. 67-74, e-ISSN: 1521-0391 [viewed 19 October 2020]. https://doi.org/10.1111/ajad.12436. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/ajad.12436

RONZANI, T. M.; NOTO, A. R., and SILVEIRA, P. S. Reduzindo o estigma entre usuários de drogas. Guia para profissionais e gestores. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2014. Available from: https://www.ufjf.br/crepeia/files/2014/05/MIOLO_Reduzindo-o-Estigma_ED-ATUALIZADA-baixa.pdf

VAN BOEKEL, L. C. Stigmatization of people with substance use disorders: Attitudes and perceptions of clients, healthcare professionals and the general public. Enschede, The Netherlands: Ipskamp Drukkers, 2015. Available from: https://research.tilburguniversity.edu/files/4848865/Van_Boekel_stigmatization_09_01_2015.pdf

Para ler o artigo, acesse

TOSTES, J. G. de A., et al. Interventions to Reduce Stigma Related to People who Use Drugs: Systematic Review. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2020, vol. 30, e3022. ISSN: 1982-4327 [viewed 19 October 2020]. https://doi.org/10.1590/1982-4327e3022 . Available from: http://ref.scielo.org/6w2jsh

Links externos

CREPEIA – Centro de Pesquisa, intervenção e avaliação em álcool e outras drogas: https://www.ufjf.br/crepeia/

Facebook: https://pt-br.facebook.com/crepeia/

Paidéia (Ribeirão Preto): http://www.revistas.usp.br/paideia/

Paidéia (Ribeirão Preto) – PAIDEIA: www.scielo.br/paideia

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

TOSTES, J. G. de A, DIAS, R. T, and REIS, A. A. da S. Como investir em novas abordagens para reduzir o estigma em relação às pessoas que usam drogas? [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/11/05/como-investir-em-novas-abordagens-para-reduzir-o-estigma-em-relacao-as-pessoas-que-usam-drogas/

 

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